“Na minha opinião, o arcabouço fiscal está consolidado”, dia Haddad
Ministro da Fazenda se mostrou otimista quanto às perspectivas para a economia brasileira
“Eu estou confiante” foi uma das frases ditas por Fernando Haddad, em sua participação na Expert XP 2024. Em conversa com José Berenguer, CEO do Banco XP, o ministro da Fazenda relembrou os desafios enfrentados desde sua nomeação ao cargo e se mostrou otimista quanto às perspectivas para a economia brasileira.
“Se você pegar as projeções de mercado do começo de 2023, vai verificar que muitas se frustraram pelos bons resultados do fechamento do ano passado”, disse Haddad. “Previam 0,8% ou 0,9% de crescimento, mas chegamos em 2,9% [em 2023]”. Para este ano, a projeção do governo aponta para um crescimento de 2,5%, mas o número deve ser atualizado para cima em breve, disse Haddad.
“A economia brasileira reage quando você começa a apertar os parafusos”, afirmou. Haddad voltou a falar sobre o trabalho do Ministério da Fazenda ao longo dos últimos dois anos, na tentativa de aumentar a arrecadação e reduzir os gastos. “Recebemos um orçamento de R$ 60 bi de déficit e 17% do PIB de receita [do governo anterior], a menor dos últimos muitos anos”, disse.
Entre as medidas tomadas, Haddad destacou as tentativas de redução do déficit público. “A Fazenda nunca deixou a política de fazer revisão tanto do gasto primário quanto tributário para atingirmos o equilíbrio das contas públicas, depois de 10 anos de déficit. Nunca ninguém atacou essa questão com tanta força como nós fizemos. Temos que corrigir isso, e afrouxar quando e se possível na política monetária”, afirmou.
Segundo ele, se o governo tivesse conseguido acabar com a desoneração das folhas de salários e encerrar o Perse (Programa Emergencial para Retomada do Setor de Eventos), o déficit neste ano seria zerado. “Politicamente não foi possível”, comentou.
Situação atual do arcabouço fiscal
O ministro reiterou, entretanto, que segue perseguindo as metas estipuladas para 2025, 2026 e 2027. “No que depender de mim, o arcabouço está estabilizado e terá de ser cumprido a partir de agora. Na minha opinião, o arcabouço fiscal está consolidado”.
Do lado do controle de gastos, Haddad comentou também a revisão dos benefícios sociais. “Fui 7 anos ministro da educação. Tinha uma cobrança sobre condicionalidade do Bolsa Família, [se a criança ficasse] dois trimestres sem frequentar escola, a família perdia o benefício. Eu acredito em programas assim, em que se cria condições para a família se emancipar, e cria condicionalidades, como vacina e frequência escolar”, disse.
Além da importância para as contas públicas, Haddad defendeu que essa medida é relevante também para o crescimento de longo prazo da economia brasileira. “Mais do que nunca, temos que fazer esse dever de casa, senão o mercado de trabalho vai ser restrição ao crescimento. Estamos com a menor taxa de desemprego da história. Se a gente não corrigir essas pequenas falhas, vamos começar a ter gargalos na contratação de força de trabalho, o que também afeta a inflação”, afirmou. “Temos que ter muito cuidado de comemorar crescimento do PIB sem verificar se condições de sustentabilidade estão sendo cumpridas”.
“Com as reformas que estamos fazendo, a economia vai deslanchar. O crédito está aumentando 10,5% neste ano. Esse país está pronto para crescer, o desafio não é pequeno, mas se a gente perseverar, harmonizar os poderes, quando este país entrar em linha, vai ser muito difícil segurar o crescimento”.
Crescimento do PIB
O ministro também voltou a dizer que não vê razão para que o Brasil não cresça acima da média mundial.
Questionado por Berenguer sobre o motivo da deterioração das expectativas, Haddad respondeu que “uma parte, acho que é a comunicação do governo, que às vezes peca, por detalhe”. “Outra razão é a transição do Banco Central. Este é o primeiro governo que está passando por duas transições, do Paulo Guedes para mim e agora do Roberto Campos Neto para o Gabriel Galípolo”, disse.
“Mas estou convencido de que vamos terminar o ano bem, com bolsa subindo e PIB reajustando para cima, com baixo desemprego e inflação dentro da meta”, afirmou.
Sobre as críticas que o governo tem feito à condução da política monetária, Haddad disse entender como “normal, vejo falarem de política de juros no mundo inteiro”. “Temos duas autoridades, uma fiscal e uma monetária, que têm que se entender, têm que organizar as políticas”, disse.
Comentando o cargo de presidente do Banco Central, o ministro disparou: “eu acho o meu emprego bem mais difícil do que o dele, quase me indiquei para o cargo dele. Enfrentar um pouco de crítica faz parte, não me sinto atacado por críticas que fazem à política fiscal, é o preço que você paga pela visibilidade que seu trabalho tem”.
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