Rotativo do cartão de crédito: 8 perguntas frequentes
Modalidade tem os maiores juros do mercado, 437% ao ano, e incentiva o endividamento. Presidente do BC sugeriu substituir rotativo por um parcelamento com juros menores
O Banco Central, o governo, o varejo e instituições financeiras têm discutido alterações nas operações com o rotativo do cartão de crédito, para reduzir a inadimplência – que é uma das maiores do mercado.
O cliente entra no rotativo quando não paga o valor total da fatura e joga a dívida para o mês seguinte. Os juros chegam a 437,3% ao ano, em torno de 15% ao mês, sendo a modalidade de crédito mais cara do país, segundo o BC.
Em junho deste ano – último dado disponível – a inadimplência no rotativo do cartão de crédito atingiu os 49,1%. O valor é um pouco abaixo de maio, quando chegou a 53,4%. Os dados são do Banco Central.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que já há uma alternativa na mesa. Saiba mais abaixo sobre essa opção e outra que já foi colocada em prática para reduzir os juros dessa linha de crédito.
Qual a opção estudada para o rotativo do cartão?
Na semana passada em audiência no Senado, o presidente do BC afirmou que o rotativo do cartão de crédito deve acabar.
Segundo Roberto Campos Neto – pela proposta estudada – o cliente que não pagar a fatura na sua totalidade, ao invés de entrar no rotativo, irá direto para um parcelamento com taxas de juros menores.
“A solução está se encaminhando para que não tenha mais rotativo – que o crédito vá direto para o parcelamento, que seja uma taxa ao redor de 9%. E que a gente crie algum tipo de tarifa para desincentivar esse parcelamento sem juros”, afirmou.
O cartão de crédito hoje representa 40% do consumo do país.
Quando essa mudança deve entrar em vigor?
O martelo ainda não foi batido. No entanto, o presidente do BC disse que nas próximas semanas alguma solução será apresentada.
“Nós temos um prazo de 90 dias para fazer e vai ser feito”, concluiu Campos Neto.
Essa é a única proposta em discussão?
Não. Ainda existem duas ideias que estão na mesa de negociações.
1. Limitar os juros do cartão de crédito: entretanto, essa medida poderia levar os bancos a retirarem cartões de circulação. “Ao cortar número de cartões, sabe como começa, mas não sabe como termina”, disse o mandatário do BC. No Congresso, há um projeto de lei que cria um teto de 8% ao mês para a modalidade – algo que o setor quer evitar a todo custo.
2. Alterações nas compras parceladas: acabar ou limitar a opção de dividir os pagamentos no cartão sem juros para qualquer tipo de compra. A ideia é duramente criticada por associações de varejistas, pois pode limitar as vendas.
Por que os juros do rotativo são tão caros?
Isso acontece porque a cobrança é feita com juros compostos, ou seja, o tão conhecido juros sobre juros – o que aumenta a dívida de forma exponencial. Ao não pagar a totalidade da fatura, o valor que ficou é jogado para o mês seguinte, acrescido de juros.
A inadimplência nessa linha é a principal explicação para os juros exorbitantes cobrados pelas instituições financeiras.
Um outro fator é o parcelamento sem juros feito por muitas varejistas. O risco do não pagamento pelo cliente fica para os bancos e não para a loja.
Por isso, o presidente do BC defende uma medida técnica e não momentânea. “Queremos uma queda de juros de forma estruturada. Às vezes os critérios técnicos se distanciam dos anseios, e nosso trabalho é explicar”, disse Campos Neto.
Quais são as ajudas disponíveis para quem entra no rotativo?
Em 2017, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou uma resolução (4.549) que acabava com o pagamento mínimo de 15% da fatura.
A mesma medida também passou a obrigar os bancos e instituições financeiras a oferecerem uma outra opção de parcelamento, com juros mais baratos, se após 30 dias o cliente que entrar no rotativo não pagar o valor restante da fatura.
Se não quero entrar no rotativo, posso parcelar o valor da futura?
Pode sim. O mercado já oferece uma opção de parcelamento da fatura do cartão de crédito. Os juros dessa linha precisam estar abaixo do cobrado no rotativo, mas ainda assim são altíssimos.
O cliente que optar por parcelar a fatura, vai pagar juros de 196,1% ao ano, segundo o Banco Central. Tanto que a inadimplência dessa modalidade atingiu em junho 9,9%, ante os 8,7% em maio. Esse é o maio nível desde o início da série histórica do BC, há 12 anos.
E o tal crédito via Pix, vai rolar?
A iniciativa ainda não foi anunciada oficialmente pelo BC. A ideia é criar uma oferta de crédito via Pix, que não demandará o uso de cartão de crédito.
O que dizem os bancos e o varejo?
“Entendemos ser necessária a diluição dos riscos entre os elos da cadeia, hoje concentrados nos bancos emissores que suportam todo o já elevado custo da inadimplência”, disse em nota.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que busca uma solução que pode incluir o fim do crédito rotativo e um redesenho das compras parceladas no cartão.
A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) afirmou que a entrada de novas instituições no sistema financeiro aumentou a competição no setor e levou uma “parcela da população a ter acesso a serviços financeiros mais baratos ou mesmo pela primeira vez.”
Em nota, o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), disse que o varejo depende do parcelado sem juros para sustentar as vendas. No entanto, é necessário “encontrar formas alternativas aos empréstimos rotativos para dar suporte ao crescimento do consumo de modo sustentável”.