Mercado

Indústria volta a recuar em novembro; governo fala em retomar protagonismo do setor

O desempenho segue 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia. Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio - Geraldo Alckmin - defendeu o processo de reindustrialização do país

Foto: Paulo Whitaker/Reuters
O desempenho ficou igual as estimativas do mercado. Foto: Paulo Whitaker/Reuters

A produção industrial voltou a cair em novembro, após um leve respiro positivo no mês anterior. O setor encolheu 0,1% na comparação com outubro, segundo os dados divulgados nesta quinta-feira, 05/01, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho veio um pouco acima das estimativas do mercado que apontavam para uma queda de 0,2%. Em outubro, o setor avançou 0,3% após dois meses consecutivos de taxas negativas.

Com esse resultado, a indústria brasileira segue 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Na comparação com novembro de 2021, houve crescimento de 0,9% e no ano queda de 0,6%. O gerente da pesquisa, André Macedo, explica que o setor segue em um viés negativo nos últimos seis meses com quatro taxas negativas e apenas duas de leve crescimento.

“Isso mostra o setor girando em torno de um mesmo patamar, mas com um viés negativo, já que a média móvel trimestral está em queda pelo quarto mês seguido e mostra uma trajetória decrescente muito clara”, explica. Em novembro a média móvel trimestral – que mostra uma tendência para os próximos meses – ficou negativa em 0,2%, após também recuar em outubro (-0,4%), setembro (-0,3%) e agosto (-0,2%).

O início de 2022 foi mais positivo para a indústria – como podemos observar no gráfico acima. Segundo o gerente da pesquisa do IBGE, essa melhora só foi possível diante das medidas de incremento de renda e impulsionamento do setor implementadas pelo governo. No entanto, isso não durou.

“A recuperação, no entanto, foi pontual. Posteriormente, ainda tendo como pano de fundo inflação alta, especialmente de alimentos, elevado número de trabalhadores fora do mercado de trabalho, precarização dos postos de trabalho e uma massa de rendimentos que avançou muito pouco, o setor industrial voltou a mostrar perda de ritmo”, explica Macedo.

A crise da indústria

A indústria brasileira tem enfrentado uma crise sem precedentes com a constante perda de espaço do setor na economia do país. O tema foi tratado pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB) que tomou posse como ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). No discurso de posse, Alckmin defendeu um processo de reindustrialização pautado pelo desenvolvimento sustentável e com justiça social.

“A indústria brasileira precisa urgentemente retomar seu protagonismo, expandindo sua participação no PIB (…) sejamos claros quanto aos nossos propósitos: a hora é de união e reconstrução, o esforço é reindustrializar o Brasil. É imperativo o estabelecimento de uma política de apoio à economia de baixo carbono. O Brasil pode e será o grande protagonista no processo de descarbonização da economia global”.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o principal desafio para a retomada do setor é construir uma política industrial moderna, de baixo carbono e pronta para o ingresso do país na 4ª Revolução Industrial. Para Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, o país precisa de uma política industrial de longo prazo para uma retomada sustentável.

“A recuperação da economia nacional passa por melhores condições para a indústria retomar seu fôlego, voltar a produzir em plena capacidade, competir de maneira mais eficiente e voltar a crescer. Isto porque o setor é o que mais dinamiza a economia, paga mais impostos, gera melhores empregos, induz a inovação e contribui para o aumento da competitividade dos demais segmentos”, explica.

Reforma Tributária

Geraldo Alckmin também afirmou que o fortalecimento da indústria passa pela redução do custo Brasil e que, para isso, é fundamental aprovar uma reforma tributária. Disse ainda que a política de comércio exterior passa pela desburocratização, financiamento, promoção comercial, acordos e a derrubada de barreiras externas.

“Vamos buscar abertura de novos mercados para bens e serviços. Aumento da base exportadora do Brasil com a inclusão de empresas de menor porte. Mais destinos e mais valor agregado para as exportações. (…) O Brasil é um grande competidor no comércio de bens agrícolas, e isso é importante. Já para as manufaturas, a participação do Brasil é de apenas 0,5%, sendo apenas o 22º exportador mundial”, explicou.

Desempenho dos setores em novembro

Dos 26 ramos da indústria pesquisados pelo IBGE, 11 mostraram queda na produção na passagem de outubro para novembro. As influências negativas mais importantes vieram de indústrias extrativas (-1,5%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-6,5%).

Para André Macedo, gerente da pesquisa, a queda na produção de eletrodomésticos – como televisores – pode estar relacionada a um movimento de compensação após a o aumento das vendas para a Copa do Mundo.

“No entanto, não se pode tirar de vista que a economia mostra sinais de perda de intensidade, com taxas de inadimplência em patamares altos, taxa de juros em elevação, e, especialmente os bens de consumo duráveis, embora tenham uma associação também com a renda, têm também uma relação direta com a evolução do crédito. Esses fatores inibem o consumo na ponta final e consequentemente afetam a produção”, analisa.

Do lado positivo, ficaram os produtos alimentícios (3,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (4,4%), bebidas (10,3%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (2,8%) exerceram os principais impactos.

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