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XP vê impacto marginal em PIB e inflação com tarifas de Trump, mas retaliação preocupa

Nas contas da XP, o impacto das tarifas de Trump deve trazer um impacto de 0,3% no PIB deste ano

Com ISTOÉ Dinheiro

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Em um cenário de uma tarifa de 50% aos produtos brasileiros recém-anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a XP enxerga um impacto marginal em um primeiro momento e ainda mantém cautela para traçar novos cenários. Para a empresa, o cenário mais preocupante é de uma eventual retaliação por parte do Brasil.

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Além disso, os especialistas da casa destacam que o mercado ainda aguarda novas sinalizações de Trump – considerando a postura do republicano de tomar medidas drásticas para ‘sentar e negociar’ logo depois.

“Se houver retaliação das importações brasileiras porque a situação pode ficar mais profunda. Na margem, é um choque de oferta negativa. Um pouquinho mais de inflação e um pouco menos de PIB”, disse Caio Megale, economista-chefe da XP, em entrevista coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira, 10.

O economista detalha que, nas contas da XP, o impacto das tarifas de Trump deve trazer um impacto de 0,3% no PIB deste ano – então fazendo a projeção da casa cair de 2,5% para 2,2%.

Já para o ano que vem, o impacto projetado é maior, de 0,5%, jogando o cenário de 1,7% de crescimento econômico para 1,2%.

Megale explica que a fatia dos EUA não é tão representativa no PIB e que ‘o impacto macroeconômico, de uma forma geral, não é grande’.

“O principal ponto aqui é que a economia brasileira é relativamente fechada. Menos de 20% do PIB é exportado, nos países desenvolvidos fica entre 40% e 50%. No nosso caso, ainda temos só 12% [das exportações] indo para os EUA. É uma fatia pequena de uma fatia pequena do PIB.”

O especialista adiciona que são produtos em grande maioria manufaturados e básicos e, dito isso, mais facilmente realocáveis na dinâmica de comércio exterior.

Em um cenário de retaliação, a visão é de que o impacto inflacionário será maior, especialmente em linhas como remédios, produtos químicos, plásticos, embalagens, combustível (especialmente querosene de avião), mas que nada disso é ‘muito relevante na produção doméstica’.

Trump deixou “todo mundo mais receoso”

Para além do impacto na atividade econômica e na inflação, Megale chama atenção para o que considera um impacto indireto.

“Já vimos câmbio depreciar, juros longos subiram, tem aumento de condições de crédito e aumento de incerteza. Quando o presidente do principal país do mundo toma uma decisão como essa da noite para o dia, deixa todo mundo mais receoso.”

Sobre política monetária, Megale frisa que essa toada mantém a XP ‘mais confortável’ com a expectativa de que o Banco Central (BC) corte os juros somente em janeiro.

Isso, considerando a discussão atual de uma eventual antecipação do corte em janeiro já considerado esperado – ou seja, a decisão do presidente dos EUA mais arrefece as possibilidades de antecipação de cortes na Selic do que efetivamente altera os cenários e projeções.

Entenda as tarifas

Na quarta-feira, 9, presidente dos Estados Unidos anunciou que a tarifa sobre os produtos importados do Brasil será de 50%, com início a partir de 1º de agosto.

O argumento usado pelo republicano para a decisão foi citando ordens judiciais que ‘censuram’ mídias sociais americanas e inibem a liberdade de expressão de cidadãos dos EUA.

A decisão vem em um momento em que o presidente dos EUA tem declarado apoio expresso ao ex-presidente Jair Bolsonaro e tecido comentários sobre o ambiente de decisões da suprema corte sobre as redes sociais.

Lula convoca ministros para discutir reação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ministros e assessores no Palácio da Alvorada, na manhã desta quinta-feira, 10, para discutir uma resposta à decisão da Casa Branca.

A Casa Civil, por sua vez, criou um grupo de estudos, encarregado de propor quais medidas o Brasil pode adotar diante dessa situação. As novas tarifas devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto.

Segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, o governo brasileiro avalia revogar patentes de medicamentos americanos como possível forma de retaliação. Outras ações relacionadas à propriedade intelectual também estão na mesa.

A CNN Brasil mencionou a hipótese de taxar remessas de dividendos de multinacionais americanas com operações no país. Outra opção considerada é acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a medida.

Depois do anúncio de Trump, o Palácio do Planalto divulgou nota oficial. No texto, Lula informou que o Brasil pretende aplicar a recém-aprovada Lei de Reciprocidade, sancionada por ele no Congresso Nacional, para responder à altura.

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