Organizar as contas

Fraldas, leite, roupinhas… como planejar os gastos com um bebê até os 2 anos?

As formas como as famílias ou mães solos vão enfrentar com filhos são peculiares e os custos podem variar. Aqui, o importante é saber o que incluir no planejamento

Criança dentro de mala de viagem
Criança dentro de mala de viagem

Por Élida Oliveira, especial para o Bora Investir

O resultado positivo do teste de gravidez, como o que a cantora Iza acaba de anunciar, traz consigo um turbilhão de emoções. Mas, quando há planejamento financeiro para esse momento, é possível garantir um pouco mais de segurança na vida da família que logo vai enfrentar uma rotina de instabilidades e adaptações diárias, comuns a esse momento da vida.

Se a sua vontade é a de um dia ter filhos, comece já a fazer um “pé de meia”, porque as despesas vão surgir – desde os cuidados com a saúde da futura mamãe até a montagem do enxoval do bebê. Se o positivo já está aí, ainda dá tempo de se organizar para receber essa nova vida sem muitos sustos.

As formas como as famílias ou mães solos vão enfrentar esse momento são peculiares a cada realidade, e os custos podem variar de acordo com o orçamento. 

“Vivemos em um país com uma desigualdade econômica gigantesca e, mesmo com todos os desafios que esse contexto provoca, as famílias estão criando seus filhos, ano após ano. É comum vermos referências como ‘um filho custa um milhão até seus 18 anos’ , mas a verdade é que nem todos os brasileiros ganham para isso”, afirma Vívian Rodrigues, planejadora financeira CFP, fundadora da Papo de Valor. 

“Para colocar os gastos na ponta do lápis, inúmeras variáveis podem interferir nessas contas, desde a estabilidade financeira, patrimônio, custo de vida de onde se vive, aspectos culturais, religiosos e até mesmo saber se os pais são de ‘primeira viagem’ ou não, porque alguns itens do enxoval podem ser herdados da criança mais velha”, pondera Paula Sauer, Economista e Planejadora Financeira CFP.

Como se pode ver, nesse tema os números não são os protagonistas, mas sim o planejamento.

Vivian sugere que, ao planejar a chegada de um filho, os responsáveis pela criança dividam os custos em dois grupos: pontuais e mensais. Os pontuais são despesas que ocorrem uma única vez, e os mensais são as despesas recorrentes.

+ Guia completo para mães e pais de primeira viagem: itens essenciais para o bebê

Custos pontuais com filhos

Aqui entram grandes investimentos que são feitos de uma só vez. É o caso do enxoval, incluindo as roupas, berço, móveis e carrinhos. Entram também os acompanhamentos de pré-natal, despesas com saúde da gestante, entre outros.

  • Enxoval: os gastos incluem compras de roupas, móveis, berço, carrinho e afins. Em alguns casos, esses itens podem ser recebidos de doação, abatendo parte dos custos, ou serem adquiridos no mercado de usados ou grupos de desapegos, muito comuns para trocas de itens infantis, já que não se desgastam tanto com o uso. “Conversei com algumas famílias e percebi que todas começavam a responder com ‘eu ganhei muita coisa’, o que nos ajuda a lembrar o quanto esses itens são usados por pouco tempo e o quanto é comum um apoio coletivo das pessoas próximas com presentes”, diz Vivian. Dentro do quesito enxoval, os valores variam muito e podem ficar entre R$ 4.000 e R$ 25.000. Vivian conta que há famílias que optam por um carrinho usado de R$ 300 e outras que querem modelos mais equipados, que podem chegar a R$ 16.000. “Mais importante do que buscar um número cravado, é fazer a lista de valores dos itens que cada um entende como necessário”, sugere.
  • Pré-natal e parto: aqui vale pensar se o pré-natal será com o SUS (Sistema Único de Saúde) e, portanto, gratuito; se será com o plano de saúde, o que também descarta despesas extras; ou com médicos particulares e reembolso pelo plano – o custo aqui vai depender do valor das consultas e do percentual reembolsado.
  • Farmácia da gestante: algumas gestantes precisam desembolsar uma grana para vitaminas e outras questões pontuais de saúde que surgem na gravidez. Nesse item, Vivian sugere separar R$ 2.000 para serem usados ao longo dos nove meses, o que dá pouco mais de R$ 200 por mês. 
  • Gastos com saúde: pode ser preciso pagar por um acompanhamento particular nas consultas ou parto, ou ainda, se quiser ou precisar (por motivos de saúde) incluir alguns cuidados mais específicos durante a gestação. Na estimativa feita por Vivian, uma fisioterapia pélvica pode ficar entre R$ 1.000 e R$ 3.000; o acompanhamento de uma enfermeira obstétrica fica entre R$ 2.500 e R$ 4.000. Um parto particular pode custar de R$ 10.000 a R$ 20.000. As consultas particulares variam de R$ 5.000 a R$ 10.000 (ao longo da gestação). Fotografia de parto, de R$ 1.000 a R$ 2.000. 
  • Festas: os dois primeiros anos de vida de um bebê incluem ao menos duas festas de aniversário e um batizado, se esse for o desejo da família. Os gastos podem incluir contratação de local para os eventos, decoração, alimentação, bebidas, registros em foto e vídeo, roupas, entre outros.

