Organizar as contas

Juros do cartão parcelado do varejo podem superar os 400% ao ano; veja cuidados a tomar

Com o elevado endividamento e juros em alta, o momento é de cuidado redobrado com as taxas praticadas no cartão parcelado

Com o elevado endividamento das famílias – de 76,9% em outubro, segundo dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio) – e juros em alta, o momento é de cuidado redobrado com as taxas praticadas no cartão de crédito.

E isso vale especialmente para as taxas cobradas nos cartões de crédito das varejistas, tanto as que possuem lojas presenciais como as que atuam apenas na internet, que chegam a superar os 400% ao ano, segundo os últimos dados do Banco Central.

Especialistas alertam que, para atrair consumidores em um momento em que muitos possuem dívidas, os cartões de loja praticam condições facilitadas. Mas isso tem um preço, e pode comprometer ainda mais o orçamento do consumidor no futuro.

Os dados mais recentes do Banco Central, que publica dados sobre os juros praticados no Brasil semanalmente, mostram que na semana entre 8 e 14 de novembro a Midway, financeira da Riachuelo, praticou uma taxa de juros mensal de 15,21% no cartão parcelado, ou 446,71% ao ano.

Foi a segunda maior taxa de juros do ranking do BC, perdendo apenas para o cartão de um banco estadual, o Banco do Estado de Sergipe, com 706% ao ano.

Para efeito de comparação, a taxa anual da Midway é quase o dobro da praticada no parcelado pelo Santander, o banco de grande porte com os juros mais altos no período, com 241,43% ao ano e 10,78% ao mês, segundo o BC.

Nesse ranking do BC dos juros mais altos no parcelado, aparecem em terceiro lugar a Realize, financeira da Renner, com uma taxa praticada de 15,05% ao mês (437,82% ao ano), e em quarto lugar a Mercado Crédito, linha de crédito para compras no site Mercado Livre, com juros de 14,66% ao mês (416,27% ao ano).

São todas taxas bem acima da média de outubro para o cartão parcelado, que foi de 178% ao ano, de acordo com o BC.

Muitas varejistas oferecem vantagens para aqueles que utilizam seus cartões próprios, como pontos de fidelidade e possibilidade de trocas por bens e serviços, pondera Daniela Bandeira, planejadora financeira e Head da SuperRico.

“Mas antes de contratar um cartão private label é importante verificar o custo e comparar com outras alternativas, optando por aquela alternativa mais vantajosa financeiramente e mais compatível com os hábitos de consumo do indivíduo ou da família”, recomenda.

Cartão de crédito é usado por 83,5% dos devedores

A avaliação de qual cartão de crédito utilizar é importante porque, entre as diferentes categorias de crédito, a modalidade é a que possui a maior participação no volume de endividados, e é usada por 83,5% dos devedores, de acordo com a CNC.

A inadimplência, mostram os dados da confederação, alcançou 29,3% dos lares brasileiros em outubro, o maior patamar desde outubro do ano passado. No caso das famílias mais pobres, o percentual daquelas que possuem contas em atraso chega a 37,7%. Confira abaixo os dados da CNC.

Fonte: Reprodução/ CNC

“O principal cuidado a se tomar é com o acúmulo excessivo e simultâneo de parcelas, que pode consumir o limite de crédito do cartão em sua totalidade e tornar o orçamento muito engessado pelo compromisso financeiro que essas parcelas contratadas representam no fluxo de caixa pessoal”, lembra Bandeira, da SuperRico.

A especialista lembra ainda que é necessário olhar as condições oferecidas, inclusive nas compras anunciadas como parcelado sem juros. “É preciso observar se a soma do valor das parcelas no cartão de crédito resulta num preço tão vantajoso quanto o desconto concedido na compra à vista. Ou, ainda, observar se o parcelamento no cartão não será até mesmo acrescido de juros, resultando num total ainda maior”, aponta.

Me enrolei no cartão de crédito, o que fazer?

O principal risco para quem se enrolou nas compras parceladas é cair no rotativo do cartão de crédito, que é o destino daqueles que ficam inadimplentes com as mensalidades. E aí os juros elevados se tornam exorbitantes, com os consumidores sujeitos a uma taxa anual que pode chegar a 994% ao ano, no caso do crédito mais caro ofertado na modalidade na semana entre 8 e 14 de novembro. Em média, a categoria teve juros de 439% ao ano em outubro.

“Para quem exagerou nas compras parceladas, está com o orçamento engessado e precisou parcelar a fatura do cartão, a primeira medida é reduzir ou até interromper os gastos e organizar seu orçamento por meio de um planejamento”, aconselha Bandeira, da SuperRico.

Outra orientação da planejadora financeira é organizar o valor e quantidade de parcelas contratadas, até como forma de entender como os compromissos financeiros precisarão caber no seu fluxo de caixa.

“Será preciso priorizar despesas essenciais, deixando algumas menos urgentes para outro momento, e identificar oportunidades de redução de gastos”, diz ela. “Assim, é possível promover um maior equilíbrio nas contas para que todos os compromissos possam ser acomodados até a quitação.”

Outra possibilidade, afirma a planejadora da SuperRico, é tentar negociar com credores ou fazer uma troca de dívidas, contraindo um empréstimo com juros menores para quitar os compromissos de juros mais elevados.

“Entrar numa bola de neve de juros e dívidas acontece infelizmente com muitas pessoas, e pode ser desesperador”, afirma. “Sair desse contexto, no entanto, e retomar o controle das finanças pessoais, é perfeitamente possível por meio de planejamento e aprendizado para melhores escolhas de consumo.”

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