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O custo invisível da procrastinação financeira — e por que ele pesa ainda mais com os juros altos


Estela Borgheri, colunista do Bora Investir

Estela Borgheri

Planejadora Financeira e co-fundadora da empresa Vínea Gestão de Capital, Estela é formada em Administração de Empresas e pós-graduada em Business Administration pelo Insper. Possui a certificação CFP® e é Consultora CVM


Você já parou para calcular quanto perdeu, ou quanto deixou de ganhar, por adiar uma decisão financeira? À primeira vista, deixar para depois parece inofensivo — afinal, o dinheiro continua lá, aparentemente nada está acontecendo. Mas quando somamos os efeitos dessa inércia com um cenário de juros elevados, o “deixar para depois” se transforma em um dos maiores riscos silenciosos para o patrimônio.

Na semana passada, o Banco Central elevou a Taxa Selic, nossa taxa de juros básica, para 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. Mas não é de hoje que a taxa Selic está muito alta. Veja abaixo o gráfico da evolução:

Fonte: Banco Central

Comparada a outros países essa taxa é alta. Veja que no ranking abaixo. aparece em 4º lugar, com uma taxa bem maior que outros países emergentes como México e África do Sul:

Fonte: Trading Economics

Hoje, com a taxa Selic ainda em dois dígitos, cada real parado deixando de aproveitar uma estratégia bem desenhada representa um potencial de rendimento desperdiçado. E isso vale para decisões grandes ou pequenas: desde a escolha de um investimento até a estruturação de um planejamento sucessório.

Vamos a um exemplo simples: deixar R$ 50 mil parados na conta-corrente, sem remuneração, por um ano, em um cenário de taxa Selic a 10% ao ano (média da Selic meta dos últimos anos), representa um “custo de oportunidade” de cerca de R$ 5 mil, ou seja, você deixa de ganhar esse valor. Isso sem considerar a inflação que corrói o seu poder de compra. Em outras palavras, você “pagou” R$ 5 mil pelo custo de não agir.

Mas o cenário fica ainda pior quando consideramos uma taxa de juros de 15% a.a, ja que você deixa de ganhar R$7.500 em um ano – 50% a mais que o cenário anterior, perdidos!  

E para apimentar essa conversa: essa diferença vai ficando cada vez maior quando você coloca o fator tempo na conta: se considerarmos 5 anos no cenário acima, você deixa de ganhar em torno de R$ 30.500 a uma taxa de juros de 10% a.a. e R$ 50.500 com a taxa a 15%. Com esse dinheiro você poderia fazer uma viagem para as Maldivas (casal + dois filhos), se hospedando em um resort 5 estrelas all inclusive por 5 dias. Nada mal né?

Aí você vai me dizer: “Ah mas essa taxa não vai ficar assim por 20 anos”. Provavelmente não mesmo, é a ordem “natural” que ela não se mantenha nesse patamar – ou pelo menos é o que esperamos. A economia é cíclica e esse nível de taxa é muito prejudicial para as empresas, para a produtividade do país, geração de negócios e desenvolvimento econômico. Mas todos temos uma oportunidade agora. Veja abaixo que os títulos do Tesouro Prefixado estão com taxas de mais de 13% ao ano, que já é bem maior que a média da taxa Selic nos últimos anos como comentei acima. Os títulos IPCA+ estão pagando prêmios acima da 7%, que são aqueles investimentos que te protegem da inflação. Esses títulos garantem as taxas negociadas no momento da compra caso você deixe o dinheiro investido até a data de vencimento.

Fonte: Tesouro Direto – 25/06/2025

Procrastinar decisões financeiras é mais comum do que parece. Muitas vezes, é uma escolha inconsciente: adiar a troca de um fundo ruim, não rever a carteira de investimentos, deixar a previdência antiga onde está, não planejar a aposentadoria ou postergar conversas familiares sobre herança e sucessão.

O problema é que o custo dessas decisões “adiadas” não aparece na fatura do cartão e nem como um saldo negativo na sua conta corrente. Em outras palavras, não te machuca, não sangra, como uma ferida aberta. Esse custo se acumula em forma de oportunidades perdidas, perdas silenciosas e, principalmente, juros compostos não aproveitados.

+ Quanto perdeu quem deixou R$ 100 mil na poupança nos últimos 12 meses?

Em ciclos de juros baixos, a inércia até pode parecer menos custosa. Mas quando estamos em um ambiente de juros elevados — como o atual —, adiar decisões significa deixar de ganhar mais. Produtos conservadores oferecem hoje rentabilidades bastante atrativas, especialmente quando comparadas a períodos anteriores. E isso amplia ainda mais o custo de oportunidades perdidas.

Por que procrastinamos quando o assunto é dinheiro?

A procrastinação financeira é, muitas vezes, reflexo de mecanismos emocionais e comportamentais. Entre eles, o viés do status quo (preferência por manter tudo como está), a aversão à perda (medo de fazer uma escolha errada) e a paralisia diante de excesso de opções ou informações. Se você nunca deixou dinheiro parado na conta corrente ou na Poupança por não saber o que fazer ou onde investir, certamente conhece alguém que já o fez.

Curiosamente, quanto maior o patrimônio ou mais complexa a decisão, maior pode ser essa paralisia. Há também um componente cultural: não fomos educados a lidar com dinheiro de forma ativa e estratégica. Por isso, decisões que envolvem patrimônio, futuro e legado acabam sendo empurradas para depois.

A boa notícia é que sair da inércia é mais simples do que parece. O primeiro passo é reconhecer que não fazer nada também é uma decisão — e que ela tem consequência financeira direta.

As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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