Entre cautela e oportunidade, o que esperar do mercado de ações em 2026?
Selic e eleições devem ser os fatores principais de movimentação nas ações brasileiras em 2026
O ano de 2025 foi de crescimento expressivo na bolsa brasileira, com o Ibovespa B3 crescendo mais de 30% e batendo sucessivos recordes. Mas o que esperar para as ações em 2026? Para os especialistas, fatores locais serão os principais catalizadores do desempenho da renda variável.
Selic x Eleições
O primeiro fator ‘doméstico’ de impacto no mercado de ações deve ser a redução na taxa Selic – um movimento esperado pelo mercado já para o primeiro trimestre do ano. Para Bruna Sene, analista de Renda Variável da Rico, o movimento historicamente atrai recursos para essa classe de investimentos.
“É verdade que o mercado costuma se antecipar a quedas da Selic, mas isso não significa que não há ganhos potenciais ao longo do ciclo de cortes. Os dados confirmam essa tese: nos últimos cinco ciclos de redução da Selic, o Ibovespa avançou em 60% dos casos nos seis meses que antecederam o primeiro corte e em 100% dos casos nos seis meses seguintes”, destaca ela.
Para Sene, para que a alta seja sustentável, a queda dos juros reais de longo prazo precisa ser relevante. “Para 2026, um gatilho importante para continuidade da valorização seria um recuo mais intenso dessas taxas. Para ilustrar, nosso time estima que, com juros reais em torno de 5,5%, o Ibovespa pode se aproximar dos 200 mil pontos”.
Em contrapartida, o próximo ano não deve ser guiado apenas por fatores positivos, e as eleições inspiram cautela nos analistas. “O ano eleitoral tende a aumentar a volatilidade, a incerteza e a sensibilidade do mercado ante a narrativas ou a qualquer sinal de política fiscal e econômica que seja menos favorável para o mercado”, aponta Tales Barros, líder de renda variável da W1 Capital.
De acordo com Eduardo Rahal, analista da Levante Inside Corp, o Brasil entra em um ano eleitoral com política monetária restritiva e um quadro fiscal sensível, e esse conjunto de fatores tende a adicionar volatilidade e incerteza ao longo do próximo ano.
“Em síntese, entendemos que 2026 pode combinar algum grau de flexibilização monetária com a continuidade do interesse por mercados emergentes, o que favorece a renda variável brasileira. No entanto, o ambiente eleitoral e os desafios fiscais seguem como fontes relevantes de risco. Vale destacar também que parte importante do processo recente de desinflação esteve associado à valorização do real, sobretudo no primeiro semestre, o que torna o comportamento do câmbio outro fator-chave a ser monitorado em 2026”, destaca.
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Quais setores de ações podem se beneficiar do cenário de 2026
Em um cenário que deve combinar cautela e oportunidade, a analista da Rico sugere que a base do portfólio do investidor deve ser sólida, com empresas de alta qualidade, boa governança, geração de caixa consistente e baixa alavancagem, atributos que conferem resiliência em janelas de maior volatilidade.
“Setores como financeiro, energia e saneamento seguem bem-posicionados nesse sentido. Já para capturar as oportunidades de uma queda na Selic, vale incluir exposições táticas em setores e companhias mais expostas ao ciclo de juros, como varejo, construção e consumo”, afirma Bruna Sene.
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Já Tales Barros, além de reforçar os setores de bancos, consumo e imobiliário, também alerta para o investidor se manter atento ao setor de commodities, “principalmente exportadoras, que podem performar bem caso o dólar volte a ganhar força”.