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É hora de comprar ações? E dólar? O que acontece se os dividendos forem tributados? Luiz Barsi responde

“O patrimônio massageia o ego, e o dividendo engorda conta bancária”, diz o megainvestidor. Veja essa e outras reflexões do “Rei dos Dividendos”

Vestindo uma jaqueta de couro, o megainvestidor Luiz Barsi Filho sobe ao palco da segunda edição do AGF Day com status de rock star, da mesma forma como no ano passado. A plateia, composta principalmente por investidores que seguem sua filosofia de investimentos, se levanta para receber Barsi. Centenas de pessoas filmam sua fala.

“A única trajetória viável de se constituir um patrimônio é investindo na geração de riqueza através da compra de ações a médio e longo prazo e de empresas que paguem bons dividendos”, diz Barsi, que arranca risadas da plateia ao disparar frases como “o ideal é ser pequeno dono de um grande negócio”.

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E apesar de falar a um auditório lotado, Barsi segue humilde. “Nunca tive a pretensão de ser um dos maiores investidores do mercado de valores. Projetei um trabalho e tinha esperança de que um dia pudesse ter daquela carteira uma renda mensal que me proporcionasse uma existência digna. O conforto financeiro proporcionado por essa carteira foi bastante compensador”, conta.

Luiz Barsi concede entrevista aos sócios da AGF durante o AGF Day. Foto: Divulgação
Luiz Barsi concede entrevista aos sócios da AGF durante o AGF Day. Foto: Divulgação

Entrevistado pelos sócios da AGF, o megainvestidor respondeu a perguntas do público. Confira os destaques:

Como diferenciar uma empresa que perdeu fundamento de uma empresa que é boa, mas está passando por um mal momento?

Barsi: Existe um elemento chamado histórico. O setor de varejo: qual é o histórico das empresas do setor de varejo? É terrível. O simples histórico é capaz de desestimular uma pessoa a comprar ação de uma empresa. Vejo também o setor de atividade da empresa. Existem os setores perenes, sem os quais a economia não vive, e outros que têm configuração de voo de galinha, que não têm a possibilidade de prosperar.

Existem alguns fatores a serem avaliados. Eu procuro saber a origem do gestor, se tem um histórico de resultados positivos, se é mau gestor. Também analiso se a empresa tem o compromisso com outros, ou com o acionista.

É muito importante conhecer a empresa. Hoje, está muito mais fácil conhecer a empresa do que quando eu comecei.

A situação atual está muito mais propícia para o cidadão comprar ações para finalidade de constituir carteira de renda mensal. Se você não tiver condição de comprar mil ações por mês, que compre menos, mas que compre.

Muito se fala hoje sobre dolarização de patrimônio. Do ano passado para cá, vimos o dólar caindo quase R$ 1. Como você vê essa questão da dolarização e como se proteger da eventual depreciação da nossa moeda usando dividendos?

Barsi: Eu acho que o dólar tem uma trajetória que não depende exclusivamente do Brasil. Depende de muitos outros fatores, inclusive entrada e saída de recursos do país. É uma moeda fácil de ser controlada por quem a emite, ou seja, os EUA. Nos EUA, dólar é moeda. Fora dos EUA, é título de crédito. Não acredito que o dólar vá cair muito. Eu não investiria em dólar. Investiria, como invisto, em ações de empresas que paguem bons dividendos.

Um indicador de que a empresa é boa é o fato de pagar dividendos trimestrais. É indicador que tem segurança de que vai ter recursos para distribuir trimestralmente. Sobre o dólar, é muito difícil fazer prognóstico.

Você tem medo da tributação de dividendos?

Barsi: O dividendo já foi tributado no país. Ocorre que nossa constituição proíbe um valor ser bi-tributado. E em função desse detalhe, foi banida a tributação sobre dividendo, que era de 10%. O dividendo, poucas vezes foi cogitado de ser tributado. É uma coisa que está se discutindo há três anos.

Para mim [mesmo se o dividendo for tributado], não vai afetar nada. Não vai afetar para ninguém.

A maior parte das empresas não paga mais dividendo, paga Juro sobre Capital Próprio, que é tributado em 15%. Quando o dividendo era tributado, muitas empresas recompravam ações e distribuíam. Se o dividendo voltar a ser tributado, acho que isso vai voltar a acontecer. A tributação de dividendo vai inibir o investimento. Esses argumentos pesam bastante, e têm pesado no sentido de não se aprovar a tributação do dividendo.

Agora, se for tributado, você vai ter uma perda de 10%.

Como você lida com quedas do mercado? Quando começou, ficava aflito com oscilações de mercado? O que diria para alguém que ainda fica aflito?

Barsi: O mercado me ensinou muitas coisas. Me ensinou que dividendo você ganha em função de quantidade de ações possuídas, não por valor aplicado. Se tem uma empresa que paga dividendo de R$ 0,10 e você tiver uma ação, vai ganhar R$ 0,10. Se tiver um milhão de ações, vai ganhar um milhão de vezes R$ 0,10.

Quanto a patrimônio, eu diria o seguinte: é uma coisa que tem que ser exorcizada. O patrimônio massageia o ego, e o dividendo engorda conta bancária.

As pessoas se atemorizam quando uma ação perde determinado valor. Mas pode variar para baixo, como seguramente vai variar para cima também. A pessoa fixar uma forma neurótica de pensar só no patrimônio eu acho errado. Quem compra ações tem que fazer como eu. Eu não me preocupo com patrimônio. Se tem desvalorização do patrimônio, quer dizer que vai poder comprar ações a preços melhores. É o que eu faço.

Já se arrependeu de não ter comprado uma ação?

Barsi: Sempre dei preferência para comprar ações de empresas que tenham resultados consistentes e crescentes. Tem muitas ações que subiram muito, mas que eu nunca teria comprado e não me arrependo.

O que eu posso dizer é que eu já tive ações que eu perdi. Mas perdi um dedo, mas não perdi a mão, porque tenho uma carteira de 12 ou 13 empresas.

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