Conheça 4 formas de investir em infraestrutura e as perspectivas para o setor
Setor de infraestrutura demanda investimentos constantes - e o mercado privado tem assumido protagonismo nesse financiamento
As ofertas de debêntures incentivadas, emitidas para financiar projetos de infraestrutura, registraram recorde de R$ 135,01 bilhões ao longo de 2024, praticamente o dobro do valor emitido um ano antes (R$ 67,8 bilhões), de acordo com dados da Anbima. No mercado secundário, o volume negociado das debêntures incentivadas movimentou R$ 278,6 bilhões, aumento de 115,8% em relação a 2023. Além da atividade na emissão dos títulos, os fundos que investem no segmento também têm crescido em número e quantidade de investidores. E mesmo em um cenário de Selic em alta, o mercado está otimista para o segmento em 2025.
O Brasil precisaria investir pelo menos 4% do PIB por ano em infraestrutura – apenas para a manutenção do que já está construído – de acordo com um estudo da consultoria Inter.B, pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada – Infraestrutura (Sinicon). Atualmente, esse número está abaixo dos 2%.
“As estradas, a malha de saneamento, iluminação pública, tudo isso precisa de um investimento contínuo só para não permitir que aquilo se deteriore. E note, não estamos falando nem de expandir, é só manter, só de manutenção”, comenta Rafael Bellas, coordenador de produtos da Investsmart. “Isso mostra a maior oportunidade que a gente tem para o tema. Esse tema precisa de muito financiamento, tem muito mato alto, para usar um termo mais informal”.
Para Samer Serhan, sócio e CIO da estratégia de crédito privado e infra da JiveMauá, apesar de um receio quanto ao mercado de crédito como um todo, o cenário é diferente para os investimentos no segmento de infraestrutura. Segundo ele, desde 2016, houve uma mudança importante no financiamento para esse setor. “De lá para cá, houve uma troca de mão de um financiamento público para o privado. BNDES, Caixa, Banco do Brasil e outros bancos regionais diminuíram a sua participação e os bancos privados aumentaram”, comenta. “Então, diferentemente de momentos similares que a gente teve no passado, de crises econômicas ou de mal-estar político, hoje a gente está menos sujeito a essas flutuações no mercado de infraestrutura”.
Em paralelo a essa mudança estrutural, houve avanços na regulamentação de produtos voltados ao financiamento para o setor. “Sempre foi um problema trazer fluxo de dinheiro para infraestrutura, mas a Lei 12.431, de 2011, que deu origem às debêntures incentivadas, foi um divisor de águas”, diz Bellas.
As debêntures incentivadas são títulos de renda fixa que podem ser emitidos por empresas para financiar especificamente projetos de infraestrutura. Com o objetivo de fomentar o investimento nesses papéis, o governo abriu mão da cobrança de imposto de renda sobre os rendimentos recebidos por pessoas físicas. Assim, as empresas conseguem captar a um custo menor. Do lado do investidor pessoa física, mesmo com o retorno nominal menor, o ativo ainda é competitivo na comparação com outras opções em renda fixa, já que não há essa cobrança pelo fisco.
Outro ponto que leva ao otimismo, apesar das turbulências no cenário macro, lembra Samer, é uma característica do setor: “infraestrutura não é um negócio que você simplesmente para e não financia mais. É diferente de consumo e serviços, que desaceleram conforme o PIB desacelera. Você não deixa de fazer uma linha de transmissão porque os juros subiram. Há uma inércia muito grande no setor de infraestrutura, que vem de alguns anos para cá”.
Debêntures incentivadas
Nos últimos anos, as debêntures incentivadas se consolidaram como uma das principais formas de investir em infra. Tratam-se de títulos de renda fixa cujos rendimentos são isentos de imposto de renda.
Antes de investir, é importante avaliar as características da emissão e do projeto. Segundo Bellas, um dos pontos a se analisar é o prazo: projetos mais longos e que envolvem a construção de ativos do zero tendem a ter mais incerteza do que os de mais curto prazo.
