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Warren Buffett: métodos de investimento para seguir – e quais ignorar

Megainvestidor americano ficou conhecido pela habilidade de comprar ações. Hoje, Buffett acumula fortuna de US$ 13,7 bilhões

Élida Oliveira, especial para o Bora Investir
Quem já se aventurou em alguma pesquisa sobre investimento em ações deve ter se deparado com conceitos como ter paciência a longo prazo e investir em empresas sólidas. Esse é, basicamente, o modo como o megainvestidor Warren Buffett fez fortuna. 

Aos 93 anos, o americano acumulava em 19 de junho um patrimônio líquido de US$ 134,3 bilhões, segundo a Forbes. A fortuna vem principalmente de sua participação de 15% na Berkshire Hathaway, empresa com uma vasta carteira de investimentos, montada por Buffett e seu sócio Charlie Munger, que morreu no fim de 2023. O portfólio inclui ações da Apple, Bank America, American Express e Coca-Cola.

De olho na rentabilidade, muitos investidores observam as estratégias de Warren Buffett a fim de replicar e obter os mesmos lucros (ou pelo menos parte deles).

A visão de negócio de Buffett está nas cartas anuais para os acionistas, que são publicadas nos relatórios e balanços que a Berkshire apresenta todos os anos ao mercado, uma obrigatoriedade de companhias que têm capital aberto na Bolsa de Nova York (Nyse). Os textos são escritos de uma forma simples e acessível, de modo que os acionistas da Berkshire possam compreender as decisões da empresa.

Esses documentos mostram como a empresa se tornou um conglomerado com enorme carteira de ações – e são esses ensinamentos que atraem os investidores que querem enriquecer seus próprios portfólios. 

Outra fonte de estudo para quem quer conhecer o método de Buffett é a biografia “A bola de neve: Warren Buffett e o negócio da vida”, um calhamaço de quase 1.000 páginas, também disponível em audiolivro. Nele, a biógrafa Alice Schroeder narra a trajetória de vida e negócios de Buffett, com aprendizados, erros e acertos – o que também serve de inspiração para quem quer se aventurar no mercado de ações.

Mas quais ensinamentos são os mais relevantes para seguir? 

Ouvimos dois especialistas do mercado: o sócio e analista de ações da Nord Research, Henrique Vasconcelos, e o CRO do Grupo NanoCapital, Daniel Sabino, para entender parte do legado de Buffett. Confira, abaixo, os pontos citados por eles.

Paciência e fé nos juros compostos

A análise gráfica da evolução da fortuna de Buffett mostra que, a partir dos 66 anos, o acúmulo de patrimônio do megainvestidor cresce vertiginosamente. Esse é o resultado do tempo e dos juros compostos sobre o dinheiro. Atualmente, mais de 95% da fortuna do megainvestidor é resultado dos juros sobre juros.

Isso acontece porque o rendimento de juros compostos se dá sobre a rentabilidade já alcançada. Traduzindo o conceito em números: se você investir R$ 1.000 com juros a 5%, no primeiro mês você terá R$ 1.050, no segundo mês o rendimento se dará sobre os R$ 1.050 (e não sobre os R$ 1.000 iniciais), chegando a R$ 1.102,50. Assim, a conta-gotas, você vai acumulando mais patrimônio.

Busque empresas simples de entender

Um dos grandes ensinamentos de Buffett é investir em empresas que tenham um modelo de negócio fácil de entender – algo que o investidor conheça, se sinta à vontade e considere simples. 

Ele também procurava negócios sólidos, em que mesmo com erros de administração, seria possível manter a saúde financeira da companhia. Em palavras bem simples, seria algo como “mesmo errando, dá para acertar”. Empresas com receita recorrente, boa governança e que feche sempre com lucro em caixa são boas apostas.

Na carteira de investimentos da Berkshire, há empresas como a Coca-Cola e Amazon, por exemplo. Ele também investe em bancos, serviços de pagamentos e petroleiras.

