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O que diz a ata do Copom? Ciclo de aperto da Selic pode parar em 14,25%?

Documento detalha decisão que elevou a taxa básica de juros para 13,25%

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central diz, em ata divulgada nesta terça-feira, que “o cenário se desenrolou” de maneira que tornou apropriada uma alta de juros de 1 ponto percentual em janeiro e a indicação de alta de 1 ponto para março.

“O cenário se desenrolou de tal maneira que a indicação anterior de elevação de 1,00 ponto percentual na taxa Selic mostrava-se a decisão apropriada”, afirma o documento, que detalha a decisão de subir os juros de 12,25% ao ano para 13,25% ao ano em reunião na semana passada.

“Além disso, também concluiu que seguia apropriada a indicação anterior de que antevê um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, disse a ata.

O documento reafirma a mensagem de que, “para além da próxima reunião, a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

Cenário de inflação de curto prazo segue adverso

Conforme a ata, o Copom avaliou que o cenário de inflação de curto prazo “segue adverso”. O comitê apontou no documento que os preços de alimentos “se elevaram de forma significativa” e destacou fatores como a estiagem que foi observada ao longo do ano e a elevação do preço das carnes que foi afetada pelo ciclo do boi.

“Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”, apontou o colegiado.

Ao tratar dos bens industrializados, o colegiado ressaltou que o “movimento recente do câmbio” pressiona preços e margens “sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses”.

O colegiado também destacou que a inflação de serviços continua acima do nível compatível para o cumprimento da meta “em contexto de atividade dinâmica” e que “acelerou nas observações mais recentes”.

Para o futuro, a ata apontou que o comitê vai acompanhar o ritmo da atividade econômica “fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços”, além do repasse para o câmbio da inflação e as expectativas de inflação, que, segundo o colegiado, apresentaram desancoragem adicional e são determinantes para a inflação futura.

“Enfatizou-se que os vetores inflacionários seguem adversos, como hiato do produto positivo, a depreciação cambial, a inflação corrente mais elevada e as expectativas de inflação mais desancoradas”, diz o documento.

Ata do Copom pede disciplina fiscal

O Copom reforçou também que as políticas monetária e fiscal devem ser harmoniosas. “Com relação à política econômica de forma mais geral, o Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas”, diz o documento. “Em particular, o debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas.”

“No período recente, a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, diz a ata.

“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.”

Por fim, o Copom ressaltou que a “manutenção de canais de política monetária desobstruídos, sem elementos mitigadores para sua ação, contribui para uma condução mais efetiva e mais eficiente”.

Cenário externo se mantém desafiador

Finalmente, o Copom avaliou na decisão que elevou a Selic para 13,25% que o cenário externo se mantém desafiador, com incertezas econômicas e geopolíticas relevantes.

“Ainda que o cenário-base com que o Comitê trabalha não tenha se alterado significativamente, avaliou-se que cenários mais extremos, com distintos impactos sobre a inflação nas economias emergentes, têm maior probabilidade de se materializarem do que na reunião anterior”, diz o documento.

“O cenário-base do Comitê segue sendo de desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana, mas, além das incertezas inerentes à conjuntura econômica, há dúvidas sobre a condução da política econômica em diversas dimensões”, assinala a ata.

O documento lista as dimensões sobre quais há dúvidas: “como possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho, introdução de tarifas à importação e alterações importantes em preços relativos decorrentes de reorientações da matriz energética, o que pode impactar negativamente as condições financeiras e os fluxos de capital para economias emergentes”.

O Copom, segundo a ata, reforçou que o compromisso dos bancos centrais com o atingimento das metas é um ingrediente fundamental no processo desinflacionário, corroborado pelas recentes indicações de ciclos cautelosos de distensão monetária em vários países.

“Como usual, o Comitê focará nos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a dinâmica inflacionária interna e seu impacto sobre o cenário prospectivo”, afirma. “Reforçou-se, ademais, que um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica.”

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