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Como o tarifaço dos EUA pode afetar a economia brasileira – e os títulos de renda fixa por aqui

Tarifas sobre importações impostas pelos EUA podem mexem com a economia brasileira. Entenda como isso afeta seus investimentos de renda fixa

O vai e vem das tarifas que o presidente Donald Trump anunciou sobre todos os países, incluindo o Brasil, vem afetando as bolsas pelo mundo, mas os impactos na economia real ainda são incertos. De acordo com especialistas, diversos fatores podem fazer com que a inflação varie, e por consequência a Selic também. Entenda como isso mexe também com seus investimentos na renda fixa.

Entenda as tarifas de Trump 

Eleito em 2024, e empossado em janeiro de 2025, Donald Trump começou seu mandato cumprindo promessas de campanha e colocando taxas sobre as importações de produtos de outros países aos Estados Unidos, como forma, segundo ele, de alavancar a produção local. 

Em 2 de abril, o presidente norte-americano anunciou tarifas a diversos países, incluindo o Brasil, de pelo menos 10%. O tamanho das taxas varia em relação a cada país, por exemplo, a China foi taxada em 34% inicialmente. 

A decisão, no entanto acarretou em retaliações de outros países, e uma guerra comercial se iniciou, principalmente entre China e EUA, que trocaram sucessivos aumentos de taxas, que chegam a mais de 145%.  

Em paralelo, Trump também decidiu por pausar a taxação aos outros países – com exceção da China – em 90 dias, para negociar individualmente com cada nação. Contudo, o temor da guerra comercial ainda assombra os mercados, seja no Brasil ou no Mundo.  

Como as tarifas podem influenciar a inflação e a Selic 

As taxas impostas às importações dos produtos brasileiros aos EUA, pausadas no momento, podem afetar os preços desde petróleo bruto, aço, aeronaves e café, já que esses são os principais itens de exportação brasileira ao país norte-americano.  

No curto prazo, segundo Marcos Piellusch, professor da FIA Business School, essa medida pode ter um efeito limitado sobre a inflação brasileira. “Isso ocorre porque os produtos anteriormente destinados à exportação podem ser redirecionados ao mercado interno, aumentando a oferta e potencialmente reduzindo os preços para os consumidores locais”. 

Para ele, essa dinâmica poderia aliviar pressões inflacionárias, possivelmente influenciando o Banco Central a reconsiderar o ritmo de ajustes na taxa Selic. Contudo, é essencial monitorar possíveis retaliações e desdobramentos que possam alterar esse cenário. 

Efeito câmbio

Outro ponto relevante, de acordo com Piellusch, é o impacto sobre o câmbio, já que a elevação das tarifas aumenta a percepção de risco em relação à economia brasileira e sua capacidade de manter o ritmo de exportações.  

“Isso pode levar à saída de capital estrangeiro, pressionando o dólar para cima. A desvalorização do real eleva os preços de produtos e insumos importados, o que pode gerar uma segunda rodada de pressão inflacionária no país”, destaca o professor. 

A preocupação, segundo ele, é que esse efeito cambial, combinado com um possível encarecimento de produtos importados — como eletrônicos, insumos industriais e fertilizantes — pode gerar pressão adicional sobre o IPCA.  

“Caso a inflação suba de forma persistente, o Banco Central pode ser forçado a manter ou até reavaliar cortes previstos na taxa Selic, mesmo em um ambiente de atividade econômica mais fraca. Isso reforça a importância de acompanhar com atenção o impacto cruzado entre tarifas, câmbio e inflação ao longo dos próximos meses”, aponta. 

Impactos da Guerra Comercial com a China 

A escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China, com tarifas americanas sobre produtos chineses elevadas para 125% em 9 de abril de 2025, tende a impactar a economia global, incluindo o Brasil.  

Para o professor da FIA Business School, esse aumento nas tarifas pode gerar uma desaceleração no comércio internacional e pressionar os preços de commodities, afetando as exportações brasileiras.  

Além disso, a aversão ao risco nos mercados globais pode levar à desvalorização do real frente ao dólar, encarecendo produtos importados e potencialmente elevando a inflação doméstica.  

“Esse cenário pode influenciar o Banco Central a adotar uma postura mais cautelosa em relação à taxa Selic, equilibrando o controle inflacionário com o estímulo ao crescimento econômico”, afirma ele.  

Por outro lado, há um possível efeito compensatório, assim como nas taxas ao Brasil, com as barreiras impostas pelos EUA, parte da produção chinesa poderá ser redirecionada para outros mercados, como o Brasil.  

“Isso aumentaria a oferta local de bens de consumo e bens intermediários, como eletrônicos, materiais industriais e até insumos agrícolas. Essa maior concorrência e oferta no mercado interno pode contribuir para aliviar pressões inflacionárias no Brasil, especialmente em setores sensíveis a preços de importados”, afirma Piellusch. 

Esse efeito pode se tornar relevante caso o real não se desvalorize excessivamente e os custos logísticos permaneçam sob controle, ressalta ainda o professor. “Se o aumento da oferta chinesa no Brasil for significativo, ele pode conter a inflação de curto prazo e dar mais espaço ao Banco Central para manter o atual ciclo de flexibilização da política monetária. Ainda assim, é um cenário que dependerá do equilíbrio entre câmbio, demanda doméstica e evolução das cadeias globais de suprimentos”.  

Como os efeitos podem impactar os títulos como Tesouro Selic e IPCA+ 

Alterações na inflação e na taxa Selic têm impacto direto nos títulos públicos, porém, como os reflexos da guerra comercial ainda são incertos, é difícil mensurar o que pode acontecer com investimentos ligados à Selic ou à inflação, como Tesouro Selic e Tesouro IPCA+

Entenda como a macroeconomia afeta os títulos do Tesouro Direto 

Tesouro Selic: Variações na Selic afetam diretamente o rendimento desses títulos. Se a taxa básica de juros for elevada para conter a inflação decorrente das tarifas, os rendimentos do Tesouro Selic aumentam proporcionalmente. 

Tesouro IPCA+: Esses títulos oferecem rendimento composto por uma taxa fixa mais a variação do IPCA. Se a inflação subir devido aos efeitos das tarifas, a parcela variável do rendimento aumenta. No entanto, é importante notar que a expectativa de inflação futura pode elevar as taxas oferecidas para novos títulos, o que pode desvalorizar os títulos já emitidos no mercado secundário. 

Conheça mais sobre os títulos do Tesouro Direto

Por isso, Marcos Piellusch, alerta para que os investidores fiquem atentos à volatilidade nos preços, principalmente do Tesouro IPCA+ e Tesouro Prefixado, especialmente em momentos de incerteza econômica.  

“Porém, como esses títulos seriam destinados ao investimento no longo prazo, é importante lembrar que as oscilações de preços que ocorrem antes do vencimento não afetam a rentabilidade contratada no ato da compra”, ressalta. 

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