Mercado

Dólar se fortalece no exterior com dúvidas sobre corte de juros nos EUA, mas real pode se beneficiar

Embora o Federal Reserve tenha reduzido os juros em 0,25 ponto percentual, o discurso cauteloso de Jerome Powell esfriou as expectativas para um novo corte em dezembro, segundo João Sá, da Arton

O Federal Reserve (Fed) cortou nesta quarta-feira (29) a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, levando o intervalo para 3,75% a 4% ao ano. O movimento já era amplamente esperado pelo mercado, que também precificava um novo corte de mesma magnitude em dezembro. Mas o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, colocou o “pé no freio” das expectativas – e trouxe mais dúvidas do que certezas.

Segundo João Sá, co-head de investimentos da Arton, “o mercado esperava praticamente 100% de chance de corte hoje e também em dezembro. Mas, após o discurso, as apostas para a próxima reunião caíram para cerca de 65%”. Ele lembra que Powell costuma adotar um tom conservador. “Naturalmente, ele é mais pessimista e evita dar certeza sobre movimentos futuros”, avalia. Sá lembra que houve divergência entre os votantes desta reunião, o que reforça o tom de cautela quanto à próxima decisão.

Mesmo assim, a Arton ainda mantém a projeção de mais um corte neste ano e outros três em 2026. “Não tivemos surpresas relevantes de inflação. O momento de tarifas é passageiro e ainda há espaço para queda de juros”, diz.

No entanto, a fala do presidente do Fed mexeu com o mercado. O dólar medido pelo índice DXY, que compara a moeda americana a uma cesta de seis moedas, deu um salto, e encerra o dia com alta perto de 0,50%.

Para Sá, o dólar voltou a ganhar força globalmente nas últimas semanas, impulsionado também pela fraqueza de outras economias. “O dólar vem ganhando momentum contra o mundo, muito porque outras regiões vem perdendo. O desempenho de regiões como a França não abre espaço para o euro se fortalecer frente ao dólar”, comenta Sá.

No entanto, frente ao real, o cenário é diferente. “Se houver mais clareza sobre a continuidade da queda dos juros nos EUA, o dólar tende a enfraquecer aqui, por conta do diferencial de juros. Ainda não há certeza sobre quando a Selic cairá de novo, mas a tendência é o real se valorizar nesse cenário.”

Para Sá, “o juro real brasileiro continua muito atrativo. Mesmo com inflação controlada, a taxa de retorno é um verdadeiro paraíso para o investidor estrangeiro”.

Bolsa americana segue com fundamentos sólidos

Apesar da decepção com o tom de Powell, o gestor acredita que o mercado acionário americano segue em terreno firme. “O discurso foi pontual, sem sinalizações claras sobre dezembro. Ele raramente antecipa decisões, prefere avaliar os dados com calma”, diz Sá.

Segundo ele, a temporada de balanços tem sustentado o otimismo. “Os resultados dos bancos vieram acima das expectativas, e empresas de tecnologia, como o Google, divulgaram resultados sólidos. As expectativas do mercado com essa temporada de balanços são positivas, e mesmo assim as empresas têm conseguido superar as expectativas.”

Com isso, ele afirma que a classe de ativos continua relevante nas carteiras. “Os Estados Unidos ainda são a única grande economia com crescimento robusto e empresas surpreendendo positivamente. É um mercado em que ainda há oportunidades e espaço nas carteiras dos investidores.”

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