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Selic a 15%: até quando irá o período ‘bastante prolongado’ do Copom?

Mercado discute eventual manutenção do termo 'período bastante prolongado' em comunicado do Copom

Com ISTOÉ Dinheiro

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Nesta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá para uma nova decisão de política monetária – e novamente o mercado, de maneira praticamente unânime, espera uma manutenção da Taxa Selic em 15%. A maior parte da expectativa fica com o quão austero – ou hawkish, no jargão do mercado – será o comunicado e até onde irá a manutenção.

Os especialistas ouvidos pela IstoÉ Dinheiro esperam que o Banco Central (BC) mantenha a sua postura e emita um comunicado ainda citando uma manutenção dos juros por ‘período bastante prolongado’ assim como nas últimas reuniões.

Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG, frisa que ‘é uma possibilidade’ de o Copom adotar uma postura menos austera, todavia, acredita que o trecho seguirá igual.

“Esperamos o início do processo de cortes de juros no primeiro trimestre do ano de 2026 e queda de juros por quase todo o ano seguinte. Ao final do processo, a Selic deverá ter atingido 12%. A queda nas expectativas reflete um cenário de preços de alimentos e bens industriais bem comportados em 2025 e a perspectiva de desaceleração da atividade econômica nos próximos meses. Ainda assim, elas seguem bem acima da meta de 3%. A continuidade desse processo poderia antecipar o início dos cortes de juros”, avalia.

A avaliação é de que a a maior parte da queda da inflação está relacionada a queda dos preços dos alimentos e dos bens industriais.

“A política monetária tem pouco efeito sobre o primeiro grupo. Já o segundo grupo, podemos atribuir parcialmente os efeitos do aperto de política monetária e, principalmente, a valorização do câmbio ao longo do ano.”

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, destaca em relatório para clientes que a estabilização do mercado de trabalho se dá perto da mínima histórica da taxa de desemprego e que a inflação corrente segue distante do objetivo de política monetária.

“A melhora de expectativas, mesmo que expressiva, ainda deixa as projeções de mercado consistentemente acima da meta – de forma que reconhecer esse movimento de melhora, nesse momento, pode ser contraproducente”, analisa.

“Acreditamos que o Copom deve até mencionar alguma melhora na inflação corrente, mas não mudará a sua sinalização de manutenção de juros no patamar de 15% a.a. por período bastante prolongado diante da desancoragem das expectativas, da resiliência do mercado de trabalho e das projeções de inflação acima da meta”, completa Mesquita.

O Itaú projeta 15% de Selic terminal para este ano e de 12,25% para 2026.

Gustavo Sung, da mesma forma, destaca que espera também um comunicado com ‘tom firme’, reiterando que a taxa de juros deve permanecer no atual patamar “por período prolongado”, reforçando o compromisso com a convergência da inflação à meta e a preservação da credibilidade da política monetária.

“Essa estratégia mostra-se adequada às condições atuais, ainda marcadas por um mercado de trabalho resiliente, que mantém o consumo em níveis relativamente elevados e continua sustentando parte da pressão sobre os preços de serviços. Esse e outros componentes subjacentes de inflação, como os núcleos, permanecem acima da meta. Além disso, mesmo com a melhora recente, as projeções de inflação do mercado seguem distantes do centro da meta, o que reforça a necessidade de manutenção da postura cautelosa por mais tempo.”

A projeção da casa é de um início do ciclo de cortes apenas em março de 2026, com a taxa básica de juros fechando o ano de 2026 em 12,50%.

Desaceleração da economia no radar

O time de economistas do C6 Bank, liderado por Felipe Salles, aponta que o Comitê deve justificar a manutenção da taxa de juros diante do cenário marcado por desancoragem das expectativas de inflação, mas também por conta da resiliência na atividade econômica.

Isso, juntamente com pressões no mercado de trabalho, ‘exige uma política monetária contracionista’.

A visão do mercado tem sido de que desde a última reunião do Copom, o conjunto de informações evoluiu de maneira benigna – e isso inclui atividade econômica, que contemplou inclusive um dado recorde no mercado de trabalho.

O Itaú avalia que os dados de atividade vêm confirmando a tendência de desaceleração em curso e ‘sugerindo inflexão incipiente do mercado de trabalho’.

Sung, da Suno, aponta que o ambiente macroeconômico vem mostrando sinais mais favoráveis e os dados mais recentes confirmam a desaceleração da economia brasileira, a perda de tração do crédito e um cenário de desinflação em andamento, sustentado pela valorização cambial, pela estabilidade das commodities, pela queda dos preços de alimentos e pela desaceleração dos custos de produção.

“A manutenção da política monetária em patamar elevado tem sido fundamental para consolidar o processo de transição da economia brasileira. Essa estratégia deve resultar, até o fim do ano, em uma desaceleração mais acentuada da atividade econômica, favorecendo a abertura de um hiato do produto negativo, uma maior ancoragem das expectativas e a consolidação da trajetória de desinflação – pilares essenciais para que o Banco Central possa, no futuro, avaliar uma redução sustentável dos juros.”

Quadro inflacionário melhorou, mas não o suficiente

Há cinco semanas o consenso do mercado vem cortando expectativas de inflação para este ano no Boletim Focus. As projeções atuais miram para 4,56%, ante 4,81% há quatro semanas.

Para o ano que vem a expectativa é de 4,20%, com queda nas expectativas pela segundo semana consecutiva.

Apesar disso, o mercado ainda enxerga que não há um cenário consistente e que permita ao BC adotar uma postura de menor austeridade.

“No front de inflação, as medidas de núcleo apresentaram alguma melhora e as surpresas vistas nas últimas divulgações de IPCA devem levar a inflação a encerrar o ano mais próxima da banda em torno da meta. Adicionalmente, houve queda relevante das expectativas de inflação para prazos mais longos”, diz Mario Mesquita, do Itaú.

“A desancoragem nos prazos mais longos continua sendo um fator de preocupação. De modo geral, parece que o Comitê está confiante na trajetória de moderação da atividade econômica, em linha com o cenário delineado anteriormente, e, por isso, considera adequada a estratégia de manter a taxa de juros no patamar atual por um período prolongado”, destaque.

Diferencial de juros maior

Na semana passada o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) anunciou o segundo corte de 0,25 ponto percentual nas sua taxa de juros de referência neste ano, diante do aumento dos riscos para o mercado de trabalho.

Com a decisão, o Fed manteve a banda dos juros básicos entre 3,75% e 4%, em um movimento já esperado pelos mercados.

Dos 12 diretores, foram dez votos a favor e dois contra.

Com a decisão, o diferencial de juros entre Brasil e EUA passou a ser maior, cenário que pode atrair capital de investidores estrangeiros e faz com que o BC tenha uma margem maior para as manobras de política monetária no futuro.

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