Ouro ainda pode ser considerado reserva de valor? Entenda
Diferentemente de moedas e ativos financeiros, o ouro mantém sua estabilidade, especialmente em momentos de crise
Por Victor Rabelo
O ouro é amplamente reconhecido como um investimento sólido para reserva de valor, devido à sua capacidade de preservar riqueza ao longo do tempo. Diferentemente de moedas e ativos financeiros, que podem ser impactados por inflação e flutuações de mercado, o ouro mantém sua estabilidade, especialmente em momentos de crise.
Neste cenário de disputas comerciais, guerras e enfraquecimento do dólar, uma dúvida que surge é se o ouro ainda pode ser considerado essa reserva. Para Alex Nery, professor da FIA Business School, o metal possui as características de uma reserva de valor e pode ser considerado “porto seguro em momentos de incerteza econômica”.
O professor explica que “reserva de valor pode ser entendido como a propriedade de qualquer ativo ou bem que mantém seu poder de compra ao longo do tempo. Isso tem a função de preservar a riqueza dos indivíduos para que eles possam usá-la no futuro sem sofrer perdas significativas em decorrência da inflação, depreciação ou outras variáveis que provoquem a desvalorização do patrimônio”.
Maior procura pelo ouro
Uma demonstração de que o ouro segue em alta é que, com a queda do dólar, tem aumentado a procura pelo metal. O DYX, indicador que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de diversas moedas no mundo, tem queda de cerca de 10% neste ano.
No sentido contrário, o ouro passa por um movimento de valorização nos últimos meses e chegou a atingir o recorde de US$ 3.500 por onça-troy (cerca de 32 gramas) em abril deste ano.
Além disso, levantamento da plataforma DataWise +, uma solução da B3 e Neoway, mostra que o volume diário médio negociado dos ETFs de Ouro saltou 141% no período, de R$ 12 milhões em 2024 para R$ 29 milhões em 2025.
Com a alta demanda por produtos atrelados ao ouro, a bolsa de valores ainda voltou a negociar em julho o contrato Futuro de Ouro (ticker: GLD).
“O ouro é cotado em dólar. Quando a moeda americana perde força frente a outras divisas, o ouro tende a se valorizar, pois fica mais barato para investidores estrangeiros. Outro fator que impulsiona o metal é a inflação global mais persistente”, comenta Anderson Kuntzler, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos.
Vale destacar que o ouro se comporta de forma diferente quando há desvalorização do dólar para o real e quando essa desvalorização acontece perante outras moedas importantes. “Se a desvalorização do dólar for em relação ao real, isso significa que, para nós brasileiros, o ouro (que é cotado em dólar) fica relativamente mais barato. Nesse caso, alguns investidores capitalizados em reais podem aproveitar a oportunidade para comprar ouro a preços mais baixos, mas o incentivo não vem de ‘proteção’ e sim da oportunidade de compra”, afirma Nery.
“No contexto global, ou seja, se estivermos considerando a desvalorização do dólar frente às demais moedas, o efeito costuma ser o oposto. Quando o dólar perde força no mundo de maneira generalizada (geralmente, em decorrência de incertezas econômicas globais), o ouro tende a se valorizar, porque é visto como alternativa de proteção”, complementa.
Bitcoin pode ser o “ouro digital”?
Além do ouro, outro ativo que tem se valorizado é o Bitcoin. A criptomoeda mais negociada do mundo tem ganhado cada vez mais importância no mercado financeiro e, apesar de ser considerada um investimento de risco, segue crescendo mesmo em períodos de volatilidade e vem sendo chamada de “ouro digital”.
O professor Nery, porém, argumenta que o criptoativo ainda não pode ser considerado um investimento de proteção. “A ideia de chamar o Bitcoin de ‘ouro digital’ está mais associada ao seu potencial de se tornar um ativo muito valioso do que à sua capacidade de funcionar como ‘porto seguro’ em momentos de incerteza econômica global. Por enquanto, o Bitcoin tem se mostrado altamente volátil e sensível ao cenário econômico internacional”, conclui.
Como investir em ouro
Para investir em ouro, é necessário estar ciente de seu perfil de risco e entender quais são as formas e as características de cada modalidade de investimento. Entre as opções disponíveis estão a compra do ouro físico, os ETFs e os contratos futuros.
Ouro físico
A compra do ouro físico é uma forma mais tradicional e de fácil compreensão, mas demanda preocupações. “Ouro físico oferece a posse direta do metal, mas tem menor liquidez. Exige cuidados com armazenamento, segurança, além de expor o investidor a riscos de perda, roubo ou deterioração”, comenta Kuntzler.
ETFs de ouro
ETFs (Exchange Traded Fund) são fundos negociados em bolsa que acompanham o desempenho de um índice específico, como o Ibovespa B3 ou um índice que mede, por exemplo, a cotação do ouro no mercado internacional. Nesse caso, o investidor adquire um ativo que segue o valor do ouro, sem a necessidade armazenar o metal em um ambiente físico.
Futuro de ouro
Um contrato futuro é um acordo entre duas partes para comprar ou vender um ativo a um preço predeterminado em uma data futura. Esses contratos são negociados em bolsas, permitindo maior liquidez e transparência, e usados para proteção contra a volatilidade de preços (hedge) ou especulação.
Em julho, a B3, a bolsa de valores do Brasil, lançou o Contrato Futuro de Ouro (ticker: GLD). O derivativo foi desenhado para facilitar o acesso dos investidores ao mercado de ouro em um ambiente de bolsa, regulado, seguro, transparente, com liquidação exclusivamente financeira e referência no preço internacional do metal.
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