Investir melhor

Como e por que a taxa de juros dos EUA afeta os investimentos no mundo todo?

Entenda por que os investidores do mundo inteiro acompanham de perto os movimentos de juros nos EUA

Nesta Super Quarta (7), os mercados globais concentram os olhares no Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, que anuncia sua decisão de política monetária. A expectativa majoritária é de manutenção dos juros no atual patamar — entre 4,25% a 4,50%, nível estável desde dezembro. O que realmente deve mexer com os ativos ao redor do mundo, no entanto, será o tom do comunicado e a fala do presidente da instituição, Jerome Powell, na coletiva que se segue à decisão. Mas o que uma decisão sobre juros nos EUA tem a ver com seus investimentos no Brasil?

Conforme explica Julio Ortiz, sócio-fundador da CX3, os movimentos e as expectativas de juros afetam diretamente o fluxo de capital no mundo. “O mercado americano suga o dinheiro do resto do mundo ou alaga o mercado global com dinheiro. Quando a taxa de juros lá está alta, atrai dinheiro do mundo inteiro, e falta dinheiro em outros países”, diz Julio Ortiz, sócio-fundador da CX3. Da mesma forma, quando as taxas caem por lá, o fluxo é inverso. E essa entrada e saída de capital tende a mexer com os preços dos ativos em todos os países.

A taxa de juros nos EUA é também conhecida como “preço mais importante do mundo”. Ela influencia desde o câmbio de moedas emergentes até o valor das ações nas bolsas de diversos países. “A taxa de juros dos EUA, definida pelo Federal Reserve, é vista como o ‘preço mais importante do mundo’ porque influencia diretamente o custo do dinheiro globalmente”, explica Bruna Sene, analista de renda variável da Rico. Segundo ela, como o dólar é a principal moeda de reserva e de comércio internacional, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano — os Treasuries — acabam servindo de referência para decisões de investimentos, financiamentos e avaliações de risco em todos os mercados.

“A taxa de juros dos EUA influencia desde empréstimos corporativos até o preço de ativos financeiros em todo o mundo”, complementa Marcos Macedo, head de Alocação e Consultor de Investimentos na Faros Multi Family Office.

Quando os juros americanos sobem, os ativos denominados em dólar tornam-se mais atrativos e há uma tendência de migração de capital em direção aos Estados Unidos. Isso pode prejudicar países emergentes, como o Brasil. “A alta de juros nos EUA pode provocar fuga de recursos de mercados emergentes, pressionando suas moedas e ativos financeiros”, afirma Bruna.

O movimento oposto também é verdadeiro, lembra Macedo. “Quando o Fed reduz os juros, o custo de capital global cai, favorecendo ativos de risco como ações de mercados emergentes e crédito corporativo. Investidores passam a buscar maior retorno fora dos EUA, o que pode gerar valorização de moedas locais e aumento dos fluxos de entrada em países como Brasil, Índia e Chile”, diz. “Empresas alavancadas e setores mais sensíveis ao ciclo de juros, como tecnologia, se beneficiam do ambiente mais benigno”.

Expectativas importam – e muito

Mas não é só a decisão do Fed que importa — as expectativas também fazem preço. Bruna destaca que o mercado se antecipa aos possíveis movimentos do banco central americano. “Se os investidores acreditam que o Fed vai subir os juros no futuro, mesmo que isso ainda não tenha acontecido, eles já começam a ajustar suas carteiras: vendem ativos de risco, compram dólar e buscam proteção”, diz. Da mesma forma, sinalizações de corte estimulam a busca por ativos mais arriscados, como ações e moedas de países emergentes.

Qual o efeito para o Brasil?

As decisões de juros nos EUA também têm efeitos no mercado brasileiro. “Quando a taxa de juros nos EUA é reduzida, há maior apetite por risco globalmente. Isso tende a fortalecer as bolsas de valores em países emergentes, como o Brasil, e valorizar o real frente ao dólar”, aponta Bruna. Já em momentos de alta de juros nos EUA, o capital volta a buscar segurança nos títulos americanos. “Esse movimento pressiona o dólar para cima, desvaloriza moedas emergentes e pode provocar queda nos preços das ações brasileiras, especialmente aquelas mais dependentes de capital estrangeiro.”

“O mercado brasileiro vem num momento positivo desde o começo do ano, mas o que mudou por aqui? Nada”, resume Ortiz, da CX3. “O que mudou foi que a expectativa do mundo para taxa de juro nos EUA se acalmou. Os analistas passaram a entender que há espaço para os juros caírem, então há menos atrativos para investir lá”, diz ele. Outro fator que contribui para esse movimento é o preço das ações das empresas listadas nos EUA, que se valorizaram de forma expressiva desde o ano passado. “A bolsa [americana] está em uma máxima histórica. Os investidores estão mais cautelosos em colocar mais dinheiro lá”.

Referência para preços

Além de influenciar diretamente o fluxo de capital no mundo, os juros americanos são um componente relevante nos métodos de precificação de ativos. “Os Treasuries são considerados o ativo livre de risco global — ou seja, a base sobre a qual todos os outros investimentos são precificados”, explica Macedo, da Faros.

 “Ao avaliar o risco e o valor de um ativo financeiro — seja uma ação, uma moeda ou um título soberano — analistas começam sua análise do ‘risco zero’, que é representado pela taxa paga pelo governo americano, ou seja, a taxa das Treasuries”, complementa Bruna. Por isso, qualquer oscilação nessa taxa acaba afetando os preços dos ativos nos quatro cantos do planeta.

Para conhecer mais sobre finanças pessoais e investimentos, confira os conteúdos gratuitos na Plataforma de Cursos da B3. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.