Mercados financeiros hoje: bolsas ensaiam recuperação após temores de recessão nos EUA
No Brasil, foco de investidores é a ata do Copom
A divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de julho será acompanhada pelos investidores, sobretudo a percepção do colegiado a respeito do balanço de riscos para a inflação e o detalhamento do cenário traçado para o novo horizonte relevante do Banco Central, referente ao primeiro trimestre de 2026. Dados da balança comercial do Brasil e dos Estados Unidos também estão previstos na enxuta agenda desta terça-feira. Entre os resultados corporativos, o destaque é o balanço do Itaú Unibanco.
Exterior
Os mercados futuros de ações em Nova York ensaiam uma recuperação nesta terça-feira, após um avanço no setor de serviços nos EUA amenizar ontem as preocupações com uma possível recessão no país e especulações sobre corte antecipado de juros nos EUA em reunião extraordinária antes de setembro. Com isso, as bolsas asiáticas fecharam em alta, com a de Tóquio saltando 10,9%, após o índice japonês Nikkei cair mais de 12%, o maior tombo diário desde outubro de 1987. Na Europa a abertura foi positiva, com investidores de olho ainda no avanço de 3,9% das encomendas à indústria alemã em junho, bem maior do que o esperado, e o primeiro resultado positivo do ano. Contudo, os mercados europeus viraram para baixo, reagindo à queda inesperada nas vendas no varejo na zona do euro em ambiente de incertezas no Oriente Médio.
O petróleo ensaia uma recuperação em meio ainda a incertezas sobre o ritmo de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed). Monitoramento do CME Group mostra que as chances de que o BC americano reduza a taxa básica em 50 pontos-base em setembro seguem superiores a 80%. Porém, permanecem divididas, mas acima de 50%, as apostas de que o alívio monetário total neste ano seja de 125 pontos-base. Ontem, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, confirmou expectativa por corte de juros nas próximas reuniões, mas evitou se comprometer com uma data específica para a abertura do ciclo de relaxamento monetário, nem com um ritmo para o alívio. Daly reconheceu que a economia dos Estados Unidos está “reduzindo a marcha”, mas indicou que nenhum dos indicadores de emprego que acompanha aponta “alerta vermelho”. Apesar da reação do mercado ao payroll fraco da última sexta-feira, Daly viu sinais de que o processo de arrefecimento do mercado de trabalho poderá acontecer sem uma contração brusca. Os juros dos Treasuries exibem leves altas, enquanto o dólar também sobe frente outras moedas principais.
Brasil
O mercado de juros pode oscilar para cima em meio à recuperação do dólar, dos rendimentos dos Treasuries e da leitura da ata do Copom. Na semana passada, o colegiado deixou inalterada a taxa Selic em 10,50% ao ano pela segunda vez seguida, após sete cortes consecutivos de 0,50 ponto porcentual. Apesar de ter ressaltado no comunicado que “permanecem fatores de risco em ambas as direções”, o comitê adicionou dois novos vetores de alta ao balanço, relacionados à desancoragem das expectativas de inflação por um tempo mais prolongado e à persistência na depreciação da taxa de câmbio. O risco de alta referente à resiliência na inflação de serviços, apontado na ata de junho, se manteve. A expectativa maior dos economistas fica principalmente na descrição sobre esses três riscos de alta dos preços.
Na Bolsa, o tom positivo em Wall Street é bom prenúncio para a abertura do Ibovespa em meio à espera de balanços, como o do Itaú Unibanco, mas a queda de 1,42% do minério de ferro na China é contraponto, e pode pesar também nos papéis da Vale. Já o petróleo se recupera parcialmente do tombo recente, mas pode ser insuficiente para dissipar a volatilidade das ações da Petrobras. Os papéis da petroleira podem ser influenciados ainda por informações sobre pagamento de dividendos, às vésperas da publicação do balanço do segundo trimestre, nesta quinta-feira, o primeiro resultado sob a gestão da Magda Chambriard, atual presidente da estatal. Para o Citi, a tese de investimento da Petrobras passou a destacar dividendos e governança.
No câmbio, o dólar pode ficar volátil, apesar da influência externa ser de alta. Alguns economistas veem chances de a moeda americana atingir R$ 6,00, se aumentar a incerteza sobre a economia dos EUA. No entanto, ponderam que há uma série de dados a serem divulgados até a próxima reunião do Fed em 17 e 18 de setembro e uma reversão parcial da depreciação do real não é descartada nesse meio tempo.
Em relação às contas públicas, o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, assegurou ontem que o governo vai cumprir o arcabouço fiscal cortando despesas, tendo mais eficiência nos gastos e, com isso, permitir a redução da taxa de juros, mais crescimento e investimentos, na abertura do congresso Aço Brasil, organizado pela indústria siderúrgica em São Paulo. Ao falar sobre a desoneração da folha de pagamentos, que está na pauta do Senado nesta quarta-feira, 7, Alckmin defendeu que o benefício precisa ser compensado. “Podendo desonerar, ótimo, mas sou da linha da responsabilidade fiscal. Para reduzir receita, precisa reduzir despesa. O que não pode é fazer déficit, aí tem juros mais altos e inflação. É preciso ter responsabilidade fiscal, que é dever de todos”, afirmou.
*Agência Estado