Custos mensais

Aqui os gastos precisam ser incorporados ao orçamento mensal da família. Os valores dos itens podem variar conforme a realidade de cada núcleo, mas para o planejamento é importante considerar os seguintes produtos:

  • Fraldas: Paula destaca que o consumo de fraldas descartáveis pode variar de uma criança para outra, dependendo de fatores como frequência de trocas, crescimento, marca usada, entre outros. Mas a estimativa é que, para bebês recém-nascidos (0 a 3 meses), sejam consideradas oito a 12 fraldas por dia. De três meses a um ano, a frequência de trocas muda e a estimativa é de seis a dez fraldas por dia. Entre um e dois anos, são de cinco a oito fraldas por dia. Nos cálculos de Vivian, os gastos mensais com fraldas ficariam em torno de R$ 300 a R$ 450.
  • Vacinas: o SUS oferece a cobertura completa de vacinas para toda a população, incluindo a primeira infância. O Plano Nacional de Imunização cobre as principais doenças e evita surtos que possam comprometer a saúde dos pequenos. Porém, há cuidadores que optam por dar vacinas na rede privada porque algumas protegem contra uma maior variedade de vírus ou causam menor reação aos bebês. A estimativa de Vivian é que os gastos ficam perto de R$ 1.000 ao mês nos primeiros seis meses de vida. Depois, esse valor se espaça para cada 3 meses, em média.
  • Leite: a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida do bebê. Depois, a criança passa a ingerir alimentos sólidos, mas o aleitamento materno segue sendo sugerido até pelo menos os dois anos de idade do bebê. Mas, em casos em que é preciso complementar com fórmula, os custos podem variar conforme a marca e o tipo de leite – e se há indicações médicas como alergias para o bebê se alimentar. Paula aponta que há produtos que custam de R$ 54 a R$ 287 a lata, e a quantidade de leite que produzem não é padronizada. Mas, na média, Vivian estima que os gastos fiquem em torno de R$ 400 por mês no primeiro ano de vida do bebê. Após um ano, o leite de vaca já é liberado. 
  • Farmácia: há gastos com lenços umedecidos, pomadas, remédios, vitaminas. Vivian sugere separar cerca de R$ 150 ao mês para esses itens. Mas, caso seu bebê sofra de cólicas nos três primeiros meses de vida, há frascos de remédios que custam, sozinhos, esse valor e duram cerca de quatro semanas. 
  • Plano de saúde: considere reservar cerca de R$ 350 ao mês, em média, para cobrir o plano de saúde do seu filho. O valor pode variar conforme o plano e as opções de cobertura.
  • Auxílio: aquela frase sobre ser preciso uma aldeia para criar uma criança não se traduz em realidade no dia a dia de cuidados de um filho. A aldeia se desfez na vida moderna, e os cuidados agora são terceirizados. Eles podem incluir babá fixa ou esporádica, podem ser gratuitos pela rede de creche da prefeitura, ou privados caso os cuidadores optem por deixar o bebê em um berçário privado. Mas, para estimar os valores, Vivian coloca o custo médio de uma babá mensalista em R$ 2.500 a R$ 3.500; e o custo médio de um berçário entre R$ 600 e R$ 3.000.

Maternidade e a cultura do cuidado

Além do custo financeiro, filhos consomem outros recursos também escassos, como tempo, paciência, sono, energia, pondera Paula. O orçamento da família pode ficar impactado com a queda de renda de um dos cuidadores – que geralmente é a mulher, em especial nos primeiros meses de vida.

“Tem custos muito importantes que devem entrar nessa conta, mas muitos deles são simbólicos e não se calculam em reais. Qual é o preço de ficar afastada do trabalho?” pondera Paula, se referindo ao gap de carreiras que a maternidade traz para mulheres.

“Vivemos em uma estrutura onde o cuidado está longe de ser valorizado pela sociedade, e aqui falo de um contexto emocional e financeiro. Por vezes o tempo, a energia e a carga mental não são nem percebidos por si só, quem dirá os efeitos em relação à saúde mental, autonomia, carreira, entre outras tantas coisas”, diz Vivian.

Perguntas como ‘quanto é possível economizar com amamentação’, por exemplo, não levam em conta o tempo e energia despendidos por aquela mãe. Ou ainda, ‘vale a pena colocar em uma creche para voltar a trabalhar’ não contabiliza o custo emocional de uma separação antecipada entre mãe e bebê.

Assim, o planejamento de um filho envolve, além dos números financeiros, uma preparação emocional dos envolvidos nesse cuidado – e exige uma participação de todos na sociedade, incluindo parceiros dentro de casa e empregadores. O programa Empresa Cidadã incentiva que a licença-maternidade seja estendida para 180 dias (6 meses) e já há companhias que adotam a mesma licença para os pais para diminuir o gap de carreira entre gêneros.

Segundo Vívian, é preciso ir mais fundo e ampliar o olhar para o impacto nas responsabilidades de cuidado que são assumidos com a chegada de um bebê, na carreira e na autonomia de cada pessoa dessa família. 

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