EUA estão entrando em recessão? Entenda 5 indicadores que medem a economia norte-americana
Temores sobre uma possível recessão nos Estados Unidos derrubaram o mercado no início de agosto
Na semana passada, as buscas pelo termo “recession” (recessão, em inglês), no Google, alcançaram o maior nível em 12 meses. Não foi à toa. Um dado interpretado como ruim sobre o mercado de trabalho americano, divulgado na sexta-feira anterior (02/08), assustou o mercado, que passou a discutir a possibilidade de que a economia norte-americana esteja se direcionado a uma retração mais forte do que o esperado.
Outros fatores contribuíram para a derrubada das bolsas na segunda-feira passada, como a alta de juros no Japão (entenda melhor aqui). Os temores se dissiparam – em parte – e a semana terminou mais tranquila. Mas afinal, quais foram os dados que levaram a essa interpretação de uma maior possibilidade de crise?
Juros e desaceleração
Em primeiro lugar, vale lembrar que os Estados Unidos estão passando por um ciclo de aperto monetário. Isso quer dizer que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) elevou sua taxa de juros, com o objetivo de controlar a inflação, que estava rodando acima da meta pretendida.
A taxa de juros mais alta leva a um enfraquecimento da economia, o que, por sua vez, ajuda a controlar a alta de preços. Ou seja: uma desaceleração econômica não só era esperada, e era o objetivo do Fed.
No entanto, o trabalho da autoridade monetária é justamente o de equilibrar dois pratos: de um lado, entregar a inflação dentro da meta, e do outro, um desemprego baixo. Mas esse equilíbrio é difícil de alcançar, e o medo do mercado é o de que, depois de manter as taxas de juros entre 5,25% e 5,50% por tempo demais, o Fed pudesse levar a uma desaceleração mais forte do que a esperada, fazendo a economia cair em uma recessão.
Desemprego: 4,3%
O dado que “acendeu a luz amarela” para o risco de recessão foi o aumento do desemprego nos Estados Unidos. Segundo o relatório conhecido como Payroll, do Departamento do Trabalho dos EUA, o desemprego subiu para 4,3% em julho, de 4,1% em junho. Os analistas projetavam que a taxa se manteria estável.
Além disso, a magnitude da alta surpreendeu. “Fato é que o mercado de trabalho norte-americano parece estar arrefecendo”, afirma André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart XP. “Isso é receita do livro de macroeconomia: o juro está alto, isso vai destruir demanda”, explica.
“A gente já via o desemprego subindo, de 3,5% na mínima desse ciclo, para 4% e agora 4,3%. Parte disso vem do aumento da força de trabalho. Tem mais pessoas procurando emprego, e não conseguem encontrar”, explica Rafael Wurzmann, head de investimentos offshore da Criteria. Esse aumento da força de trabalho vem da imigração de pessoas para os Estados Unidos. “Isso está mudando a demografia, a população está crescendo, e é o que explica também a pujança da economia. Esse movimento é positivo para normalizar o mercado de trabalho”, diz.
Para ele, o resultado do Payroll de agosto, que será divulgado na primeira semana de setembro, é crucial para entender o cenário. “O Payroll de julho teve o impacto temporário de um furacão no Texas, a dúvida é se o dado de julho é ponto fora da curva, ou tendência mais concreta”.
Projeção de aumento do PIB: +2,9%
De acordo com a estimativa de crescimento do PIB feita em tempo real pelo Fed de Atlanta, o GDP Now, a economia norte-americana deve crescer ao ritmo de 2,9% no terceiro trimestre de 2024, um ritmo forte para os Estados Unidos.
“Recessões são inevitáveis e fazem parte dos ciclos econômicos, muitas vezes eliminando excessos”, lembra Wurzmann. “A economia está em compasso de desaceleração, o que vem incomodando o mercado é qual será a magnitude da desaceleração”, diz, apesar de considerar “prematuro” dizer que os sinais apontam para uma recessão em breve.
Meirelles, entretanto, lembra: “a economia deles é muito pujante, se houver uma recessão, pode ser muito rápida, os preços podem se ajustar e economia voltar a crescer”.
Inadimplência no cartão de crédito: US$ 1,142 trilhão
“Um dos dados que mais preocupam é divida de cartão de crédito do americano e inadimplência acima de 90 dias”, diz Wurzmann. Segundo um relatório divulgado na semana passada pelo Fed de NY, a dívida de cartões de crédito foi de US$ 1,142 trilhão no segundo trimestre de 2024, uma alta de US$ 111 bilhões em comparação com o mesmo período do ano anterior. No último ano, aproximadamente 9,1% dos saldos de cartão de crédito entraram em inadimplência.
“O que a gente entende com isso? Muito provavelmente, nos últimos trimestres, para manter hábitos de consumo, o americano teve de usar o cartão, e a conta vem chegando”, explica ele.
Preço das commodities: -3,94% em um mês
Para André Meirelles, um indicador que deve ficar no radar é o preço das commodities. E no último mês, o Dow Jones Commodity Index registrou queda de 3,94%. Desde o pico registrado em maio, a queda é de mais de 10%.
“Isso não é exclusivo dos EUA, tem a ver com Europa e Ásia, mas é um dos mercados que precifica rápido” a possibilidade de recessão nos Estados Unidos, diz ele.
Inflação ao consumidor: +2,9%
A inflação nos EUA é medida por diferentes índices, e a análise de como se comportam os preços por lá precisa levar isso em conta. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,2% em julho ante junho. Em 12 meses, o CPI acumulado subiu 2,9% – a primeira vez em que a leitura anual do indicador fica abaixo dos 3% desde 2021. Já o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% em julho ante junho, abaixo da expectativa. Na comparação anual, a alta é de 2,2%. Esses dois índices são medidos pelo Departamento do Trabalho.
Já o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medido pelo Departamento do Comércio, avançou 0,1% em junho. Na comparação anual, houve alta de 2,5%. O PCE é considerado a medida de inflação preferida do Fed. “O Fed tem reiterado que segue dependente dos dados para tomar sua decisão, isso faz com que o mercado reaja de forma significativa a cada dado”, lembra Meirelles.
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