CRI e CRA

Com crescimento de CRAs e Fiagros, mercado de capitais acelera financiamento ao agronegócio brasileiro

“A gente vê uma evolução muito grande no mercado recentemente. O tema dos Fiagros é transformacional", afirmou Masagão, da B3

O agronegócio brasileiro responde por mais de um quarto do PIB e é parte relevante da pauta exportadora do país, mas ainda é pouco representado no mercado de capitais. Essa realidade, no entanto, começa a mudar com a expansão de instrumentos como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagros), que vêm ganhando tração.

“A gente vê uma evolução muito grande no mercado recentemente. O tema dos Fiagros é transformacional, especialmente quando a gente vê esses fundos sendo listados, o que simplifica muito o acesso do investidor a esses produtos”, afirmou Luiz Masagão, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA), organizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), em parceria com a B3.

De acordo com dados da Anbima, o patrimônio líquido dos Fiagros supera os R$ 40 bilhões, distribuídos entre mais de 100 fundos disponíveis – um salto relevante frente aos cerca de R$ 20 bilhões investidos nessa classe em meados de 2023. Criados em 2021, com regulação inspirada nos Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs), os Fiagros aplicam em títulos ligados ao agronegócio, como os próprios CRAs. “Graças ao Fiagro, a gente tem um veículo efetivo para que os investidores possam conhecer e investir no agronegócio”, disse Bruno Gomes, superintendente de Securitização e Agronegócio da CVM.

Essa aproximação, no entanto, é recente. “Tivemos um primeiro embrião, que foi o CRA, com regulamentação em 2016, e agora o Fiagro, com um movimento muito mais forte. Se você compara com o mercado imobiliário, vê que essa aproximação com o agro é muito recente. O mercado imobiliário tem mais de 30 anos no mercado de capitais”, completou Gomes, reforçando que “o agronegócio representa 3,5% do mercado de capitais, é muito pouco se a gente considerar que é um setor que representa 25% do PIB”.

A criação dos Fiagros não só trouxe volume para o mercado de emissões ligadas ao agro, mas também profissionalização. Para Flavia Palacios, diretora da Anbima, os fundos trouxeram gestão profissional e equipes especializadas para estruturar, monitorar e administrar esses ativos, inclusive em períodos de crise. “Hoje, o estoque de CRAs já supera R$ 140 bilhões e o de Fiagros ultrapassa R$ 40 bilhões, mas o potencial é de multiplicar esses números por três, quatro ou até cinco vezes”, disse.

Para que isso ocorra, ela apontou dois fatores-chave: padronizar e ampliar a divulgação de dados, para dar mais segurança a novos investidores, e investir na educação tanto dos investidores quanto dos produtores sobre as regras e oportunidades do mercado de capitais. “O produtor rural precisa entender que o mercado de capitais não morde – é uma alternativa competitiva ao crédito bancário tradicional”, afirmou.

Na visão de Bruno Santana, CEO e fundador da Kijani Investimentos, o amadurecimento é visível: “O mercado de capitais vem sendo uma das respostas para o financiamento da cadeia, que nos últimos 30 a 40 anos era muito financiada via recursos públicos. É um instrumento válido, que permite que o capital seja aplicado aqui mesmo. Vejo investidores e emissores amadurecendo.”

Renda fixa e mercado secundário para os CRAs

Além do crescimento dos Fiagros, Masagão destacou o crescimento exponencial de outros instrumentos. Dados da B3 mostram que o estoque de Cédulas de Produto Rural (CPRs) registradas ultrapassou R$ 418 bilhões em junho de 2025, alta de mais de 40% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Os CRAs alcançaram R$ 160 bilhões e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), R$ 587,5 bilhões em estoque.

O vice-presidente da B3 apontou ainda um avanço decisivo: a evolução do mercado secundário. As negociações após a emissão têm permitido formar referências de preço e criar mais conforto para o investidor assumir prazos mais longos. “Quando o investidor sabe que pode vender um título no mercado secundário, ele se sente mais confortável para investir no longo prazo”, afirmou. Esse ambiente, segundo ele, alimenta um ciclo virtuoso: mais liquidez leva a maior transparência, que, por sua vez, favorece emissões mais robustas e de prazos estendidos.

Masagão também chamou atenção para a importância de trazer para o Brasil a precificação das commodities agrícolas produzidas no país. Apesar de ser líder global na produção de soja, açúcar e café, grande parte dessas mercadorias ainda tem seus preços definidos no mercado internacional, como a bolsa de Chicago, no caso dos grãos. “Onde o seu ativo é precificado importa – e a B3 quer trabalhar para que mais produtos agrícolas tenham preços formados aqui”, disse.

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