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“Touro na jaula”: Brasil tem surfado bom momento do mercado externo, apontam gestores

Gestores avaliam que o Brasil tem conseguido atrair fluxo de capital por manter juro real elevado. Corte de juros nos EUA pode aumentar

O cenário macroeconômico internacional tem favorecido o Brasil, e a próxima semana pode ser decisiva. “O Brasil está sendo levado pelo macro internacional. Agora estamos em modo de espera para ver quando o Fed corta juros, isso abre espaço para BC cortar também”, afirmou Leandro Marinho, da Optiver, durante o B3 Week nesta terça-feira (09). “O Brasil é um touro na jaula”, brincou.

Para gestores presentes no evento, uma possível redução de juros no exterior pode incentivar um novo fluxo de capital para o Brasil. Ricardo Nuno, do Itaú, destacou ainda que o bom momento para os mercados emergentes nos últimos meses está ligado ao que acontece nos Estados Unidos. “O enfraquecimento do dólar ajudou mercados emergentes, até mesmo países desenvolvidos se beneficiaram. Com menos ruído na geopolítica, acho que começaremos a ver um cenário mais positivo olhando para a frente”, disse.

Além do cenário externo, as elevadas taxas de juros no Brasil contribuem para atrair capital. “Temos a ajuda dos juros locais em patamares muito altos, e que vão continuar pelo menos até o começo do ano que vem. Acho que o BC tem feito um bom trabalho, com o juro alto e o discurso de high for longer [manutenção das taxas elevadas por mais tempo]”, diz Nuno.

Felipe Guerra, da Legacy Capital, concorda que o movimento que estamos enfrentando é fruto do que acontece no exterior. “O Brasil não fez por merecer”, disse. “O que o Brasil fez para participar da festa é manter os juros altos reais. No curto prazo, o juro real é de 11%. O Brasil tem que pagar juro alto para atrair fluxo de capital, porque temos esse desequilíbrio fiscal que precisa ser endereçado”.

Perspectivas para os EUA

Para Guerra, apesar do cenário turbulento, as perspectivas para a economia americana são positivas. “Em termos macro, estamos enfrentando um dilema. Se olharmos para o curto prazo, temos incertezas com tarifas e geopolítica, a percepção de que há pressão sobre a inflação, com mercado de trabalho enfraquecendo”, disse Guerra. “Mas acreditamos que isso é o curto prazo. Em 2026, provavelmente teremos juros mais baixos, o efeito das tarifas já vai ter passado”, completa

Além disso, a expectativa de Guerra é de que a administração do presidente Donald Trump indique membros de posição mais dovish (ou seja, propensos à maior redução das taxas básicas de juros) para integrar o FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto, o equivalente ao Copom no Brasil). “Com isso, teremos menos incerteza, juros mais baixos e um Fed mais dovish. Acho que estamos no começo, a produtividade pode crescer. É um cenário positivo para os próximos anos”, conclui Guerra.

Marinho, da Optiver, também avalia que as turbulências de curto prazo tendem a se dissipar. “Vemos alguma turbulência recentemente, com picos de volatilidade, mas logo em seguida a volatilidade volta a cair. Isso aconteceu com deepseek no ano passado, e novamente nesse ano com o Liberation Day [data em que Trump anunciou as tarifas de importação, em abril]”, concordou. “Precisamos estar preparados para rápidas mudanças no cenário, precisamos ajustar os modelos”.

Bolha à vista?

Questionado sobre se há uma possível bolha se formando no mercado de ações nos EUA, Marinho foi cauteloso. “Tentamos ver o que o mercado está nos contando. Há sinais, pessoas estão comprando proteções, se preparando para uma crise que pode acontecer. Mas as pessoas estão ainda com um sentimento muito bullish [otimista]. Mas com o mercado de hoje, você tem formas de se proteger. Acho que o mercado está preocupado, mas está indo bem”, afirmou.

Guerra, por sua vez, diz não vê risco de bolha. Segundo ele, nos últimos 3 anos, o mercado tem sido surpreendido pelos resultados das empresas. Com o aumento do lucro, os múltiplos das empresas hoje estão em linha com o que estavam um ano atrás.

“Não me preocupo com uma bolha em ações. O que preocupa é mercado de dívida”, afirmou. Segundo ele, os governos elevaram suas dívidas, e uma equalização das contas públicas tem sido politicamente difícil em diferentes países. Com os temores quanto à piora do fiscal, notícias negativas podem rapidamente levar a uma alta nas curvas de juros.

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