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Planejamento financeiro: intenção e prática ainda caminham em direções opostas no Brasil

Estudo da Planejar e DataFolha revela que 39% dos brasileiros gastaram mais do que ganharam no último ano, apesar de se considerarem organizados financeiramente

Apesar de 27% dos brasileiros se considerarem extremamente ou muito planejados financeiramente, e outros 32% se considerarem razoavelmente planejados, a realidade mostra um cenário desafiador: 39% gastaram mais do que ganharam nos últimos 12 meses e 43% não possuem nenhuma reserva. Os dados são da primeira edição da pesquisa “O planejamento financeiro do brasileiro: da consciência à prática” encomendada pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro) ao Datafolha, e revelam uma contradição entre intenção e prática.

A pesquisa mostra que apesar de se considerarem planejados financeiramente, uma parte relevante dos brasileiros não cumpre requisitos como ter reserva de emergência, seguros, planejamento sucessório e de aposentadoria.

Essa discrepância foi tema de debate no Congresso Planejar 2025. Para Altay de Souza, estatístico e psicólogo, a pesquisa evidencia a diferença entre decisão e escolha. “Decisão é um planejamento mental, olhando para mim mesmo no futuro. Escolha é observação do passado”, explicou. “Quando eu pergunto ‘você se acha uma pessoa organizada financeiramente?’, a pessoa responde olhando para si mesma no futuro. Quando eu pergunto ‘você guardou dinheiro nos últimos 12 meses?’, está falando da escolha. Escolha é o que você consegue fazer”.

O retrato do comportamento financeiro

O levantamento mostra que 41% dos brasileiros se consideram pouco ou nada planejados, enquanto 32% afirmam ser razoavelmente planejados. Ainda assim, 57% possuem algum dinheiro guardado, o que indica que, mesmo com dificuldades, parte da população busca criar reservas.

Por outro lado, 43% não têm nenhuma poupança, e quase quatro em cada dez pessoas gastaram mais do que ganharam no último ano.

A pesquisa mostra que dois terços dos entrevistados (64%) planejam suas despesas do mês sempre ou frequentemente. No entanto, o descompasso entre planejamento e execução aparece nos resultados: 39% dos brasileiros gastaram mais do que receberam no último ano.

“A pesquisa revela que as pessoas podem ter visões distorcidas de sua situação. Os altos índices de planejamento financeiro relatados são um verdadeiro contraste com a baixa aderência a ferramentas como seguro de vida ou previdência privada, por exemplo. Uma hipótese para isso é que o próprio conceito do bom planejamento financeiro não é claro para a maioria das pessoas,” afirma Ana Leoni, CEO da Planejar. “Muita gente se identificará com os achados desse estudo e esse é o primeiro passo para que elas se motivem a buscar segurança, rentabilidade e longevidade para o seu patrimônio”, diz.

Por que mudar comportamento é tão difícil?

Segundo Altay de Souza, a dificuldade está na distância entre intenção e ação. “Decisão e escolha são conceitos completamente diferentes. Decisão é um planejamento mental, olhando para mim mesmo no futuro. Escolha é observação do passado. Essa cisão explica por que tantas pessoas se consideram organizadas, mas não conseguem poupar”.

Essa perspectiva ajuda a entender por que, mesmo com acesso a informações e ferramentas, muitos brasileiros ainda enfrentam problemas para transformar planejamento em prática.

O papel das instituições e novas soluções

Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes, educação e pessoa física da B3, trouxe outro ponto para a discussão: a jornada do investidor e a necessidade de oferecer produtos que atendam às expectativas de segurança e simplicidade.

“Nos últimos anos, colocamos na prateleira uma série de produtos em que os brasileiros podem investir, como os BDRs, dando a possibilidade de o brasileiro investir em ações internacionais. Mas a gente também olha para a jornada”, contou Felipe Paiva.

Segundo ele, quase 20 milhões de brasileiros têm mais de R$ 10 mil na poupança – uma oportunidade para trazer essas pessoas para o mercado de capitais e fazer o financial deepening.

“Ao olhar desse ponto de vista da jornada, começa a olhar em como a gente muda comportamento. A gente tem o mito da poupança, mas será que os brasileiros realmente gostam da poupança, ou as instituições financeiras entenderam que o produto mais simples era poupança? Quando você começa a conversar, entende que o investidor brasileiro quer segurança e comodidade.

Segundo Paiva, esse comportamento explica o sucesso de soluções como caixinhas e cofrinhos, que simplificam a experiência sem exigir conhecimento técnico: “Esses produtos não entram em detalhes sobre o que está investindo, que é um RDB. Mas explicam que rende todo dia”.

Mudar comportamento exige mais do que informação. É preciso criar experiências que tornem a jornada do investidor simples, segura e alinhada às suas expectativas, ao mesmo tempo em que se reforça a importância da educação financeira.

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