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Professor Mira: por que o Ibovespa tem batido recordes?
O otimismo na bolsa não é apenas sobre o que já está acontecendo, mas também sobre o que é esperado caso as condições econômicas sigam favoráveis
Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
Você que acompanha os movimentos da bolsa de valores certamente tem visto a sequência quase interminável de recordes que o Ibovespa vem quebrando. É como se, a cada pregão, o termômetro da boa expectativa para a economia brasileira subisse um pouco mais – e a vontade de investir em renda variável, logicamente, aumenta proporcionalmente.
Entretanto, recomendo cautela: não faz nenhum sentido você girar a carteira de forma aleatória em busca de ganhos imediatos só porque a bolsa está subindo. Aliás, esse é um grande equívoco. É essencial que você entenda o cenário, os motivos da sequência de altas e, somente depois disso, avalie o que faz sentido em sua estratégia de investimentos.
O que está por trás da sequência de altas do Ibovespa
A alta do Ibovespa em 2025 não é obra do acaso. Ela é resultado de uma combinação de fatores internos e externos, que juntos criam um ambiente favorável para os investimentos em ações brasileiras. Entre os fatores domésticos, o destaque vai para o controle da inflação, que no caso do IPCA de outubro ficou em apenas 0,09%, abaixo do esperado. Esse dado reforça a percepção de que o Banco Central pode começar em breve a reduzir a taxa Selic, o que historicamente estimula setores sensíveis aos juros, como o imobiliário e o varejo.
A última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) gerou no mercado um sentimento de maior confiança quanto à condução da política monetária, indicando que o patamar atual dos juros já é suficiente para controlar a inflação. Isso fortalece o ânimo dos investidores, que já começam a vislumbrar um ciclo de cortes da taxa Selic no próximo ano.
No cenário internacional pode-se dizer que a atmosfera também ajuda. A possibilidade de fim do impasse político nos Estados Unidos criou um clima mais propício para os fluxos de capital voltarem a mercados emergentes, como o nosso. A redução das taxas de juros nos EUA abre espaço para que o Brasil siga o mesmo caminho, tornando nossos ativos mais atraentes diante do acirramento das incertezas globais.
Setores que puxam a alta e os que ainda vão reagir
No momento, alguns setores específicos vêm puxando essa valorização, como os bancos. No caso desses, a taxa Selic elevada sustenta margens financeiras robustas e dividendos atrativos. Os setores de energia e siderurgia também estão entre os protagonistas, beneficiados pela recuperação da economia interna e demanda firme.
O varejo, apesar de estar apresentando valorização, apresenta uma dinâmica um pouco diferente. Parte do seu desempenho atual reflete a redução recente da inflação, que melhora a confiança do consumidor e ajuda a sustentar as vendas em patamares saudáveis. Contudo, o setor tende a ganhar força quando iniciar o ciclo de queda da Selic, pois isso barateia o crédito e aumenta a disposição das famílias para consumir.
A queda da Selic certamente irá se refletir de forma positiva também no setor imobiliário, que é altamente sensível aos juros e, portanto, ainda não apresenta números que refletem o otimismo dos últimos recordes da bolsa. Mas é claro que saber se posicionar desde já é o que permitirá capturar os ganhos futuros.
Sendo assim, o otimismo na bolsa não é apenas sobre o que já está acontecendo, mas também sobre o que é esperado caso as condições econômicas sigam favoráveis tal qual sinalizam as principais tendências.
O que esperar dos próximos meses na bolsa
Se o atual cenário se mantiver estável, com inflação controlada, cortes graduais na taxa de juros e um contexto externo favorável, a expectativa é que o Ibovespa siga sua trajetória positiva. Projeções do mercado indicam patamares ainda mais elevados para o Ibovespa ao longo de 2026, em torno de 165 mil a até 180 mil pontos, impulsionado principalmente pela retomada econômica de setores cíclicos.
Mas vale lembrar que essas projeções, ainda que otimistas, não são garantias. O mercado financeiro é volátil e reativo a acontecimentos inesperados. Por isso, é fundamental que você mantenha sua alocação alinhada ao seu perfil, priorizando diversificação e, pelo menos no tocante à parcela alocada em bolsa, pensando no longo prazo.
Riscos para manter no radar
Por mais que o ambiente traga motivos para celebrar, você sabe que renda variável é volátil e especialmente sensível às incertezas. Portanto, alguns fatores de risco merecem atenção. No campo fiscal, preocupações com o crescimento dos gastos públicos acima das regras do novo arcabouço podem gerar dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas. Isso, em algum momento, pode causar aumento nos prêmios de risco, alta dos juros futuros e saída de capital estrangeiro, pressionando negativamente o mercado.
No âmbito político, eventuais interferências em políticas públicas, mudanças abruptas em empresas estatais, ou instabilidade institucional, especialmente em um ano eleitoral, podem alimentar a volatilidade e provocar correções no índice.
Além disso, o cenário internacional também não está isento de riscos. Flutuações nos preços das commodities, tensões entre grandes potências econômicas e crises globais podem desencadear ajustes nos mercados emergentes, incluindo o Brasil.
Como o investidor deve agir
Esse ambiente de otimismo e riscos que caminham lado a lado reforça a importância do conhecimento, planejamento e gerenciamento de riscos. Sendo assim, acompanhar as notícias e, principalmente, munir-se de informações de especialistas, te ajuda a tomar decisões mais conscientes e evitar reações exageradas às oscilações do mercado, seja na alta ou na baixa.
Mais do que perseguir ganhos rápidos, o ideal é construir uma estratégia sólida, diversificada, e alinhada aos seus objetivos pessoais e perfil de risco. Essas são as premissas fundamentais na Comunidade Mira, a plataforma que criei para propiciar aos investidores o gerenciamento de metas e o contato contínuo com os analistas através do fórum e das lives.
Participar de iniciativas como a Comunidade, além de acompanhar notícias em fontes confiáveis como o painel de notícias aqui no Bora Investir é fundamental para quem deseja entender cenários, identificar oportunidades e evitar o comportamento de manada que muitas vezes pode levar a escolhas equivocadas.
*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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