Retorno vai melhorar? Saiba o que esperar do crédito privado em 2025
A alta dos juros fez disparar a captação do crédito privado em 2024, mas retorno em relação ao dos títulos públicos se reduziu
Por Maeli Prado
A alta dos juros no Brasil em 2024 fez disparar a captação do crédito privado neste ano, provocando um efeito cascata que reduziu a atratividade desses papeis: a demanda elevada elevou o poder de barganha dos emissores e estes passaram a oferecer prêmios menores em relação aos títulos públicos.
Em 2025, a expectativa é de continuidade desse cenário de cautela com o crédito privado, apesar de uma melhora leve e gradual do retorno desses títulos, segundo especialistas em renda fixa consultados pelo Bora Investir.
A principal razão para esse alerta é que os spreads desses papeis – nome que é dado à diferença entre as taxas oferecidas pelo título emitido por empresas e entre as taxas de títulos públicos – continuarão comprimidos.
Para entender melhor: a taxa de juros oferecida por papeis emitidos por empresas é comparada com a de títulos públicos porque estes últimos são considerados os mais seguros da economia. Portanto, uma empresa sempre terá um risco maior que o governo de não pagamento, e portanto deve oferecer uma taxa melhor que a do Tesouro para ser atrativa para o investidor.
Essa diferença se reduziu no ano passado e chegou próximo às mínimas históricas, e apesar de ter se recuperado levemente no final deste ano, continua pequena.
Camilla Dolle, head de renda fixa da XP Investimentos, aponta que há um movimento de leve ajuste para cima nas taxas desses papeis, que deve se manter em 2025.
“Temos visto agora no final do ano um movimento de ajuste marginal nos spreads. Na medida em que esses spreads aumentarem um pouco mais, poderão refletir melhor o risco dos papeis”, aponta a especialista. “Para o ano que vem, devemos continuar vendo esse movimento gradual, a não ser que aconteça algo realmente fora do radar.”
Risco do crédito privado aumenta com Selic mais alta
Julio Ortiz, sócio-fundador da CX3, afirma que o crédito privado deve continuar sendo encarada de forma cuidadosa pelo investidor. Além dos spreads reduzidos, ele lembra que o risco das empresas aumenta em um cenário de alta da taxa básica de juros, a Selic, que deve atingir até 15% ao ano em 2025.
“O custo de empréstimos começa a ficar elevado. Além disso, o ano que vem será de crescimento menor do que o deste ano. A possibilidade de percalços no caminho das empresas é grande”, aponta.
Em um cenário de Selic reduzida, correr esse risco pode fazer mais sentido para investidores mais arrojados, mas em um momento de juros básicos elevados, essa atratividade se reduz ainda mais, diz o sócio-fundador da CX3. “Atualmente, não há muita lógica em se correr risco”, avalia.
Lucas Pereira, analista de renda fixa da AMW, acredita que há uma oferta limitada de novas emissões de crédito privado, já que poucas empresas estão com novos projetos de investimento.
“Esse cenário de spreads comprimidos deve se manter em 2025, especialmente considerando a Selic nos patamares projetados pelo mercado. No entanto, qualquer evento inesperado, como recuperações judiciais de grandes empresas, pode trazer volatilidade e alterar essa dinâmica.”
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