Investir melhor

“O mundo mudou no dia 2 de abril”, diz Azevedo, da Ibiuna. Como investir agora?

Guerra tarifária iniciada por Donald Trump trouxe incertezas e pode alterar os fluxos do comércio global

O dia 2 de abril pode ficar marcado por muito tempo na economia global. Essa foi a data em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou pela primeira vez seu pacote de tarifas às importações. “O mundo mudou no dia 2 de abril”, resume Rodrigo Azevedo, CEO e CIO dos Fundos Macro da Ibiuna Investimentos.

“A magnitude das tarifas colocadas pelos Estados Unidos é muito alta, muito relevante frente aos padrões históricos e a um mundo que vem sendo muito integrado do ponto de vista de cadeias produtivas ao longo dos últimos 30 a 40 anos. Houve uma reversão desse cenário. A gente ainda pode discutir se a mudança é permanente ou temporária, ainda vamos ter uma discussão sobre o nível das tarifas, que começam de fato em julho, mas acho que o mundo não volta para o que era antes”, diz Azevedo.

Durante o J. Safra Macro Day 2025, que aconteceu nesta segunda-feira (28/04), Azevedo compartilhou sua visão sobre o cenário atual. Mas ele faz o disclaimer: “todos nós temos mais dúvidas nesse momento do que respostas precisas”.

Na opinião do gestor da Ibiuna, o resultado das tarifas sobre a economia de países desenvolvidos deve ser uma inflação mais alta – mas esse efeito é temporário, “porque, ao mesmo tempo, devemos ter uma retração relevante de atividade econômica”.

Segundo ele, é provável que a guerra tarifária leve a um “mundo onde o nível de preço é mais alto, mas o nível de crescimento, mais para frente, é mais baixo”.

Também presente no painel, Carlos Woez, sócio-diretor e gestor da Kapitalo Investimentos, tem uma visão similar. “Na minha opinião, o posicionamento negocial dos EUA é muito ruim. Eu acho que se colocaram numa posição que facilitou para quem quer negociar duro, porque o apoio popular de qualquer líder que se coloca contra Trump é enorme, e a maior parte do mundo ocidental são democracias. Isso fortalece a posição de líderes de outros países nas negociações contra os EUA e dificulta a negociação para os americanos”, diz.

Além disso, ele lembra que o objetivo de Trump com a imposição das tarifas não está claro. “Há o objetivo de aumentar a produção industrial nos EUA e o de arrecadar mais. Mas se você quer arrecadar, as taxas têm de ser baixas, porque você quer que os produtos entrem no país com volume. Por outro lado, se você quer proteger o mercado e aumentar a produção local, as tarifas deveriam ser altas, porque você não quer que os produtos de fora entrem”, ressalta. “E a questão de usar a tarifa como moeda de negociação é incompatível com os dois outros objetivos”.

Vendo essa conjuntura se desenhando, Woez acredita que os impactos da política tarifária de Trump sobre a atividade dos EUA serão “mais abruptos do que o mercado está esperando”.

O que isso significa para os investimentos?

Uma transformação relevante como essa nos mercados demanda também uma mudança na alocação, dizem os gestores. “A gente teve uma mudança de política econômica muito grande. Os ativos que foram vencedores nos últimos 5 anos, sob uma política econômica mais liberal, provavelmente serão underperformers agora”, comenta Bruno Carvalho, CIO da J. Safra Asset. Segundo ele, a expectativa é de um cenário desafiador para a bolsa americana, com uma mudança na alocação entre ações e títulos. “Provavelmente agora que a gente vai ter menos crescimento e mais protecionismo, [a alocação] vai sair de um pouco das bolsas e vai migrar para bonds.”

Para Azevedo, o cenário atual exige dos gestores e investidores uma postura diferente da tomada em períodos de calmaria nos mercados e na economia. “Focamos em ter posições mais táticas e, principalmente, flexibilidade. É preciso entender que a gente está num mundo muito incerto e que o conjunto de informações novas que surge a cada dia é muito relevante. Então, você tem que estar de mente aberta para mudar de opinião”, diz. E para agir sobre uma mudança de opinião, é preciso ter liquidez, defende Azevedo.

Na avaliação dele, a maioria dos bancos centrais está entrando nesse choque com taxas de juros contracionistas mais altas do que o ideal. Isso pode levar a cortes nas taxas de juros mais acentuados do que o que era previsto antes do anúncio das tarifas. Assim, uma das posições do gestor da Ibiuna atualmente é na parte curta das curvas de juros, em títulos de renda fixa com vencimentos mais próximos.

Carvalho, da J. Safra Asset, concorda que há oportunidades de aplicar nesses títulos. “Num primeiro momento, dada a questão fiscal, eu tenho preferido alocar em bonds mais curtos, acho que é ali que tem um pouco mais de valor”, diz.

Além disso, Azevedo espera uma realocação de capital para fora dos EUA. “O mundo de uma maneira geral está muito alocado em EUA. Na sequência da covid, nós passamos por quase 5 anos em que os ativos americanos tiveram uma sobreperformance muito relevante. Então, o típico investidor global está sobrealocado em EUA, considerando essa incerteza e esse crescimento de prêmio de risco que a gente está vendo”.

Bruno Carvalho complementa. “A gente teve uma super alocação em S&P [500, um dos principais índices acionários dos EUA], a principal diversificação de investidores de todos os países para os EUA, especialmente bolsa americana. A alocação média do europeu cresceu muito, não só porque eles fizeram um porcentual de alocação maior, mas pela performance, essa alocação cresceu muito”, diz. “E agora, a gente está saindo para uma nova condição, que a gente passa a ver a partir do dia 2 de abril”.

Para conhecer mais sobre finanças pessoais e investimentos, confira os conteúdos gratuitos na Plataforma de Cursos da B3. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.