Para essa gestora de multimercados, Selic pode chegar a 8,5% – mas há riscos
Mauricio Ferraz, gestor responsável pela estratégia de renda fixa da Kínitro, explicou o que faz a casa prever juros mais baixos e fala sobre os riscos a esse cenário
Com desaceleração da China, deflação de produtos industriais e uma safra de grãos menos prejudicada pelo El Niño do que o esperado, esta gestora de fundos multimercados projeta que a inflação pode surpreender para baixo nesse ano. Como resultado, a expectativa é de que o Banco Central terá mais espaço para cortar os juros do que a maioria do mercado acredita e a Selic poderia encerrar o ano a 8,5%.
Com estimativa de que o IPCA irá encerrar o ano a 3,9% (em linha com o último relatório Focus), a Kínitro acompanha de perto especialmente os dados sobre inflação de alimentos e produtos industriais – as duas linhas que podem surpreender para baixo.
“O que está por trás da desinflação, em grande parte, foi um choque de oferta positivo”, disse Mauricio Ferraz, gestor responsável pela estratégia de renda fixa da casa, durante o Smart Summit. No caso dos alimentos, ele argumenta que, apesar de uma leve queda projetada na produção de grãos no Brasil, a Argentina deverá ter uma recuperação importante no rendimento de suas lavouras – o que deve manter os preços internacionais para baixo.
A gestora também acredita que os preços de bens industriais podem ficar abaixo do esperado, com a atividade chinesa ainda demorando a retomar seus níveis de crescimento.
Caso esse cenário venha a se concretizar, isso permitiria que os Bancos Centrais das principais economias reduzam os juros e levem as taxas perto do juro neutro – aquele que não estimularia nem deprimiria a atividade econômica.
“Para a gente, o juro neutro no Brasil seria algo entre 7,5% a 8%. Estamos projetando uma Selic a 8,5%, para ser um pouco conservador, dado que o cenário ainda é de cautela. Com a inflação rodando entre 3% e 3,5%, isso seria possível, obviamente se o Banco Central americano cortar os juros para próximo do que a gente acha que é a taxa neutra deles, que é algo como 3%”, afirmou Ferraz.
Ou seja, o cenário otimista ainda depende de uma importante variável: a taxa de juros nos Estados Unidos, tema que tem permeado quase todas as discussões sobre finanças nas últimas semanas. “O Fed cortar os juros lá é fundamental para que os juros continuem caindo aqui”, afirmou ele.
“Dito isso, o crescimento global forte preocupa”, pondera Ferraz. “Estamos vendo um crescimento global robusto, mas também não é aquela coisa em aceleração absurda. O crescimento americano deve ficar entre 2% e 3%. O Brasil deve ficar perto de 2%. Mas também não é um crescimento global acelerando muito”, afirmou.
Quais são as apostas do fundo nesse cenário de Selic?
Dadas essas perspectivas, o fundo multimercado da Kínitro tem visto oportunidades de operar no mercado de juros, apostando em uma queda maior do que o mercado espera.
Fora isso, a expectativa de juros mais próximos da taxa neutra beneficia o crescimento da economia e melhora perspectiva para algumas empresas, segundo ele. “A renda variável também pode se beneficiar desse cenário de queda de juros”, disse Ferraz.
Mas é preciso cautela. Segundo ele, o preço de diversos ativos já precifica esse cenário macroeconômico mais positivo. “Então temos alocado os recursos de forma mais seletiva, buscando ativos que estão descontados em relação a esse cenário macro mais positivo que a gente tem”, afirmou. Outra aposta é na valorização do real, especialmente frente ao euro.
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