Outro ponto importante é o prazo de vencimento do papel. Para muitas debêntures incentivadas, o mercado secundário ainda é pequeno, e pode ser difícil de vender os papéis antes do prazo. Por isso, é crucial combinar o prazo da debênture com o prazo que você pode deixar o dinheiro investido.
FI-Infra (Fundos de Investimento em Infraestrutura)
Uma alternativa mais recente para investir no setor, ainda não tão conhecidos, são os fundos listados de infraestrutura (FI-Infra). Eles são similares aos fundos imobiliários (FIIs), que já caíram no gosto dos investidores brasileiros.
São fundos que investem, principalmente, em debêntures incentivadas. Assim como esses papéis, seus rendimentos são isentos de imposto de renda para as pessoas físicas. E diferente dos FIIs, até os ganhos de capital na venda das cotas são isentos.
“O mercado ainda é pequeno com relação aos fundos imobiliários tradicionais, mas é um mercado bem líquido que permite que o investidor possa sair no dia seguinte à decisão da venda, então ele não precisa esperar toda a maturidade [do título de renda fixa], o desenvolvimento daquele projeto”, diz Bellas.
Além da liquidez e da isenção de IR, outra vantagem desse produto é que há um gestor profissional que faz a escolha dos papéis da carteira do fundo, calibra o risco da carteira e opera no mercado secundário quando vê oportunidades. “O fundo listado com prazo indeterminado dá muita liberdade de gestão. O fundo capta recursos e pode investir, desinvestir, reinvestir sem ter preocupação com resgate”, explica Samer. “Do lado do investidor, se ele quer dinheiro na mão, ele vai na bolsa e vende a cota do fundo”.
Fundos abertos de infraestrutura
Existem também os fundos tradicionais de infraestrutura, que não são listados e que funcionam como outros fundos tradicionais de crédito, multimercados ou fundos de ações. Nesse caso, quando o investidor quer retirar o dinheiro investido, precisa pedir o resgate (em vez de vender suas cotas a mercado, como no caso dos FI-Infra).
Segundo Bellas, um ponto importante para quem prefere os fundos abertos é analisar o prazo de cotização e resgate: o ideal é que o prazo seja mais longo, de pelo menos 45 dias, diz ele.
Isso ajuda a mitigar o risco de descasamento entre ativo e passivo. Quando o investidor de um fundo pede o resgate de suas cotas, o gestor tem duas opções: ou usa o caixa do fundo para devolver o dinheiro, ou vende algum ativo para fazer caixa e fazer o pagamento ao investidor. No entanto, os títulos que esses fundos têm em carteira tendem a ter vencimentos longos e um mercado secundário que não é tão líquido quanto o de ações, por exemplo. Então, se muitos investidores pedem o resgate em um momento de estresse de mercado, por exemplo, o gestor se vê na obrigação de vender muitos de seus ativos. Se o prazo de resgate do fundo é curto, o gestor precisa fazer isso rapidamente e para isso, pode ter de vender os títulos a um preço ruim – o que prejudica a rentabilidade tanto dos investidores que pediram o resgate quanto de quem ainda se manteve no fundo.
Mas é uma questão de perfil do investidor, lembra Samer. Uma diferença importante dos FI-Infra para os fundos abertos é que, nos fundos abertos, não há tanta volatilidade no preço das cotas. “Há investidores que têm menos segurança para fazer investimentos, e preferem previsibilidade de resgate, mesmo que em prazos como D30, D60. A gente tem um fundo D360”, diz Samer. Ou seja: mesmo que o resgate demore mais, a volatilidade tende a ser menor nesse tipo de investimento.
Ações de empresas de infraestrutura
Fora do mercado de dívida corporativa, outra opção é investir em ações de empresas do setor de infraestrutura. “Como são empresas que têm uma visão e projetos de longuíssimo prazo, a gente acredita que o cenário macro não tem impacto tão grande. Tem que saber escolher as empresas e entender os projetos que eles vêm desenvolvendo. Então, a gente gosta muito, principalmente as AAA, que têm excelentes indicadores financeiros”, diz Bellas.
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