Mercado

Mercados financeiros hoje: exterior indica moderação após juros estáveis na China

No Brasil, investidores acompanham Campos Neto e Haddad

Palestras do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no evento Macro Day 2024, do banco BTG Pactual, devem ganhar os holofotes dos mercados nesta terça-feira de agenda esvaziada de indicadores econômicos. Em Brasília, o projeto de lei que trata da desoneração da folha de pagamentos de setores econômicos e prefeituras está na pauta de votações do dia do plenário do Senado. E o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, deve conduzir a primeira reunião com os representantes do Congresso, Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado) e do governo para buscar um acordo sobre a execução das emendas impositivas, suspensas por decisão unânime da Corte na semana passada que exige a adoção de medidas de transparência e rastreabilidade das emendas. No exterior, as atenções se voltam à tarde para comentários de dois dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA).

Exterior

As bolsas na China e em Hong Kong fecharam em baixa nesta terça-feira, após o BC chinês (PBoC) deixar suas principais taxas de juros inalteradas. A chamada taxa de juros de referência para empréstimos (LPR) de 1 ano foi mantida em 3,35%, enquanto a de 5 anos permaneceu em 3,85%. No mês passado, ambas haviam sido cortadas em 10 pontos-base. A decisão monetária chinesa acirra a preocupação com a demanda da segunda maior economia mundial. Os contratos futuros do petróleo ensaiam recuperação, após ampliarem mais cedo perdas das duas sessões anteriores, após Israel aceitar proposta de cessar-fogo e libertação de reféns em Gaza, ajudando a aliviar temores sobre cortes na produção do Oriente Médio. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou ontem que Israel aceitou uma proposta de cessar-fogo para a guerra em Gaza, mas não detalhou a posição do Hamas, que está no radar dos investidores.

Em Nova York, os ajustes dos ativos financeiros são amenos, diante da espera pela ata da reunião de julho do Fed, amanhã, e pelo discurso do presidente do BC americano, Jerome Powell, no simpósio Jackson Hole, na sexta. Há esperanças entre investidores de que Powell traga novos sinais nesta semana de que o Fed vai reduzir os juros em setembro e buscam pistas sobre qual seria a intensidade neste ano.

Os índices futuros americanos exibem sinais difusos, com Dow Jones em queda, enquanto S&P 500 e Nasdaq sustentavam ligeiros ganhos, após oito pregões consecutivos de altas, a melhor sequência deste ano. Os juros dos Treasuries oscilam sem direção única e o índice DXY do dólar ante seis moedas desenvolvidas segue em queda leve, depois de cair ao menor valor desde 2 de janeiro, com os players à espera ainda hoje de falas de dirigentes do Fed à tarde.

Na Europa, as bolsas exibem sinais divergentes, mas ampliaram perdas após sequência de ganhos em algumas das principais praças da região e repercutindo dados de inflação da zona do euro e um corte de juros na Suécia. A Eurostat confirmou que taxa anual de inflação ao consumidor (CPI) da zona do euro acelerou levemente em julho, a 2,6%, em um momento que o Banco Central Europeu (BCE) considera a possibilidade de voltar a cortar juros, após a redução inicial de junho. Já o Riksbank, como é conhecido o BC sueco, reduziu seu juro básico em 25 pontos-base, a 3,5%, e sinalizou que poderá cortá-lo mais duas ou três vezes este ano “se a perspectiva de inflação seguir inalterada”.

Brasil

Altas de 1,21% do minério de ferro na China e um ensaio de melhora do petróleo sugerem fôlego ao Ibovespa e alívio para o dólar, após recorde histórico da bolsa ontem e recuo da moeda americana a R$ 5,41. O desempenho lateral dos ativos financeiros em Nova York, à espera de sinais do Fed sobre a política monetária, pode conter o ímpeto local. Os juros futuros tendem a oscilar entre margens mais estreitas e as atenções ficam nas mensagens do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central em evento do BTG Pactual, em São Paulo.

Após declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçando que uma alta de juros “está na mesa” do BC, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, diz em entrevista à jornalista Miriam Leitão, do jornal O Globo, que o Comitê de Política Monetária (Copom) não quis antecipar o que acontecerá na próxima reunião. Contudo, Campos Neto afirmou que a situação internacional melhorou muito nas últimas semanas e alerta que o mercado está falando em alta de juros, mas os economistas não. O presidente do BC disse ainda que esteve muito perto de intervir no câmbio, após alta recente do dólar acima dos R$ 5,70 no início de agosto.

Pesquisa do Projeções Broadcast aponta que a mediana do mercado continua a indicar Selic em 10,5% no fim de 2024, mas cresceu a expectativa de uma retomada do aperto monetário ainda este ano, após os discursos mais duros de Galípolo e Campos Neto sobre expectativas de inflação desancoradas e dos dados mais fortes que o esperado da atividade doméstica no segundo trimestre, em um ambiente de volatilidade intensa no câmbio. Entre 61 casas consultadas pelo Projeções Broadcast, 26 (ou 42%) veem ao menos uma elevação do juro até dezembro. Essa proporção era de 2% (uma de 45 casas consultadas) no último levantamento, de 6 de agosto, após a divulgação da ata da reunião de julho do Comitê de Política Monetária (Copom).

*Agência Estado