O que vale mais a pena: carro próprio, alugado ou usar serviços de aplicativo?
As perspectivas sobre mobilidade começaram a mudar e a impactar hábitos de consumo e escolhas de vida, mas ter um carro próprio ainda é o sonho de muita gente
Por Élida Oliveira, especial para o Bora Investir
Ter um carro próprio ainda faz parte do imaginário de muitas pessoas, que associam o veículo a um símbolo de status. Mas, com o crescimento dos serviços de aluguel de veículos por temporada e a consolidação dos aplicativos de transporte, as perspectivas sobre mobilidade começaram a mudar e a impactar hábitos de consumo e escolhas de vida.
Há quem não ligue para o status e priorize escolhas mais sustentáveis, como o uso de veículos compartilhados nos serviços de aplicativo. Outros preferem a comodidade de ter um carro à disposição para transitar pela cidade – ainda que sozinho, ocupando um espaço enorme no trânsito. A decisão é pessoal e, muitas vezes, a equação inclui fatores tão variáveis quanto são as pessoas no mundo.
Considerando apenas um desses fatores – os custos – vamos analisar os valores envolvidos nas três opções de locomoção propostas: carro novo próprio, carro novo alugado (por assinatura) ou de aplicativo.
Carro próprio à vista e parcelado
Um carro novo de passeio no Brasil, à vista, está saindo por mais de R$ 150 mil, em média, segundo dados da Jato Brasil, consultoria de inteligência no mercado automotivo.
Pelo custo elevado, é comum que as pessoas comprem o carro financiado. Nisso, entram na conta os juros do financiamento.
Segundo Marcos Milan, professor da FIA Business School, a maioria das revendedoras cobram uma entrada de 20% do valor do carro no ato da compra, para garantir o negócio. Assim, para comprar um carro financiado, seria preciso desembolsar, em média, R$ 30 mil de entrada, e assumir as parcelas do financiamento.
Considerando que a média da taxa de juros anual fica em torno de 26% para a pessoa física, conforme a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), e que o carro seria financiado em 60 meses, o comprador precisaria desembolsar R$ 3.402,18 todos os meses ao longo de cinco anos para pagar o financiamento. Ao fim, o carro sairia por mais de R$ 230 mil.
Colocando em tópicos, a simulação de compra calculada pelo professor da FIA ficaria assim:
- Valor médio do carro de passeio novo: R$ 150.000
- Entrada: R$ 30.000 (20%)
- Valor financiado: R$ 120.000 (diferença entre o valor do carro e a entrada)
- Quantidade de parcelas: 60 (5 anos)
- Taxa de juros mensal: 1,94%
- Valor das parcelas: R$ 3.402,18
- Valor total do carro ao fim do financiamento: R$ 234.131,34
E se o valor fosse investido em vez de direcionado ao financiamento? Caso o comprador optasse por investir os R$ 30 mil de entrada e, todos os meses, investisse também o valor das parcelas (R$ 3.402,18), em 32 meses (2 anos e 8 meses) ele acumularia o capital para comprar o carro à vista.
“Matematicamente, [investir] faz todo o sentido, mas a questão comportamental acaba falando mais alto. O brasileiro está acostumado a primeiro adquirir o bem e usufruir, e depois ele encaixa o pagamento por esse bem no seu orçamento”, afirma Milan.
Além disso, a decisão depende muito do orçamento de cada um porque, além de fazer os investimentos e esperar acumular patrimônio para comprar o veículo à vista, será preciso arcar com os custos do deslocamento ao longo desse tempo.
“No geral, sempre é indicado comprar à vista para não arcar com juros que, no Brasil, sempre são muito altos. Mas, isso não é realidade para o brasileiro”, afirma Fabio Gallo, professor de finanças da FGV EAESP. A vantagem da compra é ter a propriedade do bem, e a liberdade de usá-lo como bem entender. As desvantagens são comprometer o capital investido, sofrer com a depreciação do veículo e arcar com os gastos, como combustível, estacionamento, manutenção, seguros, e impostos, afirma Gallo.
Carro novo alugado (por assinatura)
Para quem se assustou com a conta, há a opção de alugar um veículo zero km por um período pré-determinado, serviço chamado de assinatura de veículos.
