Fazer aportes mensais, trimestrais ou anuais: qual a diferença?
“Mais importante que acompanhar as condições de mercado para ter um timing ótimo nos investimentos é ter o hábito de poupar e investir", diz a planejadora Clay Gonçalves
Élida Oliveira, especial para o Bora Investir
Quem pensa em investir pode ter dúvidas sobre a periodicidade dos aportes: devo guardar todos os meses, ou posso acumular e investir a cada três meses, por exemplo? E se não sobrar dinheiro todo mês, mas surgir algum ganho esporádico ao longo do ano? Posso investir uma bolada, isoladamente? Qual o efeito dessas opções no rendimento?
Em primeiro lugar, especialistas recomendam que os investidores conheçam a renda mensal de que dispõem, qual é o perfil de investimento e quais são os objetivos financeiros e os prazos para atingi-los. Só depois de conhecer essas três variáveis será possível avaliar as opções de investimentos disponíveis e a melhor periodicidade para aplicar.
“Ao decidir sobre a periodicidade dos aportes, é essencial avaliar a previsibilidade da renda, o perfil de investidor e os objetivos financeiros. A escolha entre aportes mensais, trimestrais ou anuais deve alinhar-se com as características pessoais de fluxo de caixa e com a tolerância a riscos”, afirma Wanessa Guimarães, sócia da HCI Invest.
Fique de olho na regularidade
Antes de decidir se você fará aporte mensal, trimestral ou anual, observe qual deles irá se encaixar melhor no seu perfil para seguir uma regularidade. Para Clay Gonçalves, planejadora financeira CFP pela Planejar, o mais importante é criar o hábito de poupar e investir. Se isso ocorrer mensalmente, melhor. Mas, se não for possível fazê-lo todos os meses, que seja a cada três meses, ou uma vez por ano – o investimento pode render um pouco menos, mas é melhor do que não investir.
“Mais importante que acompanhar as condições de mercado para ter um timing ótimo nos investimentos é ter o hábito de poupar e investir. As pessoas não controlam as condições de mercado, então fica difícil garantir uma estratégia eficiente para elas, mas as pessoas têm o poder de criar o hábito de investir todos os meses, e isso faz diferença”, afirma Clay.
Assim, a regularidade nos aportes ajuda a maximizar o potencial de retorno dos investimentos ao longo do tempo, aproveitando a diluição dos riscos na renda variável e o efeito dos juros compostos na renda fixa.
E se eu “pular” um mês?
Quando um investidor deixa a regularidade de lado, “pulando” um mês, trimestre ou até um ano, ele deixa de aproveitar esse crescimento contínuo, o que pode impactar o valor final acumulado.
Em um exemplo prático, explica Wanessa, cada período sem aporte reduz a base sobre a qual os juros incidem, o que diminui o efeito de multiplicação dos rendimentos. No longo prazo, essas lacunas podem representar uma diferença significativa no patrimônio acumulado, comprometendo a realização de objetivos.
Aporte mensal, trimestral ou anual: qual a diferença?
A frequência dos aportes influencia o crescimento do capital devido aos juros compostos. A cada mês ou trimestre em que um aporte é realizado, o valor acumulado aumenta, porque há juros sobre juros, maximizando o rendimento final.
Para mostrar isso em números, Nayra Sombra, planejadora financeira CFP pela Planejar, simulou investimentos no Tesouro Direto considerando uma rentabilidade média.
Para investimentos de R$ 1.000 ao mês, ao fim de um ano, o investidor terá acumulado R$ 12.540,54. Se investir R$ 3.000 a cada três meses, ele terá R$ 12.441,07 ao fim de um ano. E, se não investir manter os R$ 12.000 parados, ao fim de um ano, não terá rendimento.
Considerando essa mesma simulação em um período de dez anos, o investidor que aportou R$ 1.000 todos os meses terá acumulado R$ 199,8 mil, quem colocou R$ 3.000 terá R$ 198,2 mil, e quem colocou R$ 12.000 por ano terá R$ 191,2 mil.
