Câmbio

Trump é o principal culpado por o dólar estar na lanterna das moedas globais? Entenda

Contra o real, a perda do dólar é de cerca de 16%, ao passo que contra o euro é de 13%.

Com ISTOÉ Dinheiro

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dólar segue sendo a moeda forte globalmente, para transações internacionais e para reservas de nações – todavia, a performance da moeda em 2025 tem sido de ampla desvalorização. Os motivos para a queda podem ser divididos em um tripé: o tarifaço do governo Trump, cortes de juros pelo Federal Reserve e a política fiscal dos EUA, que contempla uma discussão acerca de um amplo pacote de cortes de impostos.

O dólar está se desvalorizando ante a esmagadora maioria das moedas das principais economias globais, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria. Contra o real, a perda é de cerca de 16%, ao passo que contra o euro é de 13%. O DXY, que mensura o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas, mostra uma queda na casa dos 10%.

A moeda apresenta valorização ante apenas seis das moedas das principais economias globais – das quais uma delas é o peso Argentino, em um contexto de economia tempestuosa no país latino.

O principal catalisador para estas performances foi, indiscutivelmente, o tarifaço de Donald Trump, apontado pela maioria dos especialistas como o principal – ou ao menos um dos principais – fatores que fizeram o dólar perder força globalmente.

O presidente americano instaurou uma política comercial bastante agressiva em 2025, impondo tarifas elevadas e ampliando alíquotas sobre importações, o que mexeu no tabuleiro da geopolítica, mas também afetou drasticamente o câmbio.

dólar trump

Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, as decisões do republicano ‘reforçaram a percepção de perda do excepcionalismo da economia norte-americana’.

O contexto fez com que, nesse panorama de política mais agressiva em termos de tarifas, países e investidores passassem a buscar diversificação fora do dólar, reduzindo dependência excessiva do greenback em reservas ou transações internacionais.

Como exemplo, um efeito específico observado foi do aumento da compra de moedas estrangeiras  pelo Banco Nacional Suíço (Swiss National Bank), que tomou a decisão em resposta à valorização do franco perante o dólar após anúncios de tarifas.

Afora isso, as decisões de política comercial também alteraram outras peças no tabuleiro e passaram a fazer com que o mercado revisasse projeções para outras variáveis – incluindo as de crescimento econômico e de juros.

O fator Fed

O mercado observa atentamente as decisões relativas ao Federal Reserve (Fed) nos últimos meses – relativas pois não contemplam apenas as decisões de política monetária.

Segundo Sung, da Suno, as críticas e possíveis interferências do governo no Fed contribuem para uma perca de força do dólar ante outras moedas. Desde o início do governo, Trump tem feito ataques diretos ao presidente do Fed, Jerome Powell, chegando a chamá-lo de ‘atrasado’ e dizer que ele ‘não entende das coisas’.

Em se tratando da política monetária, o economista-chefe da Suno observa que, com a perspectiva de mais cortes à frente, há espaço para o dólar seguir enfraquecendo ainda mais.

“Em nosso cenário base, projetamos que o banco central norte-americano continuará reduzindo os juros nas próximas reuniões, com cortes de 0,25 p.p. em outubro e dezembro. Ainda que gradual e condicionado à evolução dos dados, esse movimento tende a estimular o apetite por risco, liberar capital global e direcionar parte desses fluxos para economias emergentes”, diz Sung.

Nesse contexto, o especialista revisou sua projeção de dólar para este ano de R$ 5,65 para R$ 5,40.

Antonio Patrus, Diretor da Bossa Invest, observa que a decisão recente do Federal Reserve de reduzir os juros para a faixa de 5,25% a 5,50% diminuiu o diferencial que vinha sustentando o apetite por ativos em dólar, ao mesmo tempo em que a inflação ainda resiste acima de 3% ao ano, medida pelo núcleo do PCE.

“Essa combinação enfraquece parte do prêmio de carregamento da moeda e reduz sua atratividade relativa. Somam-se a isso sinais de desaceleração do mercado de trabalho e da atividade econômica, que tiram tração do ‘prêmio de crescimento’ dos EUA frente a outras economias, favorecendo movimentos de diversificação em moedas como o euro e algumas emergentes.”

+ Como o dólar se tornou a principal moeda do mundo e por que vai ser difícil superá-lo

Contas públicas e corte de impostos

No campo fiscal, especialistas também indicam que o debate sobre corte de impostos pode aumentar o desequilíbrio das contas públicas, que já registram déficits relevantes.

“A política fiscal expansionista dele traz uma certa insegurança em relação à economia e isso enfraquece o dólar”, comenta Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos

Segundo a especialista, esse fator, somado ao tarifaço e aos cortes do Fed, faz com que a tendência seja de que o dólar continue fraco nos próximos meses, pelo menos até o final desse ano.

Antonio Patrus, Diretor da Bossa Invest, analisa que no campo fiscal, a projeção de déficit é superior a US$ 1,7 trilhão em 2025. Ou seja, a dívida em expansão reacende discussões sobre os chamados twin deficits – cenário que reforça a busca de proteção em ativos como o ouro, que recentemente renovou máximas históricas.

“Para os próximos meses, a trajetória da moeda dependerá do ritmo de cortes do Fed, da evolução da inflação e da resposta de outras economias, além de fatores externos como estímulos na China e na Europa e o comportamento das commodities. Em cenários de dólar menos forte e juros mais baixos, o investidor global tende a se abrir a mais risco, criando espaço para fluxos seletivos em segmentos como o venture capital, voltados a teses sólidas e ganhos de produtividade”, afirma o analista.

+ O dólar pode voltar a R$ 2? Entenda a desvalorização da moeda e as perspectivas

Shutdown

Para além da preocupação com as contas públicas, um novo fator foi adicionado em toda a equação: o shutdown, termo para descrever o fenômeno de quando o governo dos EUA fica sem autorização do Congresso para gastar dinheiro e precisa parar serviços não essenciais.

Na prática, órgãos públicos fecham e servidores ficam sem trabalhar (ou sem receber) até o impasse político ser resolvido.

Sung, da Suno, observa que esse impasse em torno do orçamento levou o governo norte-americano a entrar no seu primeiro shutdown em quase sete anos.

“A paralisação pode afetar cerca de 750 mil funcionários federais e interrompe a operação de diversos serviços considerados ‘não essenciais’, além de atrasar a divulgação de dados econômicos importantes, como o Payroll e o CPI. Historicamente, shutdowns curtos costumam ter impacto limitado nos mercados, gerando apenas episódios pontuais de volatilidade. Do ponto de vista econômico, provocam um choque negativo de curto prazo, que tende a ser parcialmente compensado após a normalização das atividades do governo”, explica.

Todavia, caso esse impasse se estenda, essa situação pode ampliar as incertezas sobre a economia norte-americana e, sobretudo, atrasar a divulgação de indicadores cruciais, incluindo dados do mercado de trabalho, que hoje são a principal referência para as próximas decisões de política monetária do Fed.

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