O dólar pode voltar a R$ 2? Entenda a desvalorização da moeda e as perspectivas
Dólar tem se enfraquecido na comparação com o real, mas também em relação a outras moedas do mundo
Apesar do patamar ainda considerado alto comparado a um passado não muito recente, o dólar vem apresentando quedas sucessivas em 2025, principalmente nos últimos meses. As sequência de baixas fazem o brasileiro se perguntar: será que veremos a moeda valendo R$ 2 novamente?
A desvalorização da moeda é sentida no real, com a cotação chegando ao menor valor em 14 meses na última terça-feira, a R$ 5,38. A Ptax, taxa de câmbio usada pelo Banco Central do Brasil, apresenta desempenho negativo em 12 meses (-3,41%) e em 2025 (-12,38%), segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria até dia 8 de agosto.
Mas não é apenas no Brasil que o dólar tem perdido força. O DYX, indicador que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de diversas moedas no mundo, cai cerca de 10% neste ano. Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, a desvalorização no primeiro semestre de 2025 foi a maior desde 1973, ano que marcou o fim do padrão-ouro e a dissolução do acordo de Bretton Woods.
O que tem motivado a queda do dólar
As quedas – e também as altas – de qualquer preço raramente têm apenas um motivo, e assim acontece com o dólar. De acordo com José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School, entre os motivos imediatos, está a política protecionista do governo americano e a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos.
“Deve-se levar em conta que na medida em que a taxa americana cai e a taxa brasileira se mantém elevada, o spread continua alto. Os riscos fiscais brasileiros também estão sendo menos precificados pelos analistas locais”, destaca o professor.
Shahini reforça que a taxa Selic no patamar atual, 15% ao ano, desestimula investidores institucionais a manterem posições compradas em dólar, devido ao alto custo de carregamento. “Ao mesmo tempo, atrai capital externo para o mercado brasileiro, em operações que buscam aproveitar o elevado diferencial de juros interno e externo”.
E daqui para frente?
O especialista da Nomad aponta que previsões de curto prazo para o dólar são sempre desafiadoras, dado o grande número de variáveis que influenciam a cotação, e que o mais adequado é trabalhar com cenários.
“No cenário mais construtivo, caso os juros brasileiros permaneçam altos por mais tempo, o Federal Reserve inicie o ciclo de cortes a partir de setembro — o mercado já precifica cerca de 90% de probabilidade de corte na próxima reunião — e as negociações comerciais entre Brasil e EUA avancem para um desfecho positivo, o dólar pode operar na faixa de R$ 5,40 a R$ 5,30”, afirma.
Já num cenário alternativo, Shahini diz que, se a inflação nos EUA se mantiver em patamares elevados, forçando o Fed a adotar uma postura mais restritiva por mais tempo, o dólar tende a ganhar força.
“O índice DXY, que hoje está em níveis historicamente baixos, também poderia retomar alta, especialmente considerando que os juros americanos seguem acima dos de outros países desenvolvidos. Além disso, uma piora nas relações comerciais entre Brasil e EUA poderia reduzir o superávit comercial brasileiro e a oferta de dólares internamente, levando a cotação acima de R$ 5,50”, ressalta ele.
Em carta, a gestora Dahlia Capital descreve que tem uma visão positiva para o dólar no longo prazo, porém, que pode-se voltar a ver um período no qual o dólar fica mais fraco no mundo, por conta de:
- Diversificação de patrimônio e reservas, ainda concentrados em ativos americanos;
- Atividade econômica mais fraca nos Estados Unidos;
- Potencial corte de juros pelo banco central americano.
Dólar pode voltar a R$ 2?
Mas enfim, o dólar pode voltar para a casa dos R$ 2, como era até o começo da década passada? A resposta direta, segundo os especialistas, é que, apesar de não ser impossível, é muito pouco provável que venha a acontecer.
Para Souza Filho, vários fatores podem explicar a grande escalada da moeda americana. Primeiro, o risco fiscal e a dívida pública muito elevada, o que aumenta o risco.
Depois, ele cita a inflação e os juros internos. Apesar da moeda americana também estar sujeita à inflação, ele aponta que as diferenças entre as taxas são significativas. Por fim, cita as interferências políticas de ambos os lados, que também geram atritos e aumentam o risco com efeitos cambiais.
“Portanto, é quase impossível ocorrer uma desvalorização do dólar dessa magnitude, pois isto implicaria a existência de superávits fiscais, valorizações expressivas das commodities que o país exporta e talvez uma mudança no sistema monetário global. As chances desses fatores ocorrerem não são grandes no curto e médio prazo”, destaca o professor da FIA Business School.
+ Como investir em dólar, euro e outras moedas internacionais?
O que teria que acontecer
Para que o dólar voltasse a ser negociado próximo de R$ 2, o especialista em investimentos da Nomad diz que seria necessário reverter anos da perda acumulada de poder de compra.
“Isso exigiria, no cenário mais provável, uma valorização real significativa, geralmente associada a choques externos muito favoráveis, como um ciclo forte de alta nas commodities e entrada maciça de capital estrangeiro, ou um período prolongado em que a inflação brasileira fosse muito inferior à americana, de forma consistente, por vários anos. Ambos os cenários parecem extremamente improváveis no contexto atual”, ressalta.
José Carlos de Souza Filho compartilha da visão, e afirma que teria que acontecer uma situação econômica extremamente favorável para o crescimento e para o real nos próximos 10 anos, com cenário bastante desfavorável para o dólar nesse mesmo período.
Ele destaca que no Brasil, reformas profundas (tributária, administrativa e previdenciária), PIB crescendo a 5% ao ano e Selic abaixo de 5% seriam o caminho, mas que talvez nem em 10 anos essas mudanças trouxessem esses efeitos. “[Esse cenário], em conjunto com uma crise da dívida interna dos Estados Unidos e uma inflação de 10%, poderia ser mais provável. E por fim, o dólar deixando de ser a moeda de referência de todos os negócios em nível global. Cenários possíveis, mas muito pouco prováveis”, completa o professor.
Quer simular investimentos no Tesouro Direto? Acesse o simulador e confira os prováveis rendimentos da sua aplicação. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.