Ano | Valor acumulado (mensal R$) | Valor acumulado (trimestral R$) | Valor acumulado (anual R$) |
1 | 12.540,54 | 12.441,07 | 12.000,00 |
2 | 26.335,13 | 26.126,24 | 25.200,00 |
3 | 41.509,18 | 41.179,93 | 39.720,00 |
4 | 58.200,63 | 57.738,99 | 55.692,00 |
5 | 76.561,23 | 75.953,95 | 73.261,20 |
6 | 96.757,89 | 95.990,41 | 92.587,32 |
7 | 118.974,22 | 118.030,52 | 113.846,05 |
8 | 143.412,17 | 142.274,64 | 137.230,66 |
9 | 170.293,93 | 168.943,17 | 162.953,72 |
10 | 199.863,86 | 198.278,55 | 191.249,10 |
Tudo depende do perfil do investidor
Apesar de os números indicarem maior vantagem para os aportes mensais, essa frequência pode não ser a realidade de todo mundo.
Há pessoas com renda estável, outros que recebem mais ou menos conforme a época do ano. A sócia do HCI Invest, Wanessa Guimarães, elaborou uma lista com algumas características de investidores nas quais uma ou outra periodicidade podem se encaixar melhor:
Aportes Mensais: indicado para investidores com renda fixa ou previsível, como assalariados, que podem comprometer um valor recorrente no orçamento. Os juros compostos incidem não só sobre o capital inicial, mas também sobre os rendimentos acumulados dos meses anteriores. É ideal para quem deseja maximizar o retorno total ao longo do tempo. São também vantajosos para quem investe em renda variável, porque permitem diluir o custo médio das aquisições ao longo do tempo e suavizar o impacto da volatilidade no preço dos ativos.
Aportes Trimestrais: Para quem possui uma renda mais variável ou busca um equilíbrio entre frequência e flexibilidade, os aportes trimestrais são uma alternativa. Essa periodicidade ainda permite aproveitar o efeito dos juros compostos e a diluição do preço médio em ativos de renda variável, mas com menor frequência de aportes. Esse modelo é ideal para quem deseja mais flexibilidade no orçamento, como profissionais autônomos que recebem com menor regularidade, mas ainda buscam uma certa consistência no investimento. É interessante para quem busca flexibilidade financeira e rentabilidade.
Aportes Anuais: Essa opção pode ser mais adequada para quem possui renda instável, como freelancers ou empresários, que têm receitas em períodos específicos, e preferem concentrar os aportes em uma única vez ao ano. Aqui, os juros compostos vão incidir de uma só vez, diminuindo o impacto da capitalização. Na renda variável, podem expor o investidor a um maior risco de volatilidade. Mas, por outro lado, o aporte anual abre portas para o investidor que deseja aplicar em ativos que exigem um montante mínimo alto para entrada, ou para negociar taxas melhores em investimentos de renda fixa.
Conservadores, moderados e arrojados: Para investidores de perfil conservador, aportes mensais e trimestrais podem oferecer uma sensação de segurança, por verem o patrimônio crescer de forma consistente. Já perfis moderados e arrojados, que buscam maior potencial de retorno e têm maior tolerância ao risco, podem se beneficiar de aportes trimestrais ou anuais, aproveitando momentos de mercado mais propícios para investir valores maiores.
E os custos?
É importante que os investidores observem as taxas de administração e impostos sobre os investimentos escolhidos. Na renda fixa, a tributação está associada ao tempo que o dinheiro fica investido, explica Clay Gonçalves, planejadora financeira CFP pela Planejar. Por isso, a frequência dos aportes pode fazer diferença no tempo total, ou seja, quanto antes se fizer o investimento, mais cedo se alcançará a alíquota mínima de imposto.
Na renda variável, o imposto está relacionado ao ganho de capital, portanto a periodicidade de aportes não será relevante para o cálculo do imposto.
Além disso, é preciso conhecer o potencial dos produtos para saber se o custo de investir vai valer a pena.
“As taxas não podem ser consideradas isoladamente. É importantíssimo conhecer o potencial dos produtos para saber se, mesmo com a taxa, o produto é robusto, valendo a pena pagá-la”, explica.
Para a planejadora, o ideal é contar com a ajuda de um profissional isento, que poderá alinhar os objetivos do investidor à carteira de investimentos, considerando todos os aspectos.
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