O que é a recompra de ações e quais os efeitos para os investidores
Número de programas e volume de recompra de ações bateram altas históricas em 2024
Os programas de recompra de ações na bolsa de valores atingiram nível histórico em 2024, com 126 operações abertas. Este é o maior número de recompras ativas desde 2005, segundo levantamento do Itaú BBA. No ano, foram R$ 78,4 bilhões em volume financeiro, quantia que fica atrás apenas de 2022, quando a Vale (VALE3) sozinha recomprou R$ 42 bilhões de suas ações, ou 10% dos papéis em circulação na época.
Mas o que exatamente é a recompra de ações?
A recompra de ações, ou buyback, ocorre quando uma empresa decide adquirir de volta suas próprias ações negociadas no mercado, reduzindo o número total de papéis em circulação.
É importante lembrar que não são todas as ações de uma companhia aberta que estão circulando todos os dias na B3, mas apenas uma parte do total. Esse número é chamado de free float e varia de empresa para a empresa.
A depender do programa de recompra de ações, esses papéis podem ter dois destinos: ou são mantidos em tesouraria, ou são cancelados. E isso sempre tem um motivo.
Por que as empresas recompram ações
A recompra de ações por parte das empresas podem diversos motivos e objetivos, que vão desde valorização do papel, remuneração indireta aos acionistas e até mesmo autoafirmação de potencial da companhia.
Valorização das ações
Segundo André Massaro, professor da FIA Business School, a prática é feita, principalmente, para aumentar o valor das ações remanescentes no mercado. Ele aponta que, assumindo que a empresa vai continuar a mesma, com o mesmo potencial de crescimento e de geração de lucro, quando se diminui a quantidade de ações em circulação, o o valor dessas ações aumenta.
“Uma analogia grosseira seria dizer que uma pizza é cortada em 8 fatias para 8 pessoas – se você tirar duas pessoas desse ‘jantar’, você pode cortar a pizza em 6 fatias e cada um vai receber uma fatia maior (de uma pizza de igual tamanho)”, explica.
Autoafirmação ou otimização estrutural
Uma segunda razão, de acordo com Masssaro, é quando a empresa quer mostrar confiança em si mesma e compra suas próprias ações, sinalizando ao mercado que espera uma valorização.
Um terceiro motivo, seria uma otimização da estrutura de capital, “especialmente quando a empresa não identifica oportunidades de reinvestimento”, aponta Rodrigo Vignoli, Sales de Renda Variável da InvestSmart XP.
Remuneração indireta
Também citado, mas pouco comum no Brasil, por conta da isenção de tributos sobre dividendos, a recompra de ações pode funcionar como uma remuneração indireta aos acionistas daquela companhia.
Em países onde os dividendos são tributados (o Brasil é um dos poucos que não tributa), algumas empresas preferem usar o dinheiro que iria ser distribuído como dividendo (e, consequentemente, tributado do investidor) para recomprar suas próprias ações e valorizá-las.
“Acaba se tornando uma forma de gerar valor ao acionista, ainda que não pagando em dinheiro ‘líquido’, como é o caso do dividendo, mas sem incorrer em tributação”, destaca o professor da FIA Business School.
Estratégia de proteção
Por fim, o Vignoli, da InvestSmart XP, afirma que a recompra de ações também serve como estratégia de defesa contra aquisições hostis, já que a redução de ações em circulação dificulta a compra do controle por terceiros.
“A redução do free float (ações disponíveis para negociação) pode aumentar o controle dos acionistas majoritários e contribuir para a valorização das ações remanescentes”, destaca.
Os efeitos da recompra de ações para o investidor
Como citado, a recompra de ações traz benefícios ao investidor, como a valorização das ações. No entanto, existem alguns riscos. Vignoli aponta que a empresa pode estar usando recursos que poderiam ser destinados a investimentos em crescimento ou inovação. “Além disso, a recompra pode mascarar problemas financeiros ao inflar artificialmente alguns dados”.
Outro ponto levantado é a diminuição do free float, que pode acabar causando uma “falta” de ativos em momentos que haja maior procura de pelo mercado de renda variável. Porém, nada impede que as empresas façam um “follow-on”, e ofereçam mais ações ao mercado.
Em resumo, Vignoli afirma que a recompra de ações é uma ferramenta estratégica que pode trazer vantagens tanto para a empresa quanto para os acionistas, como a otimização fiscal e a valorização das ações.
“No entanto, é essencial avaliar se a prática está alinhada com os objetivos de longo prazo da empresa e se os recursos utilizados não poderiam ser aplicados de forma mais eficiente em outras áreas, como inovação ou expansão”, completa.
Como funciona a recompra de ações
Para um programa de recompra de ações “ir ao mercado”, existem alguns passos que devem ser tomados pelas empresas – da mesma forma como todos os eventos que afetam diretamente a negociação das ações na Bolsa, como os desdobramentos, devem ser comunicados por antecedência ao mercado.
O processo segue geralmente as seguintes etapas:
- Apresentação e aprovação: o conselho de administração se reúne para debater e autorizar um programa de recompra de ações.
- Quantidade e data: cabe ao conselho também definir e votar a quantidade de ações que será comprada e o período em que isso será feito. Lembrando que o prazo do programa pode se estender por mais de uma data.
- Finalidade: na reunião, também é determinada a finalidade do programa: guardar em tesouraria, cancelar as ações, remunerar funcionários, etc.
- Comunicar ao mercado: a empresa deve soltar um Fato Relevante para informar ao mercado as decisões do conselho.
- Compra das ações: por meio de uma corretora ou banco, a empresa realiza a compra dos papéis.
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