O que acontece com o bitcoin se o Fed cortar juros?
Expectativa de decisão do Fed na próxima quarta-feira já movimenta o mercado cripto, que reage de forma mais intensa à liquidez global
Na próxima quarta-feira, 17 de setembro, o Federal Reserve (Fed) anuncia sua decisão de política monetária. A taxa de juros em dólar está atualmente no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano, e o mercado é unânime em precificar uma queda na taxa. O resultado importa não apenas para ações e títulos globais, mas também para o mercado de criptomoedas.
Mas o que o arrojado mercado cripto tem a ver com a relativamente tranquila renda fixa?
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Juros mais baixos e apetite a risco
A lógica é direta: juros menores tornam ativos de risco mais atraentes. “Quando os juros caem, os ativos de risco em geral se tornam mais atrativos. Isso porque o investidor tem menos retorno em aplicações seguras, como títulos do governo, e busca alternativas com maior potencial de valorização. Nesse ambiente, cresce o apetite por ativos como ações e criptomoedas”, explica Henry Oyama, diretor da Hashdex. Segundo ele, o corte também reduz o custo de capital e aumenta a liquidez nos mercados, fatores que tendem a sustentar preços mais altos.
Como e por que a taxa de juros dos EUA afeta os investimentos no mundo todo?
Theodoro Fleury, diretor de investimentos da QR Asset, reforça o ponto. “A perspectiva de redução de juros nos EUA diminui a atratividade dos ativos de renda fixa tradicionais e aumenta a liquidez disponível. Isso cria um ambiente em que investidores buscam ativos alternativos de maior retorno — e as criptomoedas, por seu perfil de alta sensibilidade à liquidez, acabam sendo beneficiadas.”
O que já está no preço das criptomoedas?
Parte desse movimento, no entanto, já foi antecipado. Fleury avalia que um corte de 25 pontos-base está amplamente precificado. O impacto maior viria de um corte mais ousado, de 0,5 ponto, considerado pouco provável. Já Oyama destaca que os preços de cripto têm reagido mais recentemente aos indicadores econômicos dos EUA, em especial aos números de inflação e emprego. “Se o Fed confirmar a redução e sinalizar cortes adicionais, ainda existe espaço para mais valorização. O impacto dependerá muito do tom do comunicado – quanto mais clara a disposição do Fed em conduzir um ciclo mais amplo, maior tende a ser o efeito positivo para os ativos de risco, incluindo cripto.”
E se o corte não vier?
A hipótese de não haver corte é vista como remota. “É muito pouco provável que não se tenha queda de juros de pelo menos 25bps na semana que vem”, afirma Fleury. “No entanto, hoje temos 3 cortes de 25 pontos-base até o fim do ano totalmente precificados na curva de juros americana”, lembra ele. Se o relatório divulgado junto com a decisão apontar para algo diferente disso, pode haver impacto significativo no preço de criptoativos, diz Fleury.
Mesmo assim, Oyama alerta que, caso a decisão frustre o mercado, pode haver correção de preços no curto prazo. “A frustração pode gerar volatilidade, mas não muda a tese estrutural de longo prazo dos criptoativos. Estruturalmente, esse mercado está muito mais dependente da adoção da tecnologia e do seu desenvolvimento do que do ciclo de juros em si.”
Além dos juros: novos motores para o mercado cripto
Para além do Fed, outros fatores vêm sustentando o mercado de cripto. Fleury cita a ascensão das chamadas Digital Assets Treasury Companies (DATCs), companhias que se estruturam para acumular ativos digitais em seus balanços. “Esse movimento começou com a MicroStrategy ainda em 2020, mas em 2025 ganhou outra ordem de grandeza”, diz. Além de bitcoin, essas empresas também têm alocado recursos em moedas como ethereum e solana.
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Oyama destaca ainda a adoção institucional da tecnologia – com a tokenização de ativos tradicionais – e os avanços regulatórios nos EUA a favor das criptomoedas. “Esse avanço regulatório nos EUA é particularmente importante porque abre espaço para maior participação de grandes players institucionais”, afirma.
Bitcoin perde espaço
Se até pouco tempo o bitcoin liderava os movimentos do setor, hoje o cenário está mais diversificado. “Nos últimos dois meses temos visto um movimento forte de queda na dominância do bitcoin. Isso significa que, no último rally, as demais criptomoedas têm subido bem mais que o bitcoin”, observa Fleury. Para Oyama, faz sentido: outras teses ligadas a cripto, mais próximas de tecnologia, são também mais sensíveis a mudanças na percepção de risco e liquidez, além de evoluções regulatórias.
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