Morre Pedro Herz, dono da livraria Cultura, que mudou o varejo de livros no País
O velório irá ocorrer nesta quarta-feira (20), às 10h, no Cemitério Israelita do Butantã, seguido do enterro, às 12h
O livreiro e empresário Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, morreu nesta terça-feira, (19/03), aos 83 anos. Ele foi o responsável por transformar a empresa, fundada pela mãe, Eva Herz, em uma das maiores potências do mercado literário brasileiro – e transformou o varejo nacional da área.
Sérgio Herz, filho do livreiro e atual CEO da Cultura, confirmou a morte ao Estadão/Broadcast e disse que o pai sofreu um ataque cardíaco fulminante durante a madrugada. O velório irá ocorrer nesta quarta-feira (20), às 10h, no Cemitério Israelita do Butantã, seguido do enterro, às 12h.
A rede de livrarias estava em recuperação judicial desde 2018 com dívidas superiores a R$ 280 milhões. Teve o pedido de falência decretado no ano passado – posteriormente revertido por liminar. A Livraria Cultura chegou a comprar a subsidiária nacional da Fnac em 2017, mas fechou as lojas deficitárias da concorrente.
Em 2017, Pedro Herz publicou “O Livreiro” (Editora Planeta), no qual narra sua trajetória de vida, sempre atrelada à Livraria Cultura. Ele descreve desde a chegada de sua família ao Brasil, judeus alemães que fugiam da Segunda Guerra Mundial.
Sua mãe, Eva, começou a trabalhar com livros importados, com serviço de aluguel de títulos em alemão a seus compatriotas que também sentiam falta de ler na língua de origem.
Com o tempo, acrescentou obras nacionais ao acervo, e logo decidiu abrir uma livraria. O primeiro endereço foi na Rua Augusta. Mais velho, Pedro Herz virou sócio da mãe. Foi junto dele que Eva levou a Livraria Cultura para o Conjunto Nacional, em 1969. Ali, encerrou os serviços de aluguel de livros e passou a vendê-los.
A Cultura, que naquela época ocupava um espaço menor no Conjunto Nacional, virou ponto de encontro de pessoas influentes: políticos, escritores, jornalistas e intelectuais diversos. Os eventos eram agitados, e, durante a ditadura militar, chegavam a receber visitas de agentes do regime disfarçados, conforme narrou Herz em sua biografia.
A livraria se expandiu e passou a ocupar várias lojas no edifício. Foi somente em maio de 2007 que elas se agruparam para formar a famosa e gigantesca unidade, com três níveis, rampas e escadas, tornando-se atração imperdível da Avenida Paulista – e da cidade como um todo.
A Cultura chegou a ter 17 lojas e 1,5 mil funcionários, e já enfrentava dificuldades quando resolveu adquirir as operações da Fnac e a Estante Virtual. Os atrasos de pagamento a editoras e as dívidas aumentaram. Todas as unidades da livraria da família Herz foram sendo fechadas gradativamente desde então, restando apenas a unidade do Conjunto Nacional e outra no Bourbon Shopping, em Porto Alegre.
Em 2023, foi decretada a falência da Cultura duas vezes, ambas revertidas: primeiro em fevereiro, sendo suspensa alguns dias depois, e depois em maio. A empresa não teria cumprido os compromissos do plano de recuperação firmado nos anos anteriores, havendo ainda indícios de fraude em movimentações financeiras dos sócios. Em 26 de junho, a unidade do Conjunto Nacional foi fechada, o que gerou grande repercussão e comoção no mundo livreiro.
A loja foi reaberta em 6 de julho. Mas, em agosto, a livraria ainda enfrentou uma ordem de despejo, revertida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Em fevereiro de 2024, no entanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou um recurso da livraria e autorizou a continuidade da ordem de despejo. Por enquanto, a Cultura segue funcionando normalmente.
*Agência Estado