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Leilão de dólar e swap: como funcionam esses mecanismos e por que o BC atua no câmbio?

Entenda os instrumentos que o Banco Central tem à disposição para influenciar o câmbio

A alta do dólar não assusta apenas quem pretende viajar para o exterior. O câmbio afeta também empresas exportadoras, importadoras e toda a economia brasileira, com impacto direto na inflação. Desde a semana passada, o Banco Central voltou a intervir com mais frequência nesse mercado, para tentar “acalmar” os ânimos e amenizar a volatilidade.

Há dois instrumentos principais à disposição do BC: o swap cambial e o leilão de dólar à vista.

Como funciona o swap cambial?

A palavra swap pode ser traduzida para o português como troca. Um contrato de swap cambial troca a variação do dólar por outra taxa, em um prazo determinado.

Funciona como uma proteção, também conhecida como hedge, ou um seguro. O Banco Central se compromete a pagar ao comprador do contrato de swap a variação do dólar. Em troca, quem compra esse contrato de swap se compromete a pagar ao BC a Selic acumulada para esse prazo, previamente determinado.

O que acontece no vencimento do contrato depende de como variou o câmbio: se a variação do dólar foi maior do que a Selic, o BC paga ao comprador a diferença entre as duas taxas. Se, ao contrário, o dólar cair ou subir menos do que a taxa básica de juros, é o comprador do swap quem paga ao BC a diferença.

“O swap cambial é um contrato para a troca de riscos. O BC oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento e, no vencimento, a contraparte paga uma taxa de juros”, explica Carla Beni, professora de MBAs da FGV. “Isso serve para dar proteção a agentes que têm dívida em moeda estrangeira. Caso o dólar suba, eles recebem essa diferença, paga em real.”

Como funciona o leilão de dólar à vista?

“A venda à vista é uma oferta direta da moeda das reservas internacionais [do BC]”, explica Beni. Entretanto, não é qualquer um que pode comprar dólares nessas ofertas. O BC tem uma lista dos chamados dealers de câmbio, que são instituições financeiras autorizadas a operar nesse mercado. São essas instituições que compram os dólares ofertados pela autoridade monetária e revendem ao mercado em geral.

Como o swap cambial e o leilão afetam a cotação do dólar?

O efeito na cotação do dólar vem da lei da oferta e demanda. No caso do leilão, o BC aumenta diretamente a oferta de dólares na economia. No caso do swap, é como se a autoridade monetária estivesse vendendo dólares, mas no mercado futuro.

Além disso, no caso do swap, o BC oferece às empresas e agentes do mercado um seguro, como se “travasse” um preço máximo para determinada quantidade da moeda americana no futuro. “Quando o BC oferece swaps cambiais, ele está, essencialmente, oferecendo proteção (hedge) contra a alta do dólar. Isso reduz a pressão de demanda por dólares no mercado futuro, ajudando a estabilizar ou até reduzir a cotação da moeda americana”, explica Luiz Felipe Bazzo, CEO do Transferbank.

Assim, quem vai precisar de dólares nos próximos meses consegue se planejar com o preço fixo e não precisa mais correr para adquirir os dólares no presente, o que acabaria aumentando ainda mais a velocidade da alta. “[O swap] atua no mercado futuro, influenciando as expectativas sobre o dólar e reduzindo a pressão sobre o câmbio ao oferecer proteção aos agentes financeiros”, diz Bazzo.

De acordo com ele, o BC escolhe entre um ou outro com base nas condições do mercado e nos objetivos de política monetária. O swap tende a ser a escolha preferida, já que não altera diretamente as reservas internacionais do Banco Central – a diferença no fim do contrato é liquidada em reais, não em dólares. “O BC pode optar por swaps quando deseja fornecer hedge ao mercado e acalmar as expectativas de alta do dólar, sem reduzir o estoque de dólares do país”, afirma.

Por que o BC atua no mercado de câmbio?

Uma das funções do Banco Central é ser o banco do câmbio, lembra Carla Beni. “Desde 1999, o Brasil adota o regime de câmbio flutuante administrado por metas de inflação”, diz ela. As intervenções no mercado cambial, portanto, ocorrem porque o câmbio é um componente inflacionário e gera inflação de custos. “Caso a elevação do câmbio possa vir a impactar muito o processo inflacionário, o BC pode fazer intervenções, para cima ou para baixo”, explica a professora.

Vale lembrar, inclusive, que o BC pode atuar tanto quando o dólar está subindo muito rápido quanto quando está se desvalorizando muito rápido – nesse último caso, a autoridade monetária pode entrar no mercado comprando a moeda estrangeira.

Bazzo lembra ainda que nessas operações, o BC tem como objetivo garantir a liquidez, ou seja, “para que empresas e instituições possam realizar transações internacionais sem dificuldade”.

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