Fundos de Investimento

FIDCs crescem 10% no ano e seguem atraindo investidores em ambiente de juros elevados

Os FIDCs foram responsáveis pela segunda maior captação líquida entre os fundos

O patrimônio líquido dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) cresceu 10% nos seis primeiros meses de 2025, alcançando R$ 687 bilhões, segundo dados da Anbima. A classe foi responsável por uma captação líquida de R$ 20,7 bilhões no período – a segunda maior entre os fundos, atrás apenas da renda fixa tradicional.

Para o investidor de varejo, os FIDCs são uma novidade. Até outubro de 2023, esse instrumento só podia ser usado por investidores qualificados ou profissionais. De 2023 para cá, quase mil novos fundos foram criados. Hoje, há um total de 3.349 FIDCs no mercado, segundo os dados mais recentes da Anbima.

Para além da mudança regulatória, os FIDCs também surfam o cenário macroeconômico. Com a Selic em 15% ao ano, investidores reduziram suas posições na renda variável, e passaram a buscar novos instrumentos para diversificar seus aportes na renda fixa.

Na avaliação de Eduardo Solamone, diretor de Relações com Investidores da Sol Agora, há dois fatores que explicam esse movimento. “Dois pilares que fundamentaram o crescimento dos FIDCs nos últimos 6 a 12 meses foram a ausência de come-cotas, que naturalmente atrai investidores institucionais e pessoa física, e o destaque que os ativos de crédito têm ganhado, com a migração de investimentos em fundos multimercados e de ações”, afirma.

João de Morais Junior, economista e professor de finanças da Saint Paul e da FIA, aponta que o crescimento também tem relação com a postura mais cautelosa dos bancos. “Devido à alta da Selic, os bancos reduziram seu apetite a risco de crédito, seja reduzindo limites dos seus clientes, algumas vezes até ‘cortando’ o limite. Isso faz com que as empresas tomadoras de recursos busquem alternativas”, explica João.

“Nesse sentido os FIDCs acabam se tornando uma boa opção para tomada de crédito, com custo às vezes inferior aos dos bancos tradicionais”, diz. Ou seja: além da maior procura dos investidores, os emissores têm mais apetite em ofertar papéis aos FIDCs atualmente. Segundo ele, o aumento do número de gestoras também contribui para a abertura de novos fundos.

A perspectiva para o segundo semestre segue otimista, apesar de alguns desafios. “Com esse histórico recente, há expectativa de captação líquida de ao menos R$ 50 bilhões nos próximos 12 meses. A perspectiva permanece bastante positiva, a despeito de algumas novidades não tão positivas”, diz Solamone, em referência à volta da cobrança de IOF sobre os FIDCs. “Os FIDCs voltaram a ser tributados pelo IOF, mas imaginamos que o impacto em alguma medida é marginal”, completa.

O que são os FIDCs?

Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios são veículos que compram carteiras de recebíveis, como duplicatas, parcelas de empréstimos, aluguéis ou faturas de cartão de crédito. Na prática, funcionam como uma forma de antecipação de receita para empresas – que conseguem transformar seus recebíveis em capital imediato – e como uma alternativa de diversificação e geração de renda para quem investe.

A classe ganhou notoriedade nos últimos anos com o avanço das fintechs e plataformas digitais que usam estruturas de FIDCs para financiar suas operações. Mas os fundos também estão presentes em grandes operações corporativas e vêm sendo cada vez mais usados por empresas como alternativa ao crédito bancário.

Recentemente, os FIDCs passaram a estar disponíveis também para o investidor pessoa física em geral, mas ainda há espaço para esse mercado avançar. “Muitos FIDCs ainda são proprietários, ou seja, os próprios investidores são os ‘donos’ dos fundos, e há pouco espaço real para captação de terceiros”, diz João de Morais Junior.

Riscos: entenda a diferença entre cota sênior, mezanino e júnior

Uma das características dos FIDCs é a possibilidade de estruturação em diferentes classes de cotas, o que permite distribuir o risco entre os investidores. As cotas júnior são as primeiras a absorver eventuais perdas da carteira. São, portanto, as mais arriscadas, mas também oferecem os maiores retornos potenciais. Acima delas estão as cotas mezanino, com risco intermediário. Por fim, as cotas sênior têm prioridade no recebimento dos pagamentos e são consideradas mais seguras. Os investidores pessoa física só podem adquirir as cotas sênior.

“A despeito da taxa de juros nominal estar em 15%, o que importa são os spreads, que é o quanto a mais as emissões pagam, o prêmio de risco. Quando a gente transpõe a conversa para o contexto macro, há preocupação na qualidade de crédito dos tomadores. Por outro lado, a beleza dos FIDCs é que você consegue oferecer para diferentes investidores diferentes classes de cota. A pessoa física só pode ser investidora de FIDC nas classes seniores, o que traz um colchão de proteção”, explica Solamone.

Apesar dessa camada de proteção, é fundamental que o investidor leia o regulamento do fundo com atenção. “O documento pode prever, por exemplo, a realização de operações com empresas em recuperação judicial, o que agrava o risco de crédito. Também pode permitir que os cotistas tenham que arcar com prejuízos em caso de inadimplência”, alerta João de Morais Junior. Segundo ele, outro ponto importante é a dificuldade de acesso à composição da carteira. “Nem sempre é fácil saber a concentração por cedente ou sacado, o que pode elevar o risco da operação. É preciso avaliar se a remuneração oferecida compensa esse risco adicional.”

Além disso, os spreads nos FIDCs também vêm sendo pressionados pela concorrência. “As empresas tomadoras de crédito têm mais opções e não conseguem repassar custos elevados aos seus próprios clientes, exceto em setores específicos. Isso força os FIDCs a reduzir spreads para competir”, afirma João.

A combinação de estrutura flexível, isenção de come-cotas e retornos ainda superiores aos da renda fixa tradicional segue atraindo o investidor, mas os especialistas alertam: é preciso olhar para além da taxa e entender a estrutura e os riscos do produto antes de investir.

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