Juros devem cair nos EUA nesta semana, mas só no início de 2026 no Brasil; entenda
Projeção para o Brasil é de flexibilização dos juros no primeiro trimestre do ano que vem

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Nesta semana praticamente todas as projeções apontam para um aumento do diferencial de juros entre os Estados Unidos e o Brasil, dado que o Federal Reserve (Fed) deve cortar a taxa básica enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve tomar mais uma decisão de manutenção da Taxa Selic.
Os indicadores mais recentes de inflação e de atividade corroboram um corte de juros por parte do Fed. No início deste mês o mercado financeiro passou a precificar em 100% a probabilidade de corte pelo BC americano depois de dados do Payroll de agosto ficarem aquém do esperado – sinalizando uma desaceleração da economia em meio a um cenário de juros restritivos.
A ferramenta de monitoramento do CME Group mostrou que a chance de manutenção da taxa – que já era de menos de 1% – caiu para zero com a divulgação do indicador.
Em um passado mais recente, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos Estados Unidos subiu 0,4% em agosto, acima das expectativas do mercado. No acumulado em 12 meses, o CPI acelerou de 2,7% em julho para 2,9% em agosto.
Apesar de o indicador vir levemente acima do esperado pelo mercado, a perspectiva é de que isso não deve pesar tanto nas decisões de política monetária dos EUA.
“Embora a inflação siga acima da meta do Federal Reserve, os números de hoje não devem alterar o plano de voo da autoridade monetária. O foco permanece nos sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho, reforçados nesta semana pela revisão para baixo de mais de 900 mil vagas pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), indicando uma desaceleração maior do que a esperada”, observa Rafael Perez, Economista da Suno Research.
A avaliação é de que o dilema do Fed é equilibrar dois riscos: um deles é reduzir os juros cedo demais, correndo o risco de estimular a economia antes que a inflação esteja devidamente ancorada; o outro é esperar mais tempo para avaliar a trajetória dos preços, com a possibilidade de aprofundar a desaceleração da atividade.
“Diante da fraqueza mais evidente no mercado de trabalho, as decisões do Fed tendem a pender para o mandato ligado ao emprego e se antecipar a uma possível desaceleração maior do que o esperado da economia”, conclui Perez.
A tese compartilhada por diversos bancos é de um corte de 0,25 ponto percentual (p.p.) nos juros dos EUA, para um intervalo de 4% a 4,25% ao ano. A expectativa é de cortes em setembro em dezembro – ou até em três reuniões consecutivas.
O Bank of America (BofA) estima dois cortes, um na reunião desta semana e outro na reunião de dezembro, em revisão de cenário feita após a divulgação dos dados do mercado de trabalho.
“O relatório de empregos de agosto deve consolidar uma mudança na postura do Fed, de preocupação com a inflação para foco na fraqueza do mercado de trabalho”, disseram economistas do BofA em relatório.
Apesar disso, o BofA alertou que, se o mercado de trabalho enfraquecer significativamente mais, o Fed poderá cortar juros em sua reunião de outubro e ‘possivelmente mais’ no próximo ano.
O Morgan Stanley expressou visão semelhante, citando que para o Fed, ‘isso provavelmente se traduz em um corte de 25 pontos-base, mas inclina os riscos na direção de cortes que totalizam 75 pontos-base até o fim do ano’.
Juntamente com o Deutsche Bank, as duas casas esperam que o Federal Reserve promova cortes nas taxas de juros em todas as três últimas reuniões deste ano.
No mês passado, o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou que um corte na taxa era possível na reunião de política monetária de 16 e 17 de setembro, citando os crescentes riscos do mercado de trabalho, mas alertando que a inflação continuava sendo uma ameaça.
O Morgan Stanley disse que as condições de mercado dão ao Fed um espaço para avançar mais rapidamente em direção a uma postura política neutra.
A visão é de que o Fed provavelmente realizará quatro cortes consecutivos de 25 pontos-base nas taxas, começando na semana que vem e continuando até janeiro, com mais dois cortes projetados para abril e julho de 2026.
“Embora atualmente não tenhamos cortes adicionais nas taxas em nossa previsão para o próximo ano, dado que nossas previsões de inflação e mercado de trabalho são inconsistentes com taxas abaixo do neutro, os riscos estão distorcidos em direção a mais reduções em 2026”, disse Matthew Luzzetti, economista-chefe dos EUA no Deutsche Bank.
No Brasil, juros inalterados
No cenário doméstico, de forma praticamente unânime o mercado espera manutenção da taxa de juros por parte do Copom. Aliás, a expectativa é de que a Selic se mantenha nos mesmos 15% até o fim do ano.
A tese é endossada pelos comunicados e atas recentes do Copom, que citaram que a autoridade monetária manterá juros elevados por um período ‘significativamente longo’.
“O Copom encerrou o ciclo de alta da Selic em 15% a.a., sinalizando manutenção prolongada da taxa diante de incertezas externas e sinais ambíguos vindo da economia doméstica. Projetamos corte de juros apenas no 1º trimestre de 2026, mas riscos seguem inclinados para um corte ainda mais tardio, salvo choques desinflacionários relevantes”, disse o Itaú em sua revisão de cenário mais recente.
A casa projeta juros fechando em 15% neste ano e em 12,75% no ano de 2026.
O time de macroeconomia do C6, liderado pelo economista-chefe Felipe Salles, avalia que o BC deve manter os juros no mesmo patamar e que o Copom antecipou, em se confirmando o cenário esperado, com uma ‘continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado’.
Os especialistas do C6 avaliam que desde a última reunião algumas variáveis mudaram, a exemplo da projeção de IPCA do Focus que passou de 5,1% para 4,8% para 2025 e de 4,4% para 4,3% para 2026, e da taxa de câmbio que registrou queda de R$ 5,6 para R$ 5,4.
“Os dados mostram uma melhora no cenário prospectivo de inflação. Além disso, as expectativas de inflação para horizontes mais longos registraram leve queda, ainda que permaneçam acima da meta estabelecida. Considerando as sensibilidades dos modelos do Banco Central, acreditamos que as projeções de inflação para o horizonte relevante devem registrar leve queda”, diz o relatório do banco.
“Apesar dessa melhora, o Comitê deve justificar a manutenção da taxa de juros diante do cenário marcado por desancoragem das expectativas de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária contracionista”, completa.
Nesse contexto, a projeção é de uma flexibilização dos juros no primeiro trimestre do ano que vem, com Selic terminando 2026 em 13%.
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