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Carol Stange: Quando diversificar vira desculpa para desorganização

A linha tênue entre proteger o patrimônio e perder o controle da própria carteira


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


Certa vez, um cliente me mandou uma planilha orgulhoso. Tinha de tudo: ações, fundos, ETFs, debêntures, cripto, dólar, CRIs, previdência privada.

No fim, ele perguntou:

– Carol, o que você acha da minha diversificação?

Olhei e respondi com cuidado:

– Você diversificou tão bem que perdeu o foco.

Ele riu. Mas era verdade.

Seu portfólio parecia uma feira de produtos financeiros – colorida, cheia de opções, mas sem coerência.

O mito da diversificação perfeita

Nos últimos anos, o termo “diversificar” virou mantra.

E, como todo mantra, quando repetido demais, perde o sentido.

Diversificar é essencial – mas só até o ponto em que você ainda entende o que está fazendo.

Quando a carteira começa a depender de planilhas e senhas esquecidas para ser compreendida, o que deveria trazer segurança passa a gerar ruído.

A proteção se transforma em dispersão.

O que ninguém te conta sobre a diversificação

Espalhar o dinheiro em muitos ativos não elimina o risco. Ele apenas muda de forma: sai do risco de concentração e entra no risco de confusão.

Vejo isso o tempo todo:

Investidores com dez produtos que fazem exatamente a mesma coisa, fundos que se sobrepõem, exposição duplicada ao mesmo setor – e a falsa sensação de que estão “protegidos”.

Diversificação não é quantidade. É complementaridade. É entender como cada ativo reage a cenários diferentes e qual papel cumpre dentro do todo.

Checklist rápido: sua carteira está diversificada ou desorganizada?

– Você sabe por que tem cada ativo da sua carteira?

– Consegue explicar em uma frase o papel de cada investimento (renda, proteção, crescimento)?

– Consegue revisar tudo o que tem sem abrir mais de três plataformas diferentes?

– Há produtos que você comprou só porque “estavam indo bem”?

– Existem ativos com funções repetidas, como: dois fundos iguais, mais de um ETF seguindo o mesmo índice, uma holding com participação majoritária única e a própria empresa que ela controla?

Se você respondeu “não” para as três primeiras ou “sim” para as duas últimas, talvez sua diversificação esteja mascarando uma desorganização.

Organizar é o novo diversificar

No fim, o que diferencia o investidor maduro do ansioso não é o número de ativos – é a clareza sobre por que cada um deles está ali.

A desorganização disfarçada de sofisticação é uma das maiores armadilhas do mercado atual. E o antídoto é simples: saber o que você tem, por que tem e quando pretende usar.

Riqueza não é acumular papéis, é construir coerência.

*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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