Fundo de crédito privado com resgate alongado é opção para driblar retorno apertado dessa aplicação, diz XP
Optar por fundos de crédito que permitem resgate após mais de 30 dias pode ser alternativa a quem quer manter essa diversificação na carteira
Por Maeli Prado
Em um momento em que a relação entre risco e retorno oferecida pelos fundos de crédito privado está cada vez mais comprimida, optar por aplicações que permitem resgate em prazo superior a 30 dias pode ser uma boa opção para aqueles que querem manter a diversificação oferecida por esses fundos na carteira.
A avaliação é de um estudo dos analistas de fundos Clara Sodré e Luiz Felippo, da XP investimentos, que analisaram o desempenho de diferentes categorias de fundos de crédito de 2020 para cá.
A conclusão é que os fundos que permitem resgate após um prazo superior a um mês tiveram um retorno de 62,55% no longo prazo, superior ao dos fundos com liquidez de 30 dias, liquidez diária ou o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, referência dos investimentos em renda fixa).
“Esse perfil de fundo, que inclui ativos com diferentes níveis de risco, oferece um prêmio de liquidez para o investidor que está disposto a esperar”, afirmam os especialistas no estudo.
Na avaliação da XP, a liquidez diária ou mensal do fundo de crédito acaba pressionando o gestor a compor as carteiras com ativos que possam ser vendidos rapidamente. “O fundo de liquidez alongada permite que se busquem papéis de crédito corporativo com prazos mais longos, geralmente associados a melhores taxas de retorno e spreads maiores, especialmente em operações de crédito privado.”
Esses fundos, de acordo com os especialistas da corretora, também apresentam uma proteção adicional contra eventuais oscilações do mercado. “Em momentos de aversão ao risco, como em crises econômicas, eles não estão tão sujeitos à pressão de resgates imediatos. Esse fator permite que o gestor mantenha as posições sem ser forçado a vender ativos a preços de liquidação, o que preserva o valor da carteira e protege o retorno dos cotistas”, afirmam Sodré e Felippo no estudo.
Para os analistas, outra vantagem do fundo de liquidez alongada é que os gestores podem ajustar a duração da carteira dependendo das condições de mercado, “permitindo maior flexibilidade para se proteger em cenários de alta de juros, e capturar melhores retornos quando o cenário se estabiliza”.
O levantamento mostra ainda a forte aversão atual a fundos de crédito mais arriscados, com a diferença entre os retornos oferecidos pelos chamados AAAs (empresas emissoras consideradas as melhores pagadoras) e A alcançando 3,75% em julho deste ano, a maior desde janeiro de 2020.
Por que a relação risco e retorno atual é considerada ruim?
Neste ano, com a forte alta nas taxas de juros, os fundos de renda fixa – categoria que inclui os fundos de crédito privado – tiveram captação recorde, e foram praticamente os únicos a captar recursos nos três primeiros trimestres de 2024.
Com muito dinheiro fluindo para o crédito privado, a demanda elevada por novos títulos acabou aumentando o poder de barganha das empresas emissoras desses papeis, que começaram a oferecer prêmios menores na comparação com títulos públicos (essa diferença é chamada de spread).
Quando uma empresa quer pegar dinheiro emprestado, a expectativa é que ela pague uma taxa maior do que o Tesouro, já que o seu risco é maior. Se o risco é maior, o retorno daquela aplicação também deve ser maior, para compensar o investidor.
Mas neste ano essa diferença está bastante reduzida, e em alguns casos, o spread está perto do chamado “limite prático” – ou seja, as taxas oferecidas pelas melhores empresas, as pagadoras AAAs, são quase insuficientes para cobrir os custos operacionais dos próprios fundos, como as taxas de administração.
Como a demanda por renda fixa segue forte, com o Banco Central indicando que deve continuar elevando os juros, os spreads de crédito devem seguir pressionados, diz a XP.
“Diante disso, nossa preferência de alocação no cenário atual é em fundos com prazo de resgate superior a D30”, apontou a XP, referindo-se aos fundos onde os recursos só podem ser sacados após 30 dias. “E para aqueles investidores que desejam liquidez, recomendamos a alocação em gestoras consolidadas na indústria e que se destaquem em diferentes métricas perante os pares.”
A XP lembrou ainda que a captação dos fundos de renda fixa em geral já superou R$ 300 bilhões neste ano, e que se esse ritmo for mantido, 2024 será o ano de maior volume anual de fluxo para a categoria da história.
“Seguimos acompanhando uma dinâmica positiva para a performance dos fundos e principais índices de crédito, reforçando a tese de que os fundos de crédito mais conservadores devem seguir atraindo a atenção e fluxo dos investidores”, apontaram os analistas.
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