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Quanto dinheiro preciso ter para me aposentar?

Saiba como calcular o valor necessário para a aposentadoria e onde investir

Mais da metade dos brasileiros que não se aposentaram pretendem economizar para essa fase da vida, mas ainda não começou. Só 19% da população já iniciou sua reserva para a aposentadoria, e 23% afirmam que sequer pretendem fazê-lo, indicou uma pesquisa da Anbima sobre o perfil dos investidores brasileiros. O tema de aposentadoria causa muitas dúvidas e preocupações, desde o valor que é necessário acumular para ter uma aposentadoria tranquila até onde investir o dinheiro com esse objetivo e como reajustar a carteira ano a ano. Saiba como se planejar.

Quanto preciso acumular para me aposentar?

“A primeira coisa é fazer os cálculos ao contrário. Eu preciso saber quanto que eu quero ter de renda nesse período”, explica Luciana Ikedo, planejadora financeira CFP e autora do livro Vida Financeira – Descomplicado, economizando e investindo.

Depois de definido esse valor mensal, ela diz que é necessário avaliar a expectativa de vida. “No Brasil, a gente hoje considera uma expectativa de vida de 90 anos de idade. Quando se fala dos Estados Unidos, por exemplo, já se considera 100 anos”, diz. Isso é uma estimativa. Afinal, claro que não é possível saber exatamente até quando se irá viver, mas é importante ter esses números em mente para se planejar.

A terceira informação é com qual idade a pessoa quer se aposentar – e descontar esse número da expectativa de vida. Por exemplo, uma pessoa que pretende se aposentar aos 62 anos, subtraindo esse número de 90, teria um período de usufruto de 28 anos. Assim, se consegue simular o quanto seria necessário guardar para ter os recursos necessários no futuro.

Outra forma é buscar um montante que dê ao aposentado uma renda passiva recorrente, sem usar o principal. Raul Sena, educador financeiro e fundador da escola de investimentos AUVP, explica uma conta que pode ser feita para se conseguir a renda mensal desejada somente com a rentabilidade do investimento. “Uma boa conta é multiplica o valor que você tem necessário de renda mensal por 12 [para calcular a renda necessária anual], e depois dividir por 0,06. A gente poderia dizer que uma carteira bem administrada vai render isso, para a pessoa conseguir viver da renda”, diz.

Por exemplo: alguém que busque uma renda mensal de R$ 5 mil na aposentadoria, multiplicando esse valor por 12 meses, teria uma necessidade de renda de R$ 60 mil no ano. O educador financeiro estima uma rentabilidade de 8% ao ano, mas no cálculo, considera ao menos 6%, para se ter uma margem de segurança. Dessa forma, a pessoa precisaria de R$ 1 milhão investidos.

O número pode impressionar e parecer uma meta distante. No entanto, segundo Raul Sena, é importante fazer esses cálculos. “Eu acho que ao saber a necessidade, a pessoa pode até conseguir [alcançar o objetivo] mais rápido”, diz.

“A grande questão é que os jovens pensam que têm a vida inteira. E normalmente quando a pessoa acorda para a ideia de construir uma aposentadoria, já passou dos 50 anos e tem pouco tempo para fazer isso”, diz. “Só que se você perguntar para qualquer idoso, o que ele vai te dizer é ‘nossa, passou muito rápido’”.

Como estimar a renda necessária na aposentadoria?

Esse valor deve ser considerado em valores presentes (de 2024, no caso). Afinal, não se sabe quanto será a inflação no período, e os investimentos a serem feitos que ajudarão a preservar o poder de compra.  

Luciana Ikedo lembra que é importante rever esses cálculos a cada ano, para considerar a inflação no período, e para reavaliar sua necessidade de renda e possibilidade de poupança. Pode ser que você mude seu padrão de vida com o tempo, e precise de uma renda maior no futuro para manter as mesmas comodidades a que se acostumou. Também vale um ponto de atenção no custo previsto com saúde. Afinal, os planos de saúde ficam mais caros conforme o segurado fica mais velho.

Recalculando a rota

Luciana Ikedo sugere rever o plano anualmente. Isso porque, além dos ajustes necessários no valor de renda pretendido, é preciso avaliar se você está conseguindo poupar tudo o que se propôs, se eventualmente conseguiu poupar mais e se os investimentos estão rendendo o valor esperado.

“Pode acontecer de em algum momento você ser mais eficiente na sua poupança, seja porque ganhou um bônus ou teve algum evento de liquidez que não esperava”, comenta a planejadora. Também é preciso avaliar se os rendimentos do investimento estão de acordo com o esperado. Se o plano previa uma rentabilidade de 6% acima do IPCA e naquele ano sua carteira rendeu menos, será necessário poupar mais para compensar.  

Como ajustar a carteira de investimentos ao longo do tempo?

Com o prazo longo até a aposentadoria, a rentabilidade dos investimentos é uma grande aliada. Por isso, avaliar onde deixar o dinheiro é importante. “A eficiência da alocação dos recursos e da gestão de carteira é fundamental para que este seja um plano exitoso. Então se eu tenho uma alocação de recursos mais eficientes, com ativos mais rentáveis, tudo isso vai reduzir o volume de esforço que eu preciso fazer, seja em relação ao tempo, seja em relação ao valor do aporte mensal”, lembra Luciana Ikedo.

Ela lembra que a diversificação é importante para que o investidor use todos os instrumentos que façam sentido para seu perfil de investidor. Pode-se combinar a previdência privada com títulos do Tesouro, como o Renda +, a crédito privado e a outros ativos mais arriscados como ações.

“Por exemplo, ter uma carteira de ações, durante a fase de acumulação, que visem o crescimento, o aumento aqui do valor da ação efetivamente, faz todo o sentido”, diz ela. Mas conforme o passar do tempo e conforme se aproxima a data esperada da aposentadoria, é preciso fazer mudanças para adaptar o portfólio a esse novo cenário.

“Quando você chega mais perto da aposentadoria ou até um pouco depois, deve rever o portfólio para o novo momento”, afirma Ikedo. O objetivo nesse momento passa a ser buscar ativos que gerem um fluxo de caixa, como os títulos de renda fixa que pagam cupons semestrais e ações mais focadas no pagamento de dividendos.

Raul Sena concorda que a alocação precisa mudar ao longo do tempo. “Um jovem de 18 ou 19 anos, por exemplo, não vai precisar daquele dinheiro que ele está investindo no momento. Então ele pode investir em empresas de crescimento, pode ter uma alocação maior em renda variável, etc”, explica. “Quanto mais a gente vai envelhecendo, precisa ir arrumando a carteira a cada 5 anos, por aí. Eu vou reajustando e definindo percentuais cada vez maiores para aqueles ativos que são capazes de me gerar renda”, diz Sena.

Além da mudança para os ativos que geram renda recorrente, os níveis de exposição a risco mudam com o tempo: quanto mais longe da aposentadoria, mais se pode alocar em ativos mais voláteis, já que há tempo de recuperar eventuais perdas. Com o passar dos anos, a alocação deve ficar mais conservadora, para que se tenha segurança de ter o dinheiro quando necessário.

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