Investir melhor
Carol Stange: O que o banco não te contou
Os bastidores que explicam por que seu dinheiro rende menos do que deveria
Carol Stange
Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.
Se o seu dinheiro está todo no banco, mas você nunca entendeu exatamente como ele ganha com isso, este texto é para você. Vejo, todos os dias, pessoas inteligentes, organizadas, que fazem tudo “certo”: aplicam no que o gerente recomenda, acompanham o extrato, confiam no selo da instituição. Mesmo assim, o resultado decepciona – rendimentos baixos, taxas escondidas, produtos que parecem seguros, mas travam o patrimônio.
Não é falta de disciplina. É falta de transparência.
E entender como esse jogo funciona é o primeiro passo para parar de jogar contra si mesmo.
O primeiro segredo: o banco não é seu planejador – é um vendedor
O gerente é, sem dúvida, uma das figuras mais confiáveis do sistema financeiro. Ele te chama pelo nome, oferece café, conhece sua história. Mas o papel dele não é planejar o seu futuro — é bater metas.
Metas de captação, de venda, de produtos específicos.
Quando um banco quer aumentar o número de cotistas em determinado fundo, é natural que esse produto ganhe destaque nas recomendações.
Isso não é trapaça, é modelo de negócio.
Mas, dentro dele, o foco se desloca do que é melhor para o cliente para o que é melhor para o resultado trimestral.
E é aí que entra o que eu mais vejo nas consultorias: pessoas com boas intenções, mas que constroem uma carteira em torno da prateleira do banco, não dos próprios objetivos.
O segundo segredo: os custos que você não vê
O investidor médio olha para o rendimento, mas raramente para o que sai da conta de forma silenciosa. Taxas de administração, performance, carregamento, custódia… pequenos percentuais que, somados, corroem anos de rentabilidade.
Um fundo com taxa de 2% ao ano pode parecer inofensivo, mas, ao longo do tempo, essa diferença se transforma num rombo. É o tipo de custo que o banco não precisa te esconder – ele só não precisa te explicar.
No meu trabalho, costumo mostrar que transparência não é sobre o produto, é sobre a relação. Um bom investimento é aquele em que você entende o que está pagando, o que está ganhando e o porquê de cada decisão.
O terceiro segredo: conforto demais custa caro
Há um tipo de tranquilidade perigosa no mundo financeiro: a de “deixar o banco resolver”. É compreensível – o tempo é curto, o tema é complexo e a promessa de conveniência soa tentadora.
Mas delegar sem entender é abrir mão do controle sobre o próprio patrimônio.
O resultado são carteiras engessadas, com produtos que não conversam entre si e pouca liquidez. O investidor segue trabalhando, acreditando que falta aporte, quando o que falta é estratégia – e alguém que não ganhe comissão para montar essa estratégia.
O que muda quando você entende o jogo
Não se trata de abandonar o banco – ele é uma ferramenta importante do sistema.
Mas a diferença entre quem cresce e quem estagna está em assumir o comando das decisões.
Usar o banco para o que ele é bom – liquidez, crédito, conveniência – e buscar fora dele o que exige visão independente: rentabilidade, diversificação e planejamento de longo prazo.
Fazer isso não significa desconfiar de tudo. Significa confiar com consciência. E consciência, no mundo financeiro, vale mais do que qualquer taxa de retorno.
O dinheiro que você deixa de ganhar por desconhecimento é o mais caro de todos.
E, na maioria das vezes, ele está ali – parado, silencioso – dentro de um produto “recomendado pelo seu banco”. Por isso, antes de buscar o investimento da moda, busque entender quem realmente lucra com a sua aplicação.
Pode apostar: a resposta vai mudar a forma como você cuida do seu dinheiro daqui pra frente.
*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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