Investir melhor

Seu dinheiro precisa de uma boa mãe

Investir desde cedo tem se tornado uma prática recorrente. Foto: Adobe Stock
Filhos saem caro, mas é possível amenizar o impacto financeiro de se divertir com os pequenos. Foto: Adobe Stock

Francine Mendes

@francinemendes

Francine Mendes Gregori é Fundadora e CEO da FemFintech ELAS QUE LUCREM (EQL). Economista formada pela UFSC e especialista em educação financeira para mulheres, mestre em Psicanálise do Consumo pela Universidad Kennedy, Presidente do comitê de Insurtech da Abranet e autora do livro ‘Mulheres que Lucram’, o 4o livro mais vendido de finanças do Brasil.


Como anda sua relação com seu dinheiro? Suas prioridades privadas e gastos pessoais refletem na sua conta bancária a serenidade de uma mulher com saúde emocional em dia? 

Precisamos falar sobre isso. 

Convido você a fazer um exercício comigo. Antes, pense profundamente no verbo cuidar. Em essência, é tratar algo ou alguém de forma que garanta segurança, bem estar e aquietação do espírito. Às mulheres, atribuímos qualidades como melhores cuidadoras, motoristas e investidoras. Quem valoriza essas afirmações são as famílias, as seguradoras e os gestores de investimentos, respectivamente. 

Todos sabemos reconhecer um bom cuidado. A maioria das mães, notadamente, cuida mais de seus filhos que os pais. Esse julgamento pode ser calunioso e até mesmo leviano para alguns poucos casos, mas é o que reflete a sociedade em todos os cantos do planeta. 

Por outro lado, nem todas as mães são tão boas quanto gostariam aos olhos julgadores, incluindo seus próprios. E aí, cara leitora, eu lhe pergunto: o que é ser uma boa mãe? 

Pode parecer esquisito numa coluna de investimentos um questionamento sobre conduta materna, porém, mais adiante você entenderá onde quero chegar com esse pensamento absurdo.

Antes, navegaremos pelas características fundamentais de uma boa mãe. Será aquela permissiva? Disponível demais? Que coloca os desejos do filho à frente das responsabilidades? O indivíduo que tudo supre e ainda desfruta com culpa do banquete amargo do crivo alheio? Provavelmente, não. 

Na escola psicanalítica, a definição de uma boa mãe é simples: aquela que torna-se desnecessária ao longo do tempo. Para ser menos demandada, é necessário que uma mãe seja firme, amável, tenha valores honestos, delegue responsabilidades, aplique punição quando a subversão toma conta de certas atitudes, e por aí vai. 

Todas essas são virtudes que precedem a fama do bom cuidado. Vícios fazem mães insuficientes, virtudes fazem boas mães. Você é filha de uma boa mãe? Ela deu-lhe ferramentas para que você seja eficiente em si mesma em todas as áreas da vida? 

Retomemos agora o pensamento absurdo sob a ótica do cuidado praticado por sua mãe: como esse ser zeloso cuidou do dinheiro dela? Ela foi suficientemente boa para esse “filho” para que, hoje, a venda de seu tempo preserve sua própria saúde financeira? 

Nós imitamos nossas mães e fazemos o que elas faziam meramente porque faziam. Sabemos que muitas mães foram insuficientes para sua saúde financeira. Para quebrar esse ciclo vicioso contra sua conta bancária, eu sugiro 3 dicas para iluminar sua relação com seu dinheiro e fazer de você uma boa mãe para seu “filho”, usando seu “espírito materno” em seu favor.

Primeiro de tudo, crie um ambiente facilitador para cuidar das suas finanças. Não adianta ter várias contas bancárias, vários cartões de crédito, vários produtos financeiros. No início, no meio e durante todo processo, eleja no máximo três instituições financeiras. E apenas dois cartões de crédito. Pelo menos até você descobrir como se relacionar com seu “filho”. Uma conta deve ser para o dia a dia e a outra para investimentos. 

Segundo: assim como nas relações humanas, o dinheiro ama a cultura da criatividade. Por isso, condições ambientais de organização são importantes para florescer processos criativos. O tédio, as dificuldades, a raiva, as faxinas emocionais, no armário, nas relações, são experiências que precisam ser vividas para mudanças de posicionamento. Crie situações para resolver problemas com menos recursos. Experimente desenvolver novos hábitos e habilidades para preservar sua saúde financeira. A escassez é um terreno fértil à criatividade. Desafio: faça tudo que você faz com 20% menos recursos e invista o lucro dessa criatividade.

Por último, cuidado com o falso self, usar seu “filho” como ferramenta de um ego narcisista e instrumento para fazer prova social, tornará você infiel a si mesma. Crise de maturidade emocional torna uma mãe intelectualmente insegura e permissiva. Filhos não respeitam mães incoerentes. Seu filho dinheiro é um “ser” absolutamente carente a procura de uma boa mãe. De repente, por conta da rebeldia, vai para as mãos de quem luta por ele. 

O desafio aqui é investir em boas sessões de terapia financeira e consultorias sérias para desenvolver caminhos psíquicos até hoje adormecidos em você. Em tempo, podemos empreender nossas características femininas para administrar nosso próprio dinheiro e dos demais, com excelência. Portanto, grande parte do dinheiro do mundo poderia ser administrado por boas mães. Alguém duvida?