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Tarifaço de Trump, guerras e cenário macro instável no mundo – como agir como investidor nesse momento?


Estela Borgheri, colunista do Bora Investir

Estela Borgheri

Planejadora Financeira e co-fundadora da empresa Vínea Gestão de Capital, Estela é formada em Administração de Empresas e pós-graduada em Business Administration pelo Insper. Possui a certificação CFP® e é Consultora CVM


Foi em 02 de abril que o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma série de tarifas de importação sobre produtos de diversos países, incluindo o Brasil. Um dia que ele nomeou como Liberation day (teria ele esperado passar 01 de abril para não ser desacreditado? – talvez). Essas tarifas foram apresentadas como uma forma de proteger a indústria americana e reequilibrar a balança comercial (que é o resultado das Exportações – Importações de um país).

Até então, não havia nenhuma novidade nesse anúncio: as tarifas eram comentadas pelo então candidato à Presidência desde a sua campanha eleitoral no ano passado, com promessas de reduzir a dívida nacional e reequilibrar o comércio global.

O que não se esperava era a forma como foram calculadas as tarifas para cada país (e sua intensidade), com um cálculo que para muitos analistas de mercado não fez sentido: simplificando a explicação, ele cobra de outros países o que ele chama de “desequilíbrio comercial”, ou seja, é um cálculo que considera o déficit dos EUA com exportações – importações de outros países, depois divide esse resultado por dois.

O impacto do “tarifaço” anunciado por Trump, na economia mundial foi enorme em diversos âmbitos: o S&P 500 caiu 4,84%, registrando seu pior dia desde junho de 2020 (na pandemia do COVID-19); o Nasdaq encerrou março com a maior queda mensal desde 2022; o mercado passou a atribuir uma chance mais elevada de uma recessão nos EUA.

Com tudo isso, o índice de volatilidade VIX – conhecido como “termômetro do medo” em Wall Street, saltava 38% com os temores de uma recessão e a retaliação da China (você sabia que existe um índice do medo nos mercados?) .

Fonte: Google Finanças

Fonte: Google Finanças

E por que o mercado se apavorou tanto?

Tudo ficou muito incerto – e ninguém gosta de incertezas.

Um cenário ruim ou bom, é um cenário. Você pode tomar decisões, fazer projeções, definir metas, enfim, você define como lidar com o cenário e monta uma estratégia – seja no papel de decisor no seu trabalho ou na sua própria vida.

Mas um cenário totalmente incerto te deixa de mãos atadas sem saber para onde ir. Começou-se a ventilar a ideia de que os EUA podem não ser mais o porto seguro do mundo, e que o dólar pode deixar de ser a moeda mais forte do mundo.

Junta-se a isso as guerras que estão acontecendo em paralelo (Rússia x Ucrânia e Israel x Palestina). Com tudo isso, o cenário do caos apocalíptico se instaurou na cabeça dos investidores.

Nessa hora a psicologia do investimento é fundamental. Nós (seres humanos) temos memória curta e a emoção do que estamos vivendo no momento presente é sempre mais intensa do que a que vivemos no passado. Nesses momentos nos tornamos irracionais.

Então vamos refrescar nossas memórias:

Crise de 1929A Grande Depressão: foi uma das maiores crises econômicas da história. Ela começou nos EUA com o crash da Bolsa de Valores de Nova York e se espalhou pelo mundo. Foi causada por uma combinação de fatores, incluindo a superprodução, a especulação no mercado de ações e a falta de regulamentação financeira. Os indicadores falam por si: o resultado foi uma queda significativa nos mercados de ações – o índice Dow Jones perdeu mais de 89% do seu valor do pico ao fundo do poço, o PIB nominal dos Estados Unidos caiu aproximadamente 50%, o desemprego disparou e alcançou 27% (era 4% antes da crise) e as importações caíram 70%.

Ataques de 11 de setembro de 2001: muitos de vocês devem lembrar exatamente o que estavam fazendo e onde estavam no momento dos ataques terroristas às Torres Gêmeas em Nova York. Eles foram realizados pela organização terrorista Al-Qaeda, motivados por razões políticas e ideológicas. Os mercados só voltaram a operar quase uma semana depois dos ataques. Foi a terceira vez na história que as bolsas de Nova York ficaram fechadas por um período prolongado – a primeira foi no início da Primeira Guerra Mundial, e a segunda durante o período da Grande Depressão que seguiu o crash de 1929 (que descrevi acima).

E posso citar outras: crise do Petróleo de 1973 (causou um aumento de cerca de 271% no preço do petróleo em não mais que um ano), Crise Financeira de 2008 (lembram da bolha imobiliária que começou nos EUA e se espalhou pelo mundo?); COVID-19 (a pandemia que afetou não só a economia global, levando a uma recessão econômica, como também afetou diretamente a vida de todos, impondo mudanças que permanecem até hoje no nosso modo de trabalhar e viver).

O fato é que o mercado é cíclico. As crises vêm e vão. Posso apostar que os investidores tiveram medo de “não sobreviver” a todas essas que descrevi, assim como muitos de nós podemos estar sentindo hoje.

É fundamental ter uma visão de longo prazo e não se deixar levar pelo pânico ou pela euforia. Até porque uma carteira de investimentos estruturada tem componentes que se valorizam em momentos de crise, como o Ouro por exemplo.  Eles servem para “amortecer” a queda. Desde 1970, houve 7 crises nos EUA e o dólar foi a moeda que mais se valorizou. Mesmo na recessão de 2008, veja que as ações brasileiras caíram 49,6% enquanto o dólar se valorizava em 41,8%.

Muitas e muitas crises já aconteceram ao logo do último século. E a não ser que o mundo acabe mesmo, seguiremos… investindo, trabalhando, vivendo.

As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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