A oferta ao cliente é a de um carro novo sempre na mão já que, ao fim do contrato – que dura de um a três anos –, é possível alugar um outro carro zero quilômetros sem arcar diretamente com seguros, manutenção ou desvalorização na revenda.
Comparando a compra do carro com entrada, a compra à vista e a assinatura do veículo em três anos, temos os seguintes dados:
Compra com 20% de entrada | Compra à vista | Assinatura | |
Parcela mensal | R$ 3.402 | – | R$ 2.889 |
Combustível | R$ 500 | R$ 500 | R$ 500 |
Imposto (impacto mensal) | R$ 500 | R$ 500 | |
Revisões (impacto mensal) | R$ 250 | R$ 250 | |
Seguro (impacto mensal) | R$ 416,67 | R$ 416,67 | |
Gastos mensais | R$ 5.068,85 | R$ 1.666,67 | R$ 3.389 |
Fonte: Marcos Milan, FIA |
Aplicativo de transporte
Há ainda quem prefira usar os serviços de transporte por aplicativo como principal meio de locomoção no dia a dia.
A maior vantagem desse tipo de serviço é que você só gasta quando usa, diferente da compra ou assinatura. Dependendo da distância percorrida todos os dias, os custos dos serviços de aplicativo tendem a ser menores do que a posse ou assinatura de um carro.
Além disso, dá para se deslocar sem a preocupação de dirigir e estacionar, e aproveitar mais o tempo dentro do carro, atualizando demandas pelo WhatsApp, lendo mensagens e e-mails, ou simplesmente relaxando ao assistir alguma série.
As desvantagens são ficar dependente da oferta e demanda dos serviços – em certos horários e condições, como dias chuvosos ou de grandes eventos na cidade, pode ser difícil conseguir um carro. Com isso, há menor liberdade de ir e vir quando quiser, por não ter um carro à disposição.
Se a média de deslocamentos diários – considerando dias úteis – for de 20 km, é mais barato usar serviços de aplicativo, de acordo com uma simulação feita por Antônio Sanchez, analista da Rico. A opção prevalece sobre os custos com carro próprio e serviços de assinatura.
Sanchez chegou a essa conclusão calculando três cenários de uso do carro. Além dos 20 km por dia útil, ele também calculou os custos de deslocamentos de 30 km por dia útil e de 1.000 km por mês – o que inclui finais de semana. Esse deslocamento é o estimado nos pacotes de serviços de assinatura de carros.
Uso do carro | Custos (R$, em três anos) | Opção |
20 km/dia útil | 68.040 | Aplicativo |
20 km/dia útil | 92.226 | Carro próprio |
30 km/dia útil | 95.424 | Carro próprio |
1000 km/mês | 101.059 | Carro próprio |
30 km/dia útil | 102.060 | Aplicativo |
20 km/dia útil | 136.115 | Assinatura |
30 km/dia útil | 139.314 | Assinatura |
1000 km/mês | 144.949 | Assinatura |
1000 km/mês | 162.000 | Aplicativo |
Fonte: Antônio Sanchez, analista da Rico |
Usando apps de transporte para se locomover 20 km por dia da semana, Sanchez estimou que os custos de viagens por aplicativo seriam de R$ 68 mil ao longo de três anos. O período foi considerado para poder comparar com os serviços de assinatura de carros, que em geral têm três anos de duração. Ele também estimou a média de R$ 4,05 por quilômetro rodado – valor divulgado no site oficial de uma das operadoras mais populares do país.
Os custos das despesas com o carro próprio (considerando que ele foi comprado à vista) seriam de R$ 92 mil, e do serviço de assinatura, de R$ 136 mil – essas variáveis incluem a estimativa de um automóvel com gasto de 13 km/L e o custo médio de R$ 5,50 por litro de gasolina.
Nos cenários estimados por Sanchez, o carro próprio prevalece nos deslocamentos maiores, de 30 km por dia útil ou 1.000 ao mês. Porém, a conta não considera o valor pago no veículo, ela estima somente os custos como gasolina, impostos, e depreciação.
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