Renda fixa em boa fase: como aproveitar momento histórico da aplicação em 2025
Incertezas fiscais no Brasil e sinalização do Federal Reserve de cortes mais lentos nos juros dos EUA impulsionam renda fixa
Por Maeli Prado
“A renda fixa vive um momento histórico”. Essa frase, ou variações dela, é o que mais se ouviu ao se conversar com profissionais do mercado financeiro nas últimas semanas de 2024 e, ao que tudo indica, valerá também para 2025.
Em meio às incertezas fiscais do Brasil e à sinalização recente do Federal Reserve de que a queda de juros não será tão acentuada nos Estados Unidos, as taxas do Tesouro Direto prefixado ultrapassaram os 15% e os títulos IPCA+ estão acima de 7%.
O Bora Investir consultou especialistas em renda fixa para entender quais as expectativas para o ano que vem. E a resposta é que os títulos públicos e bancários devem continuar oferecendo um retorno muito satisfatório até pelo menos o final de 2025, e talvez parte de 2026.
A avaliação é que, em um momento em que esses papéis oferecem retornos elevados com baixa chance de calote, não há muita razão para o investidor arriscar muito.
Retorno com pouco risco
Para Julio Ortiz, sócio-fundador da CX3, se for confirmado o cenário de um IPCA de 4,60% e uma Selic de 15% ao ano em 2025, como espera boa parte do mercado, será possível ver as taxas dos títulos atrelados à inflação se aproximando dos 10%. “Não lembro de ter vivido um momento parecido”, diz. “É uma taxa imbatível para o investidor.”
Tanto que a XP Investimentos, por exemplo, elevou o peso recomendado para investidores moderados e arrojados de títulos atrelados ao IPCA+, considerados os atuais queridinhos pelo fato de garantirem a inflação mais um retorno que hoje chega a quase 8%.
Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, aponta que a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que sinalizou mais duas altas de 1 ponto na taxa básica em 2025, reforçou a onda favorável à renda fixa.
“Já estávamos com uma perspectiva para o ano que vem bastante otimista em relação à renda fixa, em especial para os títulos atrelados à inflação”, afirmou. “Depois da última reunião do Copom, isso foi consolidado.”
De acordo com Dolle, a casa espera que a Selic alcance 15% no ano que vem.
“Com a Selic a 15%, os retornos dos investimentos em renda fixa, como títulos públicos, CDBs, LCIs e LCAs, tendem a ser bastante competitivos, oferecendo remunerações superiores sem a necessidade de exposição a riscos elevados, como ocorre em outros tipos de ativos”, avalia Lucas Pereira, analista de renda fixa da AMW.
O que levar em conta na hora de escolher renda fixa em 2025?
Especialistas apontam que o bom momento é generalizado para os diferentes tipos de papéis: prefixados, atrelados à inflação e pós-fixados. Mas ressaltam que cada título tem características próprias, que devem ser consideradas, e que é essencial casar vencimentos com objetivos – lembrando que resgatar os papéis antes pode não ser uma boa ideia.
Diversificar a carteira é uma regra de ouro, e isso vale para qualquer tipo de ativo, incluindo a renda fixa. Além dos títulos do Tesouro Direto, o investidor pode optar por papéis bancários, como CDBs, LCAs e LCIs. Ortiz aponta que mesmo bancos maiores, mais sólidos, estão oferecendo bons percentuais do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) – entenda aqui o que isso significa.
“Até mesmo os bancões querem ficar mais líquidos, preocupados com eventuais problemas de crédito por causa dos juros altos, e estão reforçando o caixa neste momento”, diz ele.
Nesse sentido, é importante lembrar que as remunerações dos papéis bancários variam de acordo com prazos, valores iniciais de investimento e a qualidade do emissor do título, e que é recomendável investir sempre no limite dos R$ 250 mil que são reembolsados pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) em caso de calote.
Dolle, da XP, recomenda que o investidor investigue o perfil dos emissores de títulos bancários como forma de evitar correr riscos desnecessários. “Temos recomendado muito observar quem é o emissor, quais os riscos envolvidos, e se a taxa realmente reflete o risco que será corrido.”
O que ter em mente ao investir em prefixados, pós e IPCA+?
Quando se fala dos títulos prefixados, por exemplo, é importante saber que sua taxa é definida no momento da aplicação, e não muda até o dia do resgate. Isso quer dizer que o retorno é “travado” naquele patamar.
Deve estar claro para o investidor que, se o Banco Central está no meio de um ciclo de alta dos juros, novos prefixados poderão ser emitidos a taxas ainda maiores que os 15% previstos hoje pelo mercado como o pico do ciclo atual. Em outras palavras, se esse patamar for insuficiente para domar a inflação, o BC pode ter que recorrer a uma Selic ainda mais alta.
Para Ortiz, da CX3, o momento atual é tão favorável para a renda fixa que o investidor conservador pode inclusive priorizar o conforto do título pós-fixado, como o Tesouro Selic, que segue os juros básicos, sem tomar riscos e com uma rentabilidade considerada muito boa.
“Títulos atrelados à Selic tendem a capturar rapidamente a alta dos juros, enquanto os prefixados podem ser uma boa escolha para quem acredita em uma estabilização ou queda futura das taxas”, lembra Pereira, analista de renda fixa da AMW.
Para Pereira, ativos como o Tesouro Selic e CDBs pós-fixados se destacam como opções muito atrativas. “Esses instrumentos oferecem uma combinação vantajosa de liquidez e alta rentabilidade, tornando-se ideais para quem busca segurança em um ambiente de maior cautela econômica.”
Já os títulos públicos atrelados à inflação, como o IPCA+, vêm sendo os mais recomendados pelos especialistas para aqueles que podem esperar até o vencimento, já que garantem um retorno considerável além da variação de preços do período.
Na avaliação de Pereira, da AMW, os títulos atrelados à inflação são interessantes para investidores de perfil mais arrojado.
“Para investidores com um perfil mais arrojado ou com objetivos de longo prazo, as NTN-Bs [ou seja, o Tesouro IPCA+] podem ser uma excelente escolha, especialmente se alinhadas a um planejamento financeiro bem estruturado”, diz. “Esses títulos proporcionam uma remuneração baseada em juros reais elevados, além de oferecer proteção contra a inflação por serem indexados ao IPCA.”
E quanto tempo os bons ventos da renda fixa durarão?
Na avaliação de Ortiz, esse movimento vai durar todo o ano de 2025, já que 2026 é ano de eleição, e o especialista considera pouco provável que medidas impopulares de cortes de gastos sejam tomadas no período.
Dolle, head de renda fixa da XP, tem uma avaliação similar.
“Mesmo que a gente comece um ciclo de baixa já no segundo semestre do ano que vem, as taxas continuam bem elevadas”, diz. “Lembrando que investimento deve ser algo contínuo. Sempre temos que repensar a nossa alocação, ficando atentos a mudanças de cenário ou à hora de realizar novos investimentos.”
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