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Inflação encerra 2022 acumulada em 5,79%; alimentação é a vilã

É a quarta vez consecutiva que a inflação fica acima da meta - que no ano passado era de 3,5%. Alimentação e bebidas tiveram o maior impacto e avançaram 11,64%

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a inflação oficial do país, acelerou para 0,62% em dezembro, acima da alta de 0,41% no mês anterior. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foram divulgados nesta terça-feira, 10/01.

Com o resultado, o Brasil encerra 2022 com inflação acumulada de 5,79% – acima da meta (3,5%) e do teto da meta (5%) definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). É o quarto ano consecutivo, segundo o IBGE, em que o país fechou os doze meses com alta de preços superior à meta. Importante notar também que embora tenha estourado o teto da meta, o valor ficou bem abaixo do registrado em 2021, que foi de 10,06%.

Gráfico IPCA 2022 Mês a mês

Diante do descumprimento da meta de inflação, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, terá que escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para que não precisasse se justificar, o IPCA em 12 meses deveria ter ficado, no máximo em 5%. Este é o segundo ano seguido que a autoridade monetária precisa se explicar por não ter entregado a inflação na meta.

Antes de Campos Neto, apenas Henrique Meirelles – em 2002 e 2003 – escreveu a carta para se justificar por duas vezes seguidas.

Gráfico IPCA Meta

De acordo com o IBGE, dos nove grupo de produtos e serviços pesquisados em 2022, sete tiveram alta no ano, sendo que seis deles ficaram acima do índice geral. Transportes e comunicação foram os únicos com deflação em 2022.

Veja abaixo as variações de cada grupo em 2022:

  • Vestuário: 18,02%
  • Alimentação e bebidas: 11,64%
  • Saúde e cuidados pessoais: 11,43%
  • Artigos de residência: 7,89%
  • Despesas pessoais: 7,77%
  • Educação: 7,48%
  • Habitação: 0,07%
  • Transportes: -1,29%
  • Comunicação: -1,02%

Alimentos e bebidas pesam mais

O maior impacto na inflação de 2022 veio do grupo Alimentação e bebidas que avançou 11,64%. A alimentação no domicílio foi a que mais pesou no bolso dos brasileiros no ano passado, subiu 13,23% – bem acima da alimentação fora de casa que subiu 7,47%.

A principal alta de preços na alimentação nos lares do país foi da cebola, que avançou 130,14% no ano – o maior valor entre os 377 produtos e serviços pesquisados para composição do IPCA. A segunda maior partiu do leite longa vida, com alta de 26,18%. Outros alimentos com aumento relevante de preços foram a batata-inglesa (51,92%), as frutas (24%) e o pão francês (18,03%).

“No caso da cebola, a alta está relacionada à redução da área plantada, ao aumento do custo de produção e a questões climáticas. Já os preços do leite subiram de forma mais intensa entre março e julho de 2022, quando a alta acumulada no ano chegou a 77,84%. A partir de agosto, com a proximidade do fim do período de entressafra, os preços iniciaram uma sequência de quedas até o final do ano, sendo a mais expressiva delas em setembro (-13,71%)”, explica o analista do IPCA, André Almeida.

Na alimentação fora do domicílio, o lanche acumulou alta de 10,67%, quase o dobro da refeição, que subiu 5,86% no ano.

Saúde e cuidados pessoais

Saúde e cuidados pessoais teve o segundo maior impacto nos preços no ano passado. O grupo avançou 11,43% e teve a principal contribuição dos itens de higiene pessoal que subiram 16,69%, em especial os perfumes (+22,61%) e os produtos para cabelo (+14,97%).

O reajuste dos planos de saúde também impactou na inflação do grupo em 2022. Os preços subiram, em média, 6,90%. Importante destacar a alta de 13,52% dos produtos farmacêuticos.

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Preço de roupas avança forte

A maior variação de preços em 2022 veio do grupo Vestuário que avançou forte 18,02% – com altas acima de 1% em 10 dos 12 meses do ano. Os vilões foram as roupas femininas e masculinas que subiram 21,35% e 20,77%, respectivamente.

Para o analista do IBGE, o preço do algodão – uma das principais matérias-primas do setor e que teve alta acentuada entre abril de 2020 e maio de 2022 – explica esse avanço nos preços.

“Os custos de produção subiram e houve uma retomada da demanda após a flexibilização das medidas de isolamento social decorrentes da pandemia de Covid-19”, afirma André Almeida.

Outros itens que pressionaram a inflação do vestuário foram roupas infantis (+14,41%) e calçados e acessórios (+16,83%). Na outra ponta, as joias e bijuterias (3,67%) tiveram a menor variação entre os itens pesquisados.

Transportes tem impacto negativo

O grupo Transportes teve a maior queda – menos 1,29% – e o impacto negativo mais intenso entre os nove grupos pesquisados pelo IBGE. Essa redução foi puxada artificialmente pelo governo federal que limitou a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de itens como diesel, gasolina, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo.

O preço da gasolina despencou 25,78% e foi responsável pelo impacto negativo mais intenso entre os 377 subitens que compõem o IPCA.

“Os preços da gasolina caíram de forma mais expressiva entre os meses de julho e setembro, em decorrência de uma série de reduções no preço do combustível nas refinarias e da aplicação da Lei Complementar 194, que limitou a cobrança de ICMS sobre os combustíveis pelos estados”, complementou o IBGE em nota.

Apesar do resultado negativo, os transportes tiveram altas muito expressivas que impactaram o bolso dos brasileiros em 2022. O maior deles foi o avanço de 22,59% nos emplacamentos e licenças. A alta do IPVA em 2022 se deve sobretudo ao aumento no preço dos automóveis em 2021, já que a cobrança é baseada no valor venal dos veículos no final do ano anterior.

Os preços dos automóveis novos (+8,19%) e usados (+2,30%) continuaram subindo em 2022, embora em ritmo menor que o registrado em 2021 (+16,16% e +15,05%, respectivamente). O avanço forte, de 23,53% nos preços das passagens aéreas também foi outra contribuição positiva relevante para o grupo.

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