Para Buffett, crise é oportunidade de comprar boas empresas

Com o passar dos anos, Buffett passou a reconsiderar o investimento em ações de empresas que estavam “baratas” – ou melhor, ele trouxe mais complexidade para essa aquisição. O megainvestidor busca, sim, boas oportunidades em relação ao preço das ações, mas não de qualquer empresa. O foco é aplicar em negócios de qualidade que estejam sendo oferecidos a um bom custo, o que acontece, geralmente, em crises.

Essa busca exige atenção ao mercado e sangue frio para agir na hora certa. Em 2008, quando houve a Crise do Subprime nos Estados Unidos e o mercado ficou tenso sem saber o que haveria dali para a frente, Buffett publicou uma carta no jornal The New York Times com o título “Compre a América. Eu estou comprando” (Buy American. I am). 

A manobra era feita por meio dos seus investimentos pessoais, para não assustar os acionistas da Berkshire. No texto, o megainvestidor afirma que estava comprando ações de empresas americanas porque sabia que, no longo prazo, elas iriam se recuperar. É deste artigo que vem a frase “Tenha medo quando os outros são gananciosos e seja ganancioso quando os outros estão com medo”.

O preço das ações é diferente do valor da empresa

Buffett costuma analisar o valor intrínseco da empresa, e não o preço da ação. Na hora de escolher onde investir, ele observa o potencial daquela companhia e o quanto ela pode render. 

Para saber de tudo isso, não tem mágica. Precisa de dedicação. Buffett passa de 6h a 8h do dia lendo balanços e contabilidades de empresas – uma fonte de informação primária que poucas pessoas têm condições (e tempo) de buscar. Por isso, poucas pessoas conseguem ligar os pontos e ver as informações que ele consegue encontrar.

Analise suas opções e não siga a onda do mercado

Aquela bronca das mães também como orientação para os investimentos: você não é todo mundo. Não é porque o mercado está indo atrás de uma modinha que você precisa ir também. 

Buffett sempre orientou suas decisões de investimentos com base em parâmetros objetivos, sem seguir a onda do mercado. Um exemplo, conta Sabino, foi quando adquiriu as ações da Coca-Cola na década de 1980. 

Naquela época, o mercado estava atraído pela Pepsi, e a Coca-Cola enfrentava uma crise de fuga de consumidores por ter mudado sua fórmula – e as ações tombaram. Buffett analisou a situação e viu oportunidade na compra dos papéis da Coca.

Para ele, a empresa tinha alto potencial de gerar lucro com reajustes anuais de poucos centavos, dado o volume de refrigerante que vendia em todo o mundo. E, para resolver a crise da fórmula, bastava voltar ao que era antes. Deu certo.

Quais ensinamentos de Buffett ignorar

Warren Buffett olha para o mercado de investimentos procurando oportunidades na compra de ações de empresas sujeitas a flutuações que podem não cair bem no estômago dos mais conservadores. Se você não tem perfil para o mercado de renda variável, pode ignorar vários dos métodos de Buffett.

Para se ter uma ideia da flutuação que pode ocorrer, no início de junho a fortuna de Buffett caiu R$ 3,3 bilhões em um único dia. A queda foi motivada por um recuo em diversas ações de empresas que fazem parte do portfólio da Berkshire Hathaway, movimento influenciado pelos juros americanos. 

Quem pensa em investir no curto prazo ou precisa de rendimentos periódicos também pode deixar de lado a visão e análise de Buffett – os ensinamentos e a filosofia dele são voltados para o longo prazo.

Os fãs de Fundos Imobiliários também não encontram espaço nos ensinamentos de Buffett – ele prega exatamente o contrário das características deste investimento que é uma das queridinhas dos brasileiros por garantir renda periódica com dividendos. Para Buffett, se a empresa distribui lucros, ela não faz caixa e não tem potencial de crescimento.

E quem não tem recursos para investir e deixar o dinheiro lá, parado, deve correr de Buffett. A visão de mundo dele é no longo prazo. No entanto, o valor do patrimônio de quem quer investir como ele é indiferente – o que conta, aqui, são os fundamentos aplicados para ver a rentabilidade acontecer, seja sobre o recurso que for.

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