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Renda fixa fica (ainda mais) atraente após o Copom

Especialistas veem oportunidades em títulos prefixados, pós-fixados e híbridos na renda fixa

Por Maeli Prado
A alta na taxa básica de juros pelo Banco Central, que levou a Selic a 11,25% ao ano, e a vitória confortável de Donald Trump na disputa pela presidência dos Estados Unidos dominaram o noticiário econômico ontem, e apontam na mesma direção: juros altos por mais tempo, um cenário que deve reforçar a atratividade da renda fixa conservadora. 

Após a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que decidiu de forma unânime acelerar o ritmo de alta da taxa básica para meio ponto percentual, economistas reforçaram a expectativa de que o BC continue a elevar a Selic, com a possibilidade inclusive de aumentos maiores nas próximas reuniões. 

A expectativa de analistas ouvidos semanalmente pelo BC no Boletim Focus é que a taxa encerre este ano em 11,75% ao ano e 2025 em 11,50% ao ano, patamar acima do atual.  

“A renda fixa está com taxas bastante atraentes, e consegue oferecer retornos mais que satisfatórios aos investidores”, afirma Lucas Taxweiller, senior investment advisor da Warren Investimentos. 

Especialistas ouvidos pelo Bora Investir lembram que a força mostrada por Trump nas eleições americanas permite ao novo presidente americano implementar políticas mais protecionistas e inflacionárias, o que pode estimular juros americanos maiores no futuro – ontem houve uma disparada dos títulos soberanos dos EUA. 

Esse movimento, ao lado dos riscos em torno das contas públicas brasileiras, joga a favor de juros mais altos no Brasil, já que a Selic precisa ser atrativa para continuar atraindo investimentos estrangeiros.

Bom momento generalizado

O bom momento para títulos públicos é generalizado para os diferentes tipos de papéis, mas é importante ter em mente que a máxima da diversificação também vale para a renda fixa: papéis pós e prefixados e atrelados à inflação têm seus pontos fracos e fortes, e devem ser balanceados na carteira do investidor.  

Os títulos públicos atrelados à inflação são apontados como os atuais queridinhos por especialistas em renda fixa, já que algumas opções garantem um retorno de quase 7% em cinco anos, além da inflação do período.   

É importante lembrar que os papéis atrelados à inflação permitem proteger o seu dinheiro da variação de preços. As opções do Tesouro Direto pagam o índice oficial de inflação até o vencimento do título (um retorno pós fixado) mais uma parte prefixada de juros. 

O Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029, por exemplo, está garantindo ao investidor, além da inflação do período, uma taxa de 6,83%. “De forma geral, continuamos mais positivos para ativos IPCA+, principalmente para prazos intermediários e mais longos”, afirma Camila Dolle, head de renda fixa da XP Investimentos. 

É uma avaliação parecida com a de Taxweiller, da Warren. “Alguns vencimentos do Tesouro Direto IPCA+ oferecem hoje retornos que praticamente dobram o patrimônio do investidor em termos reais em 10 anos”, lembra. 

Fabiano Zimmermann, head de renda fixa do ASA, também acredita que o momento é muito interessante para os títulos de inflação.

“Hoje temos um dos maiores juros reais do mundo. E temos títulos de inflação, de qualquer maturidade, dois, cinco, 10 anos, pagando inflação mais 6%. É a melhor alocação da renda fixa”, opina. 

Títulos prefixados de renda fixa

Outro investimento interessante citado por especialistas é nos títulos prefixados, que vêm pagando taxas cada vez mais atrativas, chegando a quase 13%, dependendo do vencimento. Os juros desses papéis são definidos no momento da aplicação, e a taxa não muda até o dia do resgate, ou seja, o retorno é “travado” em um determinado patamar.

Nesse caso, o investidor tem que ter cuidado com a seguinte possibilidade: se o BC está em meio a um ciclo de alta da taxa básica de juros, novos prefixados poderão ser emitidos a taxas maiores no futuro. É por isso que, tradicionalmente, o melhor momento para adquirir papéis pré é quando a taxa básica está em queda ou estável.

De qualquer forma, os prefixados se tornam muito interessantes quando comparados a investimentos de alto risco, como renda variável.

De acordo com Dolle, nesse caso a visão da XP é “mais conservadora”, com aposta em prazos mais curtos. “Esse é um papel que sofre mais com as variações, com as incertezas do mercado. E ainda temos algumas incertezas pela frente, apesar de a gente ter tido já o resultado das eleições nos Estados Unidos e a reunião do Copom. Um anúncio de pacote fiscal também deve reduzir as incertezas, mas de forma geral os prefixados podem machucar mais, então preferimos prazos mais curtos”, disse. 

Pós-fixados

Os pós-fixados são papeis interessantes em um momento de Selic elevada, lembrando que investimentos como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), oferecidos pelos bancos, são em grande parte atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), a referência da renda fixa, que acompanha de perto a Selic.

Essas remunerações variam de acordo com prazos, valores iniciais de investimento e a qualidade do emissor do título. A qualidade desses papéis deve ser avaliada com cuidado pelo investidor, já que quanto maior a remuneração, maior o risco. É importante lembrar de investir sempre no limite dos R$ 250 mil que são reembolsados pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) em caso de calote. 

Para investimentos com objetivo de acumular reserva de emergência, o mais indicado é mesmo o Tesouro Selic, que acompanha a taxa básica e que tem liquidez diária. 

Crédito privado

Especialistas lembram que, no caso de títulos de crédito privado, o sinal de alerta segue aceso. Isso porque, em um ano de forte interesse por esses papéis, os emissores passaram a oferecer prêmios menores, reduzindo o spread, ou a diferença entre a taxa de juros oferecida pelas empresas para captar recursos e a paga pelos títulos públicos. 

Essa comparação é importante porque os títulos públicos são considerados os mais seguros da economia. Quando uma empresa, por melhor que seja, quer pegar dinheiro emprestado, espera-se que ela pague uma taxa maior do que o Tesouro. Afinal, seu risco é maior.

“Vemos sim oportunidades em crédito privado, mas é preciso olhar com muita cautela, caso a caso”, diz Dolle, da XP Investimentos. “É necessário cautela principalmente com empresas mais alavancadas, prestando atenção na tendência de alta de juros daqui para a frente”, lembra.

Zimmermann, do ASA, acredita que este não é o melhor momento para investimento em crédito privado. “Se você não tem nada de crédito privado na carteira, dado o nível dos spreads, que fecharam muito, não acho que seja a hora de alocar. Os títulos de crédito privado estão pagando muito pouco em relação aos títulos soberanos.”

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