O que são fundos quantitativos, quais os riscos e como investir?
Fundos automatizam ordens de compra e venda com base em teses de investimentos
Você já sabe que a tecnologia está mexendo com os mercados – basta observar a valorização das big techs neste ano. A aposta de muitos é de que a inteligência artificial irá revolucionar os mais diversos setores de nossas vidas, e que as empresas por trás dela irão embolsar os lucros desse crescimento. Não é novidade, porém, o uso da tecnologia e dos algoritmos para melhorar o desempenho dos investimentos. Essa é a estratégia dos fundos quantitativos, ou fundos quant. Eles automatizam as decisões de investimento com base em padrões e criam programas que fazem a gestão de ordens de compra e venda dos ativos do fundo automaticamente.
No Brasil, os fundos quantitativos representam menos de 1% da indústria de gestão de ativos, conta Sergio Rhein Schirato, sócio-fundador da Daemon Investments. A situação é muito diferente nos Estados Unidos, onde cerca de 40% dos fundos usam esses processos.
Ainda há, no entanto, muitas dúvidas sobre como funcionam esses fundos. A Anbima não tem uma classificação específica para os fundos quantitativos. Aqui, você encontra uma lista dos maiores, segundo a Quantum Finance (dados de janeiro de 2024). Entenda mais sobre eles com o Bora Investir.
Como funcionam os fundos quantitativos?
Em primeiro lugar, vale dizer que os ativos e os mercados em que os quantitativos operam são os mesmos do restante da indústria de fundos. “Um fundo quantitativo nada mais é que um fundo de investimento como qualquer outro, mas cujas decisões de investimento são baseadas em modelos matemáticos”, diz Schirato, da Daemon Investments.
Apesar de a ideia de ter robôs e algoritmos na gestão dos fundos, Pedro Simonetti, sócio da Giant, defende que a proposta é mais simples do que parece. “As pessoas têm uma ideia de que é um negócio mega difícil e complexo, pensam em algoritmo, robô. O que, se você parar para pensar, não quer dizer nada. Na minha concepção, a ideia de quantitativo é muito mais simples”, afirma. Segundo ele, a concepção de um fundo quantitativo é basicamente usar a tecnologia para potencializar a capacidade de ganhar dinheiro no mercado.
“O mercado financeiro é uma grande competição. É quase como se fosse uma corrida de F1. Você tem vários carros, várias equipes competindo para tentar ganhar dinheiro no mercado. O piloto numa corrida de F1 é uma figura mega importante, mas se você pegar o melhor piloto da história, o Ayrton Senna, e colocar ele para competir usando o carro que ele usava na época contra o último piloto da Fórmula 1 de hoje usando o carro atual, o Ayrton Senna não tem a menor chance”, diz.
Na gestão de capital, isso se traduz no uso da tecnologia para acelerar os processos ou a análise de dados. “Vou usar o poder computacional para processar um volume de informação que uma pessoa de cabeça não conseguiria fazer. Ou vou automatizar a execução de ordens para conseguir reagir mais rápido às coisas que acontecem no mercado do que um trader humano”, explica Simonetti.
O gestor faz uma comparação simples com um gestor (humano) de um fundo multimercado macro: “é um cara que está no mercado há 30 anos e usa toda essa experiência para bolar uma tese de investimento, como a de que um cenário de juros baixos, inflação controlada e moeda controlada é bom para bolsa. Então, toda vez que esse padrão começa a acontecer no mercado, ele vai investir. A gente pode ter exatamente a mesma ideia”, diz. “Mas nossa estratégia é usar todas as ferramentas disponíveis”.
E se, em vez de usar os 30 anos de experiência, que é muito tempo, eu usar o histórico de mais de 100 anos? “Se estatisticamente esse padrão se repete, isso é um padrão econômico, que posso testar em outros lugares do mundo. Então, eu coloco isso no papel, eu delego a execução”, explica.
De onde saem as teses de investimento de um fundo quant?
É um misto entre os times de gestão e os dados.
Na Daemon, uma grande fonte de ideias é a pesquisa acadêmica, conta Schirato. “Muitos desses modelos ou fatores de risco são bem documentados, existe uma ampla literatura sobre isso, com artigos desde a década de 70”, diz.
“Então, olhamos para esses papers publicados por outros pesquisadores, que algumas vezes são interessantes, outas não fazem sentido nenhum. Mas a gente não precisa reinventar a roda, tem muito conhecimento disponível no mercado”.
Atualmente, o fundo quantitativo da Daemon tem 22 modelos rodando simultaneamente e procurando oportunidades. Schirato conta, entretanto, que nenhum deles é baseado em dados como previsão de crescimento ou de inflação. “Entendemos que os modelos preditivos macroeconômicos têm uma acurácia muito baixa. Por isso, não usamos modelos preditivos, não fazemos previsão de preço. Nossos modelos são probabilísticos: tentam entender se o ‘próximo passo’ para o preço de um ativo é para cima ou para baixo”.
Já na Giant, conta Simonetti, o processo começa com uma base de dados, que pode ser o histórico de preços de uma ação, o volume de negociação, balanços de empresas, dados macroeconômicos, ou os chamados dados alternativos, como fluxo de pessoas em um site de e-commerce, ou dados de geolocalização de celulares em aeroportos.
A partir daí, um gestor pensa em como usar esses dados para buscar padrões, por exemplo, “quando os juros caem, as bolsas sobem”. Ou, usando os dados alternativos, “quando o fluxo de pessoas num site de ecommerce aumenta, as vendas da empresa crescem”.
Então, ele cria uma hipótese de como ganhar dinheiro com esse padrão, como “Se a Selic cair, comprar Ibovespa”. Essa tese de investimento passa por testes dentro da gestora, e se for aprovada, passa para a próxima fase, de programação, que é quando as estratégias são automatizadas.
A execução da estratégia é feita por robôs?
Sim. Uma vez que é aprovada e validada uma tese de investimento de um gestor, começa o trabalho dos programadores, diz Simonetti. O trabalho desses profissionais é transformar aquela tese criada pelo gestor em um programa. “A tese é uma equação que explica o mercado. O programador vai transformar essa equação num programa de computador e vai colocar como se fosse um radar. O programa vai ficar olhando para o mercado e toda vez que aquele padrão começar a acontecer, seja no Brasil ou em algum lugar do mundo, ele executa a ordem de compra ou venda do ativo”.
Fundos quantitativos só fazem análises técnicas?
Não necessariamente. Os fundos quantitativos podem usar dados fundamentalistas, como os balanços de empresas abertas, para construir e automatizar diferentes teses. “As estratégias podem ser as mais variadas. Posso ter uma estratégia fundamentalista em que olho para o balanço das empresas e encontro indícios de que uma ação está barata”, exemplifica Simonetti.
Como investir em um fundo quant e quais os riscos?
Os riscos são os mesmos de investir em outros fundos de investimento. O principal é a desvalorização dos ativos da carteira. Além disso, não há cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Na hora de investir, confira se o fundo em questão está enquadrado no seu perfil de investidor, e atente-se ao prazo do investimento. Alguns fundos podem ter prazos de resgate mais longos, então é preciso garantir que você não precisará daqueles valores no curto prazo.
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