Mercados financeiros hoje: geopolítica e espera por dado de inflação nos EUA limitam ajustes
No Brasil, investidores observam mais um discurso de Galípolo
Após ruídos na comunicação do BC na semana passada, o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo volta aos holofotes do mercado financeiro nesta segunda-feira. Dados de transações correntes e IDP de julho também serão acompanhados, além de reunião extraordinária do CNPE com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve assinar decreto que regulamentará regras do setor de gás natural no País. Nos próximos dias, saem ainda o IPCA-15, os resultados do Governo Central e do setor público consolidado, além dos relatórios do mercado de trabalho Caged e Pnad Contínua. A questão fiscal ganha relevância ainda com o envio pelo governo do Projeto de Lei Orçamentário Anual (PLOA) de 2025 ao Congresso até sexta-feira, 30 de agosto. Na agenda internacional, os destaques são o balanço da Nvidia; o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), métrica de inflação preferida do Federal Reserve (Fed), além da inflação na zona do euro e o lucro industrial na China.
Exterior
Os contratos futuros de petróleo e o ouro futuro avançam nesta segunda-feira e o metal volta a se aproximar de recorde histórico, com a busca por segurança gerada por tensões no Oriente Médio, após um final de semana marcado por ataques mútuos entre Israel e o Hezbollah. As agressões mútuas foram interrompidas por enquanto, mas o estado de alerta permanece na região. A retração dos juros dos Treasuries nesta manhã também apoia as commodities, depois da sinalização do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, de que “chegou a hora” de cortar juros.
Em Nova York, o apetite por risco diminuiu e os futuros das Bolsas têm ganhos moderados, enquanto o dólar exibe viés de alta frente seus pares rivais, depois de ceder na sexta-feira ao seu menor nível ante o euro desde julho de 2023 e ante a libra desde março de 2022. Na Europa, as bolsas apresentam sinais divergentes, mas prevalece viés negativo após dado de sentimento empresarial na Alemanha e tensões no Oriente Médio reverterem o bom humor por perspectivas de cortes de juros nos Estados Unidos.
O índice Ifo de sentimento das empresas alemãs caiu menos que o esperado em agosto, mas a Bolsa de Frankfurt recua. O indicador é mais um sinal de que a maior economia europeia enfrenta um quadro de “estagnação sem fim”, na visão do ING. Em Jackson Hole, além de Powell, dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) também indicaram que podem voltar a reduzir a taxa básica no mês que vem. A liquidez pode ser afetada na região pelo fechamento dos mercados no Reino Unido por conta de um feriado e, ao longo da semana, serão monitorados dados de inflação na Alemanha e na zona do euro, além de indicadores de confiança.
Brasil
Os investidores vão acompanhar hoje uma palestra de Galípolo, principal cotado para indicação à presidência da autarquia em 2025. Na semana passada, após falar em vários eventos, Galípolo gerou incertezas sobre o rumo da taxa Selic neste ano, mas garantiu a alta de juros está na mesa, sim, e o BC não vai hesitar se for necessário. Os dados do setor externo também serão acompanhados. O mercado prevê déficit de US$ 4,350 bilhões das transações correntes em julho (mediana), após saldo negativo de US$ 4,029 bilhões em junho. E para o Investimento Direto no País (IDP), a mediana indica entrada líquida de US$ 6,000 bilhões em julho, ante saldo positivo de US$ 6,269 bilhões em junho. É aguardado também o IPCA-15, amanhã, para o qual é esperada desaceleração em agosto ante julho e na comparação anual.
Na Bolsa, além dos leves ganhos em Nova York, o avanço de 3,45% do minério de ferro na China apoiava valorização dos ADRs Vale no pré-mercado em NY, indicando possível dia positivo à mineradora. Há expectativas ainda pela escolha do próximo CEO da Vale, que pode ser anunciada em setembro, segundo a CNN Brasil. Também o petróleo avança assim como os ADRs da Petrobras, em bom prenúncio às ações nesta segunda-feira. O EWZ, principal fundo de índice (ETF) do Brasil negociado em Wall Street, exibia viés de alta.
Na sexta-feira, em reação ao discurso de Powell, o Ibovespa fechou em alta moderada, de 0,32%, aos 135.608,47 pontos, ainda abaixo da máxima histórica acima dos 136 mil pontos alcançada na última quarta-feira. Na semana, o índice da bolsa teve valorização de 1,24%. Já o dólar à vista fechou abaixo dos R$ 5,50, a R$ 5,4794, mas na semana passada acumulou ganho de 0,21%. Com a definição da taxa Ptax do dólar no fim desta semana, o mercado de câmbio pode ficar mais volátil e de olho em Galípolo em meio a expectativas de alta da Selic. Os juros futuros também devem se ajustar à queda dos rendimentos dos Treasuries em meio à espera do IPCA-15, depois de recuaram na sexta-feira, com mais força na ponta longa, mas com ganho de inclinação na semana.
As notícias fiscais podem ainda influenciar o humor nos mercados. O aumento de alíquotas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) – tributo cobrado sobre o lucro das empresas – deverá ficar restrito a 2025, segundo apurou o Estadão com integrantes da equipe econômica. Já a mudança nos Juros Sobre Capital Próprio (JCP) – um tipo de remuneração das companhias aos seus acionistas – ainda está com o prazo em discussão e poderá, inclusive, ser permanente. Ambos os ajustes serão alvo de um ou mais projetos de lei a serem enviados ao Congresso juntamente com a Proposta de Lei Orçamentária do próximo ano, conforme informou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O prazo para esse envio é até a próxima sexta-feira. O objetivo das medidas, segundo o governo, é contribuir com o esforço de levantar cerca de R$ 50 bilhões em medidas que ampliem a arrecadação para fechar as contas em 2025 – quando o governo promete manter a meta de déficit fiscal zero.
*Agência Estado