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Fed admite revés na inflação e mantém juro, mas indica pouco apetite para mais aperto

Instituição afirma que "houve falta de mais progresso" para estabilizar os preços nos últimos meses

Fed mantém juro entre 5,25% e 5,50%. Foto: Pixabay
Fed mantém juro entre 5,25% e 5,50%. Foto: Pixabay

Ao manter juros mais uma vez na faixa entre 5,25% e 5,50%, o Federal Reserve (Fed) reconheceu a recente persistência da inflação nos Estados Unidos com o diagnóstico de que “houve falta de mais progresso” em direção à estabilidade de preços nos últimos meses. Mas o presidente da instituição, Jerome Powell, indicou ser “improvável” que o próximo ajuste seja um aumento da taxa básica, ao mesmo tempo em que a autoridade monetária anunciou desaceleração do aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) mais agressiva do que o esperado.

O aparente contraste se traduziu em oscilações bruscas nos mercados internacionais. As bolsas de Nova York chegaram a subir mais de 1%, mas apagaram os ganhos na reta final e terminaram sem direção única. Os rendimentos dos Treasuries se afastaram das mínimas do dia, ainda que a curva futura tenha antecipado a aposta majoritária para o começo do afrouxamento monetário. Pelo monitoramento do CME Group, setembro voltou a ver mais de 50% de chance de ter juros abaixo do nível atual.

Ainda assim, a mensagem deixada pela comunicação do Fed diverge amplamente do posicionamento visto menos de dois meses atrás, quando o gráfico de pontos mostrava que a maioria dos dirigentes do BC americano previa três cortes de juros em 2024. Powell enfatizou que deve demorar mais tempo até que haja a confiança necessária para justificar um alívio monetário. “Estamos preparados para manter a meta atual da taxa dos Fed funds pelo tempo que for apropriado”, disse.

Powell acrescentou que a resistência dos preços poderia forçar a instituição a manter a postura atualmente em vigor, mas evitou descartar completamente a possibilidade de uma guinada para um relaxamento. Destacou que “há caminhos possíveis” tanto para cortes quanto para manutenção e reforçou que a política está bem posicionada para lidar com os riscos. Também citou uma deterioração significativa do mercado de trabalho como um fator que eventualmente levaria a um corte, embora tenha ponderado que um simples aumento do desemprego seria insuficiente.

Para o Commerzbank, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) está mais cauteloso em relação aos próximos movimentos. Afinal, a inflação continuará sendo um problema difícil de ser solucionado enquanto a maior economia do planeta exibindo desempenho sólido, no entendimento do banco alemão. “Esperamos, portanto, o primeiro corte nos juros apenas em dezembro”, prevê.

O Wells Fargo, por sua vez, avalia que o Fed busca ganhar tempo para entender a dimensão do recente revés inflacionário. A instituição financeira americana lembra que, ao longo das últimas semanas, dirigentes do BC americano mostraram que não têm pressa para baixar a taxa básica, sobretudo após as leituras do primeiro trimestre. Assim, para o banco americano, o primeiro corte só ocorrerá daqui três reuniões, em setembro.

Powell é evasivo

Em uma análise sobre as falas de Powell, o economista-chefe do Stander para os EUA, Stephen Stanley, considera que o banqueiro central tergiversou nas respostas aos jornalistas. Questionado sobre se a política está suficientemente restritiva, Powell se limitou a dizer que os juros estão fazendo seu trabalho, sem tomar uma posição mais clara.

Mais tarde, Powell também se esquivou de questionamentos sobre se ainda há tempo para entregar os três cortes de juros sinalizados pelo gráfico de pontos, nem comentou diretamente o relaxamento das condições financeiras observado no final do ano passado.

Na visão de Stanley, o chefe da autoridade monetária não estava confortável em falar desses assuntos. “O seu ponto principal é que o FOMC acredita agora que levará mais tempo para que ganhem a ‘maior confiança’ necessária para reduzir os juros (só não peça detalhes!)”, ironiza.

Em relação aos planos para o balanço de ativos, Powell ressaltou que o pé no freio no ritmo de redução não equivale a um afrouxamento monetário. Para ele, o objetivo é evitar efeitos secundários como um choque no mercado monetário de curto prazo.

Sobre esse aspecto, o Fed anunciou que vai diminuir a redução de Treasuries de US$ 60 bilhões por mês para US$ 25 bilhões a partir de junho. O BMO esperava que a instituição tivesse sido um pouco mais gradual, com um arrefecimento para US$ 30 bilhões. Mesmo assim, o banco de investimentos nota que o Fed ainda está bem longe de um relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês).

O Bank of America (BofA) acredita que a reação inicial de investidores não foi exatamente ao anúncio do QT, que superou um pouco as expectativas, mas não por uma margem considerável. Os analistas do banco consideram que a medida já havia sido bem “telegrafada” anteriormente. Por isso, de acordo com a análise, o foco foi mais nos comentários de Powell. “Ainda achamos que a barra para justificar aumentos de juros é alta, e Powell pareceu corroborar isso em seus comentários”, diz.

*Por André Marinho, Agência Estado.

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