Selic deve ficar em 15% pelo menos até dezembro, diz Azevedo, da Ibiuna
Para gestores, próximas reuniões do Copom devem trazer pouca emoção para o mercado
Na próxima semana, nos dias 29 e 30 de agosto, os dirigentes do Comitê de Política Monetária (Copom) se reúnem para decidir qual será a taxa básica de juros pelos próximos 45 dias. A decisão, no entanto, não deve trazer surpresas nem grandes emoções para o mercado. Na reunião passada, o colegiado deixou claro que deve manter a Selic estável em 15% ao ano. A avaliação é de Rodrigo Azevedo, sócio-fundador da Ibiuna Investimentos, que esteve na Expert XP 2025 nesta sexta-feira (25), ao lado de Carlos Woelz, sócio-diretor da Kapitalo Investimentos.
“Na última reunião, o Banco Central basicamente sugeriu que parou de subir o juro. Não vai ter muita emoção sobre a decisão nas próximas 4 a 6 reuniões, teremos o juro parado em 15%”, diz Rodrigo Azevedo. A discussão agora, segundo ele, é sobre quando a Selic vai voltar a cair. No entanto, ele diz que nesse momento, tudo indica que juro vai demorar muito para começar a baixar.
“A razão básica disso [manutenção dos juros em 15% por um longo tempo] é que, se pegar parâmetros de crescimento, fiscal e cambio, para entregar a meta de [inflação de] 2,5% no horizonte relevante, precisaria de juro muito mais alto. Mas o juro real já está muito alto”, comenta.
Sobre o comunicado da próxima reunião, Rodrigo acredita que o texto indicará que a Selic realmente parou de subir, e que daqui para a frente o BC irá manter a taxa inalterada até que surjam evidências de que inflação está de fato convergindo para a meta. “Se tudo der certo, ele pode começar a cortar em dezembro, mas provavelmente será mais para frente”, diz.
Carlos Woelz, da Kapitalo, complementa que a situação inspira preocupação. “Estamos com uma política monetária ultra restritiva, o que traz uma dinâmica de dívida que piora muito”, diz. “O nível de juro real está absurdo, num nível que há décadas a gente não vê, e mesmo assim a desaceleração [da economia] não vem. É muito ruim, com esse nível de juro, a economia não estar desacelerando”
As razões para o alto nível de taxa de juros não se refletir em desaquecimento da economia, na visão de Rodrigo Azevedo, são três. A primeira é um rescaldo da reforma trabalhista, aprovada no governo do presidente Michel Temer. “Tem um pedaço da formalização no mercado de trabalho que acho que é um movimento mais estrutural, e tem como contrapartida a geração renda”, diz. Além disso, há o alto volume de transferência de renda, seja via Bolsa Família ou previdência, diz ele. E por fim, ele destaca a retomada de linhas de crédito subsidiadas. “A política monetária é muito menos eficiente quando tem uma quantidade maior de crédito subsidiado. Então, se você quer levar a inflação para a meta, a Selic tem que ser muito mais elevada”, explica ele.
Exterior
Os gestores também discutiram as dinâmicas de juros no exterior – e a forma como elas afetam o Brasil. Para Woelz, o aumento das tarifas comerciais pelos EUA traz uma pressão inflacionária para o dólar, ao mesmo tempo em que cria uma tendência deflacionaria nos demais países.
Azevedo, da Ibiuna, relembrou o que aconteceu no passado recente. “A gente teve uma elevação de inflação muito relevante na saída da covid, com expansão fiscal e juro ainda zero. O resultado disso foi inflação de 8% a 9% no mundo desenvolvido, que não víamos há décadas”, diz ele. No entanto, esse cenário ficou para trás, e a inflação foi levada de volta para perto das metas “com custo muito baixo de desaceleração”.
O que acontece hoje, no entanto, é uma divergência de caminho entre o Federal Reserve, dos EUA, e outros bancos centrais de economias desenvolvidas. “Os outros BCs continuaram cortando os juros, enquanto os EUA pararam no 4,25%”, comentou.
A razão para isso, segundo ele, são as tarifas. “Se não tivesse tarifa, o Fed teria começado a cortar os juros? Muito provavelmente, a maior parte dos economistas diria que dava para trazer de volta para a taxa neutra”, diz. Apesar da inflação dar sinais de arrefecimento, ele lembra que a atividade da economia americana segue forte, o que também dá conforto ao Fed em manter os juros no patamar atual.
“O que estamos vendo é que o juro real do mundo vai ser mais alto, e se o juro real do mundo for mais alto, o nosso vai ter que ser mais alto também”, resume.
No entanto, ele lembra que o dólar tem sido um fator relevante de deflação. “O dólar vem perdendo valor significativamente, o que significa menos pressão inflacionária pelo câmbio”.
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